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Os Sinais Cósmicos e sua Interpretação Histórica na Teologia Adventista: de 1755 a 1970

Por Cláudio S. Sampaio
 
Extraído do capítulo 2 do Trabalho de Conclusão do Curso de Bacharel em Teologia:

“Os Sinais Cósmicos de Mt 24:29e Ap 6:12-17 na Teologia Adventista Contemporânea: a dialética entre a exegese e os escritos de Ellen G. White”.
 
Seminário Adventista Latino-americano de Teologia, Cachoeira, BA, 2005.

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Obs: as notas foram suprimidas, pois equivalem a 1/3 do material e ocuparia muito espaço; contudo, o material original com as notas estão à disposição de interessados, bastando solicitar em comentário.

Neste artigo se analisará como se deu a formação da compreensão clássica da IASD em relação aos sinais de Mt 24:29 e Ap 6:12-17. Num primeiro momento se fará uma avaliação do desenvolvimento histórico dessa compreensão, no período anterior ao movimento Adventista Sabatista, desde o período de 1755 até o ano de 1844, avaliando o impacto dos eventos históricos como o Terremoto de Lisboa, o Dia Escuro e a Queda das Estrelas na interpretação desta profecia. Num segundo momento, será considerada a fase do Adventismo Sabatista, nos anos posteriores a 1844, estabelecendo quais as principais influências que contribuíram para a compreensão original da IASD em relação aos Sinais Cósmicos. Será dada especial atenção aos escritos de Uriah Smith e Ellen G. White como originadores do modelo interpretativo clássico, e por fim avaliará se houve alguma proposta alternativa nos anos posteriores à primeira geração da igreja, a saber, desde a morte de Ellen G. White, em 1915 até os anos de 1970.

2.1 OS SINAIS CÓSMICOS NO PERÍODO ANTERIOR AO MOVIMENTO ADVENTISTA SABATISTA: DE 1755 A 1844

Partindo do ano de 1755, quando se deu o terremoto de Lisboa, Froom apresenta vários teólogos influentes deste tempo que expuseram o impacto deste evento sobre o pensamento religioso da época bem como sua influência na compreensão de Mt 24:29 e Ap 6:12-17.

2.1.1 Os Sinais Cósmicos e a Teologia Historicista: de 1755 a 1840

Neste período histórico, nota-se que a teologia cristã foi marcada por uma ênfase notável no método historicista para a compreensão profética. Em sua obra citada, Froom expõe o pensamento teológico de várias figuras expressivas do mundo religioso do século dezoito que partilhavam deste pensamento. Muitos deles, seguindo uma abordagem das profecias, viram o terremoto de Lisboa (1755) como um cumprimento profético.

Thomas Prentice (1702-1782), por exemplo, graduado de Harvard e pastor congregacional em 1774, foi um dos vários escritores de seu tempo que após o terremoto de Lisboa em 1755, “deu ênfase a ele como um sinal dos tempos”. Em seu sermão Observations...on The Late terrible Night of Eartquake, publicado em 01/01/1756, dois meses após o terremoto, Prentice baseou-se “na premissa do terremoto [de 1755] como um sinal da aproximação do fim da Era; o clímax seria quando Deus se levantaria para abalar terrivelmente os céus e a terra” e Ap 6:12-17 teria seu completo cumprimento.

Outro respeitado teólogo desse período foi Charles Chauncy (1705-1787), neto do segundo presidente de Harvard, considerado como “o mais influente clérigo da Nova Inglaterra, com exceção de Jonathan Edwards, e reconhecido líder dos liberais de sua geração”. Em seguida ao terremoto de 1755, Chauncy pregou A Sermon Occasioned by Late Eartquakes in Spain and Portugal (1756) no qual apresentou o terremoto de 1755 como um instrumento da Providência e comparava parte da Europa e América a uma condição profetizada em Ap 18. Para ele, este evento era como um anúncio de uma experiência de juízo futuro.

Na relação apresentada por Froom, a teologia de Jonathan Mayhew (1720-1766) se apresenta de modo singular. Graduado com honra em Harvard em 1744, foi chamado para pastorear a West Church de Boston em 1747. Em seu sermão Discurse… Occasioned by the Earthquakes in November 1755, pregado em 18/12/1755, um mês após o terremoto de Lisboa, Mayhew também entendeu o terremoto como uma incomum e alarmante ocorrência da divina Providência e prognóstico da vinda da destruição final do poder do anticristo descrito como “Babilônia” em Ap 18. Para ele, as catástrofes seriam sucessivas até o dia final do grande terremoto de Ap 16:18. De modo similar à posição adventista tradicional, Mayhew reconhecia o poder do anticristo estabelecendo uma conexão com Ap 18. E como os adventistas mais tarde, ele entendeu que haveria uma cumulação de juízos sobre o mundo, culminando com um último grande terremoto no dia da visitação à Babilônia.


Uma evolução de pensamento pode ser observada em Edmund March (1703-1791). Graduado de Harvard em 1722 e ministro em Amensbury neste mesmo ano, referindo-se à apostasia papal como o homem do pecado a ser destruído na Segunda Vinda e à matança das testemunhas de Cristo, propôs o escurecimento do sol e da lua preditos em Mateus, Marcos e Lucas, como sinais da Vinda do Filho do Homem e o subseqüente estabelecimento de Seu Reino. Em seu sermão Divine Providence...Visible Engaged in Fulfilling Scriptura (1762). Ele incluía Sinais no céu, angústia entre as nações, violência marítima e medo dos homens acerca do futuro no grupo destes sinais. Em um trecho de seu referido sermão ele afirmou:
Se nós pudéssemos encontrar os sinais no sol, na lua e nas estrelas, particularmente o sol escurecido, a lua sem luz e as estrelas caídas nós poderíamos ser levados talvez a pensar na Vinda do Filho do Homem exatamente próxima.
Mesmo entendendo a possibilidade de identificar os sinais no céu, March aparentemente os situava num tempo futuro. Entretanto havia a compreensão de que os sinais cósmicos seriam como anunciadores de que a vinda do Filho do Homem estaria exatamente próxima. Não seriam, desse modo, sinais da teofania do Filho do Homem, que ocorreriam simultâneos à parousia.

Froom cita também a figura de E. Smith (1769-1846), que reconhecia o terremoto de Ap 6:12 como símbolo do abalo da França em seu período de revoluções e também reconhecia o dia escuro de 1780 (Mt 24:29) como sinal do advento. Contudo, nesse tempo, a compreensão se dividia em duas opiniões: entre os que viam seu cumprimento para antes da volta de Cristo e aqueles que propunham seu cumprimento para depois da tribulação final, próximos à parousia.

Como exposto por Froom, desde o século dezoito havia a compreensão de que os sinais cósmicos precederiam a vinda de Cristo à Terra. Para eles, entretanto, o texto de Ap 6:12-17 revelava apenas um terremoto. E embora houvesse o entendimento de que o terremoto de Lisboa se caracterizasse como um sinal que precedia a segunda vinda, não o entendiam como um cumprimento de Ap 6:12 ou de Mt 24:29. Entendiam que os eventos ali descritos se desenrolariam no futuro, quando um grande terremoto ocorreria por ocasião do juízo de Deus sobre Babilônia, no contexto das últimas pragas (Ap 16:18). De modo específico, viam o terremoto de 1755 como um cumprimento profético na categoria de um dos vários terremotos que ocorreriam na história como anunciadores da volta de Cristo. Eles criam na iminência do retorno de Cristo que seria antecipado pelos sinais cósmicos e aguardavam a vinda de um juízo iminente, do qual o terremoto de Lisboa era apenas um evento anunciador.

Considerando acerca deste período anterior ao Adventismo, Knight propõe que os excessos da Revolução Francesa, acompanhado por alguns “sinais dos tempos” como o Terremoto de Lisboa, fizeram avivar um “interesse sem precedentes entre os estudantes da Bíblia sobre os eventos do fim dos tempos”. Neste ambiente incomum de descobertas proféticas surgiu o movimento milerita, liderado por Willian Miller nos EUA. A questão é: como se desenvolveu entre eles a compreensão acerca de Mt 24:29 e Ap 6:12-17?

2.1.2 Os Sinais Cósmicos e o Movimento Milerita: 1840 a 1844

Quanto ao período que abrange o movimento milerita (1840-1844), embora não se possa perceber todos os aspectos de seu pensamento, uma breve análise revela que permaneceu neste período a mesma compreensão teológica do século dezoito acerca dos sinais cósmicos, embora estivesse exposto a um apelo mais amplo das profecias.

Considerando o teor apocalíptico da pregação de Miller, com ênfase na vinda de Cristo e do Juízo e o fato de que muitos dos seus seguidores foram testemunhas oculares de alguns acontecimentos insólitos, a saber, o dia escuro, em 19/05/1780 e a queda de estrelas, em 13/11/1833, estes acontecimentos mais a pregação de Miller influenciariam diretamente a compreensão acerca dos sinais em Mt 24:29 e Ap 6:12-17. Durante os anos em que Miller e seus associados pregavam a vinda de Cristo para os anos de 1843-1844, tal era o sentimento presente neste tempo, que Dick afirma em sua obra:
Embora Miller e a maioria de seus seguidores baseassem sua crença no breve advento de Cristo, com base na interpretação dos períodos proféticos, alguns crentes firmes na doutrina estavam convencidos da evidência completa independentemente de sua origem.
Uma figura que se enquadra nesse exemplo seria Henry Jones. Além de abraçar a mensagem de Miller, Jones cria no cumprimento dos Sinais Cósmicos como expostos pela profecia bíblica de Jl 2:30, 31 e interpretava “sangue, fogo e colunas de fumaça” como a Aurora Boreal que era desconhecida até 1716, sendo “um Sinal comparativamente recente” e via correspondência da profecia de Jl 2:30, 31 com Mt 24:29, 30. Como observam Schwars e Greenleaf, “no mesmo teor, outros citavam o dia escuro de 19 de maio de 1780 e a espetacular queda de estrelas em 13 de novembro de 1833”.

Miller, entretanto, não cria que o escurecimento do sol e a queda das estrelas de Ap 6:18 e Mt 24:23 tivessem cumprimento literal. Ele teria sugerido por volta de 1840 que os eventos do sexto selo se cumpriram nas comoções da Revolução Francesa, a partir do ano de 1789. Para ele, o sol representava a luz do evangelho extinguida na Igreja Primitiva e a queda das estrelas, os ministros que se afundavam em denominações anticristãs.

Contudo, os seus colegas aplicavam estes eventos proféticos às datas de 1780 e 1833. Desse modo, nota-se que dentre os sinais considerados cumpridos, os de maior importância para os crentes mileritas foram o dia escuro, de 1780 e a chuva de estrelas, de 1833, com foco em Mt 24:29.

A queda das estrelas em 1833, de modo particular, coincidiu com o ano em que Miller iniciou a sua campanha evangelística nos grandes centros. Este evento foi compreendido como um cumprimento profético, emprestando “grandiosas impressões para sua mensagem de aviso”. Dick enumera vários outros sinais que foram vistos como cumprimento profético em seus dias, embora entenda que nem todos fossem de fato, fatos confiáveis. Enoch de Oliveira comenta o impacto dos sinais de 1780 e 1833 sobre os mileritas:

[Os mileritas] viram suas conclusões confirmadas em um evento insólito que, para eles, significou o cumprimento inequívoco das palavras de Jesus em Seu sermão profético: “E logo depois da aflição daqueles dias, o Sol escurecerá, e a Lua não dará a sua luz. [...]”. Outro grande e surpreendente acontecimento ocorreu no dia 13 de novembro de 1833, quando um feérico espetáculo de fogos de artifício siderais, foi testemunhado por milhares de pessoas, principalmente na costa leste dos Estados Unidos. Os piedosos estudantes das profecias identificaram na “chuva de estrelas fugazes” as palavras proféticas de Jesus: “... e as estrelas cairão dos céus”. [...] Com profundo e reverente temor, associaram “chuva meteórica” com a exortação do Senhor: “Quando estas coisas começarem a acontecer, olhai para cima e levantai as vossas cabeças, porque a vossa redenção está próxima”. Cristalizava-se assim o ideal da esperança adventista.
Como se pode notar, Oliveira retrata que para os mileritas, não apenas o dia escuro de 1780 e a queda das estrelas em 1833 eram um cumprimento cabal das palavras de Cristo, como também uma cristalização de suas esperanças em relação à segunda vinda. Em razão disso, os adventistas mileritas chamavam atenção para o cumprimento da profecia nesses eventos, por meio de suas publicações, entre os anos de 1842-1843.

De conformidade com o exposto, pode-se dizer que os adventistas mileritas em sua maior parte criam no cumprimento histórico para os sinais descritos em Mt 24:29 e Ap 6:12-17 para as datas de 1780 e 1833. Sua compreensão se baseava essencialmente no entendimento de que estes seriam anunciadores da iminência da segunda vinda de Cristo à Terra para os seus dias. Tratava-se, aparentemente, mais que de uma mera aplicação histórica da profecia, mas de uma interpretação das Escrituras, com relação às datas demarcadas na profecia apocalíptica.

Embora os seguidores de Miller aguardassem a vinda de Cristo para 1844, esse evento não ocorreu, causando o Grande Desapontamento milerita. Suas idéias em relação às profecias foram abandonadas por uma grande maioria de seus seguidores e reinterpretadas por outros. Dentre aqueles que reinterpretaram as idéias de Miller, houve um grupo de estudiosos que compreenderam a importância do ano de 1844 como cumprimento profético. Estes vieram a compor o Movimento Adventista Sabatista (hoje, IASD).

Diante disso, surge uma questão relevante: quando em sua reinterpretação da Esperança milerita acerca da profecia relacionada à segunda vinda de Cristo para 1844, como teriam os adventistas sabatistas se relacionado com os eventos de 1755, 1780 e 1833? Evidências comprovam que neste período predominou a mesma perspectiva de cumprimento profético dos mileritas em relação aos sinais cósmicos na literatura adventista, embora com maior apelo escriturístico.

2.2 OS SINAIS CÓSMICOS NO PERÍODO ADVENTISTA SABATISTA: DE 1844 A 1970.

Entre os adventistas que continuaram a estudar o cumprimento profético de Daniel e Apocalipse e que contribuíram para a solidificação do Movimento Adventista Sabatista, estavam nomes como Hiram Edson, O. R. L. Crosier, o Dr. F. B. Hahn, José Bates e Ellen White. Entretanto, os mais importantes expoentes da profecia bíblica entre eles foram Ellen G. White (1827-1915), pioneira do movimento e Uriah Smith (1832-1903), que teria se unido ao grupo apenas alguns anos mais tarde (1853).

2.2.1 Os Sinais Cósmicos na Teologia de Uriah Smith

Em relação a Smith, a escatologia da IASD foi moldada entre 1862 e 1950, em grande parte, pela sua influência. Tendo inaugurado sua folha de serviços para o movimento sabatista em 1853, já em junho de 1862, Smith deu início a uma série de 23 partes na Review and Herald, com o título “Thoughts on the Revelation”, definindo, em grande parte, o rumo do desenvolvimento escatológico e das publicações nessa área que surgiriam no Adventismo do Sétimo Dia a partir daquela época. O seu livro Thoughts on Daniel and the Revelation (Pensamentos sobre Daniel e Apocalipse), publicado originalmente em 1897, “permaneceu como a interpretação Adventista padrão dos dois livros proféticos até décadas depois de sua morte”.

Neste livro, Smith (1897) mantém a mesma visão de alguns mileritas acerca do cumprimento dos sinais cósmicos para as datas de 1755, 1780 e 1833, relacionando-os à profecia do sexto selo de Ap 6,12-17. Para ele, os sete selos de Ap 6 representavam eventos de caráter religioso que continham a história da Igreja desde o início da Era Cristã ate a segunda vinda de Cristo. Em sua análise profética, Smith compreendia haver uma mudança repentina do sentido simbólico para o literal na interpretação do quinto para o sexto selo de Ap 6, e que esta mudança provavelmente se devia ao fato de que o conteúdo profético do sexto selo seria perfeitamente compreendido no momento do seu cumprimento. Ele também compreendia que apesar terem ocorrido terremotos em outros tempos e em proporções maiores, somente aquele (Lisboa, 1755) preenchia as especificações da profecia.

Smith compreendia o cumprimento dos vv. 12 e 13 de Ap 6 como sendo os eventos históricos de 1755, 1780 e 1833 e que o momento histórico da igreja de seus dias estava entre os vv 13 e 14. Desse modo, o céu rasgando-se “como um pergaminho” (v. 14) seria então um evento futuro, a ocorrer na Vinda de Cristo, no momento em que a voz de Deus soasse do Seu trono e Sua majestade comovesse os Céus e a Terra, como por ocasião de Sua manifestação no Sinai (Ex. 19:16-19). Somente então se cumpriria Hb 12:25-27; Jl 3:16; Jr 30:35-36 e Ap 16:17.

Smith, desse modo, via dois momentos proféticos em Ap 6:12-17, e nestes, dois terremotos, distinguindo o “grande terremoto” (v. 12) de um outro que ocorreria no momento em que “montes e ilhas foram movidos de seus lugares” (v. 14). Este segundo terremoto de Ap 6:17 seria o mesmo de 16:17-18.

2.2.2 Os Sinais Cósmicos nos Escritos de Ellen White

Outra importante contribuição para a compreensão bíblica em relação aos eventos proféticos para os adventistas (nesse tempo, IASD ) foi a obra O Grande Conflito, de Ellen White. Editado pela primeira vez em 1888, este livro proporcionou à IASD uma visão profética da História desde a queda de Jerusalém no ano 70 até a consumação final, com os remidos na Nova Terra.

Em primeiro lugar é preciso que se deixe claro o fato de que ela cria nos eventos de 1755, 1780 e 1833 como cumprimento profético. Porém, como observa Neall, ela tratava as profecias de tempo como fundamentais e as referentes aos sinais dos tempos como secundárias. Ao se ocupar dos sinais, Ellen White o fez em referência aos períodos de tempo de Dn 7 e 8. O terremoto de 1755 ocorreu após os séculos de perseguição papal, o dia escuro de 1780 entrava dentro do período dos 1260 anos, porém depois que a perseguição havia cessado. Quanto à queda das estrelas, evento ocorrido em 1833, este se deu apenas depois da pregação de Miller se tornar pública.

Desse modo, pode-se notar que em sua interpretação dos sinais cósmicos, em O Grande Conflito (1888) e posteriormente em O Desejado de Todas as Nações (1898), Ellen White pôde de modo claro relacionar os eventos do sexto selo em Ap 6:12-17 com os acontecimentos preditos em Mt 24:29; Lc 21:25; Mc 13:24-26. Para ela, todos estes textos se referiam a um só cumprimento profético, e que aqueles que contemplaram o seu cumprimento, deveriam saber que ”está próximo, às portas” (Mt 24:33).

Embora Ellen White abordasse acerca de alguns sinais correntes em seus dias, ela se referiu distintamente ao cumprimento dos sinais cósmicos para as datas históricas de 1755, 1780 e 1833, tal como o fizeram alguns cristãos do século dezoito e o próprio Smith, em seus dias.

Nota-se que o fez em um momento em que havia várias conjecturas quanto à interpretação dos textos de Mt 24:29 e Ap 6:12-17. Porém ela revelou a literalidade dos eventos bem como seu cumprimento em tempos específicos da história, a saber, com início nas datas históricas de 1755, 1780 e 1833 e concluindo na segunda vinda de Cristo. Contra a idéia de um cumprimento simbólico para aqueles textos, ela mesma escreveu, em referência a “e as potências do céu serão abaladas”, em Lc 21:26 e Mt 24:29d:
A 16 de dezembro de 1848, o Senhor me deu uma visão acerca do abalo das potestades do céu. Vi que quando o Senhor disse “céu”, ao dar os sinais registrados por Mateus, Marcos e Lucas, Ele queria dizer céu, e quando disse: “Terra”, queria significar Terra. As potestades do céu são o Sol, a Lua e as estrelas. Seu governo é no firmamento. As potestades da Terra são as que governam sobre a Terra. As potestades do céu serão abaladas com a voz de Deus. Então o Sol, a Lua e as estrelas se moverão em seus lugares. Não passarão, mas serão abalados pela voz de Deus. [...]. Vi que as potestades da Terra estão sendo abaladas agora, e que os acontecimentos ocorrem em ordem. Guerras e rumores de guerra, espada, fome e pestilência devem primeiramente abalar as potestades da Terra, e então a voz de Deus abalará o Sol, a Lua e as estrelas, e também a Terra. Vi que a agitação das potências na Europa não é, como alguns ensinam, o abalo das potestades do céu, mas sim o abalo das nações iradas.(Primeiros Escritos, p. 41).
Desse modo, vendo estes sinais de Mt 24:29 como eventos literais prometidos pelo Salvador, ela não apenas era contra a visão de aplicação simbólica, como também teve uma clara distinção entre os eventos ocorridos no sol, na lua e nas estrelas em Mt 24:29a-c e aquele em que “os poderes do céu serão abalados”, no v. 29d. O tempo do abalo das potências dos céus é exposto por ela mesma no mesmo livro e em O Grande Conflito, a saber, o momento da parousia de Cristo, em livramento de Seu povo. Ela soube distinguir de modo claro o tempo e a circunstância para cada evento. Nota-se que Ellen White não apenas aplicou o cumprimento dos sinais cósmicos para as datas de 1755, 1780 e 1833, como também:

a. que sua compreensão se deu a partir de algo percebido em visão;

b. que tendo à mão alternativas de caráter simbólico, preterista e futurista para interpretação em seus dias, ela explicou o cumprimento profético do mesmo modo que Smith;

c. que descreveu os eventos do sexto selo (Ap 6:12-17) numa relação de progressão temporal com o fim da grande tribulação;

d. que tanto para Ellen White quanto para Smith, Mt 24:22 e 29 descrevia a tribulação da Idade Média, os 1260 anos da supremacia papal sobre os fiéis durante os anos de 538-1798;

e. que os eventos de 1755, 1780 e 1833 foram cumprimentos parciais de Mt 24:29 e Ap 6:12-17, e anunciadores da iminência da vinda de Cristo; e

f. que a última parte de Mt 24:29 bem como Ap 6:15-17 se cumprirão apenas na segunda vinda de Cristo.

Como se pode observar, havia uma similaridade de pensamento entre a teologia de Smith e a interpretação de Ellen White para os textos de Mt 24:29 e Ap 6:12-17. Isto leva a crer que a compreensão clássica destes textos se desenvolveu num clima isento de tensões no seio do adventismo pioneiro.

Vale notar que esta compreensão não se desvaneceu da mente de Ellen White, apesar de não haver ela contemplado em vida a consumação de sua esperança. Isso se nota por ocasião da revisão feita por ela mesma em O Grande Conflito, no ano de 1911. Nesse tempo, a mesma perspectiva de cumprimento acerca dos sinais cósmicos permaneceu sem nenhuma alteração. Isto evidencia duas coisas: a. que não apenas a sua percepção acerca do cumprimento dos sinais cósmicos pouco tinha a ver com uma expectativa apocalíptica em relação à Volta de Cristo para os seus dias, b. como também que ela possuía um claro discernimento daquilo que entendia ser verdade: que os textos de Mt 24:29 e Ap 6:12-17 tinham um cumprimento progressivo desde 1755 até a consumação final.

Numa conclusão prévia, pode-se afirmar que durante o período do adventismo sabatista até o do adventista do sétimo dia pioneiro não houve qualquer alteração acerca da compreensão profética ligada aos sinais cósmicos de Ap 6:12-17 e Mt 24:29. Tanto quanto se pôde constatar, a compreensão dos sinais para as datas históricas permaneceu clara na mente dos adventistas, bem como a certeza da iminência do retorno de Cristo, durante este período. Pode-se dizer também que não houve nenhuma alteração em relação a este pensamento durante o período da teologia adventista da segunda geração, a saber, ao período posterior à morte de White, em 1915.

2.2.3 Os Sinais Cósmicos no Período Posterior à Morte de Ellen White

Entre os anos de 1915 (ano da morte de Ellen White) e 1970, obras didáticas e muitas outras de cunho teológico ou evangelístico mantiveram o mesmo pensamento acerca dos sinais em Mt 24:29 e Ap 6:12-17.

No Brasil, em especial, nota-se Aracely de Melo (1959), que se tornou um dos pioneiros na exposição das profecias de Daniel e Apocalipse na década de 1950, mantendo o mesmo padrão de interpretação de Smith. Para ele, o quinto selo seria uma sucessão inequívoca dos selos anteriores e estendia-se desde o ano de 1517 até 1755. Nesse tempo, começaria então o cumprimento do sexto selo, que se iniciava desde 1755, com o terremoto de Lisboa, até o momento da volta de Jesus.

Neste mesmo período, teve lugar a segunda Conferência Bíblica Adventista em Takoma Park, Maryland, 1952. Diante dos desafios e questionamentos da igreja em relação ao papel de Ellen White e em relação às doutrinas da igreja frente à ameaça do Liberalismo e Secularismo, Artur S. Maxwell se pronunciaria acerca das dúvidas da IASD em face de uma aparente tardança para a volta de Cristo.

Pode-se dizer que este problema relacionado à “tardança” se ligava diretamente a duas questões: a. à ausência da orientação profética de White, e b. com algumas falsas expectativas apocalípticas referente a certas interpretações errôneas das Escrituras ligado à questão dos sinais dos tempos. 

Neste contexto, a compreensão acerca dos sinais cósmicos para as datas históricas esteve relacionada a uma falsa expectativa dos anos de 1930, quando a segunda geração de crentes adventistas percebeu uma dificuldade em relação à declaração de Ellen White em O Desejado de Todas as Nações e em O Grande Conflito acerca de Mt 24:34: “não passará esta geração sem que tudo aconteça”. Ao virem que, com a exceção de poucos crentes idosos em Huza e Ioguslávia, todos aqueles que presenciaram o último sinal em 1833 estavam mortos, questionavam então se Cristo estava realmente às portas. Entendiam que as testemunhas oculares de 1833 seriam a última geração. Então, porque a demora?

De fato, o sentimento de dúvida, presente nos crentes por ocasião da Segunda Conferência Bíblica Adventista de 1952, é facilmente detectado na extensa exposição de Artur Maxwell. As questões abordadas por ele neste momento histórico talvez revelassem um problema que muitos adventistas enfrentavam depois de mais de 100 anos de espera para a volta de Cristo sem verem, contudo, a conclusão de sua sonhada esperança.

Artur Maxwell afirmou que o ato de apagar a fé na brevidade do retorno de Cristo, mesmo que de modo secreto, seria o mesmo que levar à desintegração a causa adventista. Após questionar a firmeza da posição dos crentes de seus dias e avaliar a crença fervorosa dos pioneiros, inclusive a da própria White na Esperança do Advento, Artur Maxwell reafirmou a crença na interpretação histórica dos sete selos mantida pelos pioneiros, confirmando a fé da igreja na consumação desta Esperança no contexto da profecia apocalíptica. Para ele, ossete selos de Ap 6 de fato avançavam do Pentecostes até o segundo advento. Afirmou também que o quinto selo se cumprira no período da supremacia papal sobre os mártires da Idade Média e que os eventos do sexto selo se cumpriram em parte nas datas de 1755, 1780 e 1833. Ele também questionou, em tom de afirmativa:

Onde estamos então? Bem depois do terremoto de Lisboa, bem depois do Dia Escuro e bem depois da queda das estrelas. O próximo evento nesta grande estrada da profecia é a retirada do céu como um rolo e o retorno do nosso Senhor em glória.
Conforme exposto acima, Artur Maxwell cria na veracidade do cumprimento da profecia para as datas históricas, e entendia estes eventos como meios divinos de animar a fé da igreja em sua caminhada rumo ao seu destino final.

Esta mesma perspectiva de cumprimento para os Sinais Cósmicos dos pioneiros e da segunda geração de Adventistas do Sétimo Dia permanecerá com a publicação do The Seventh-Day Adventist Bible Commentary, durante os anos de 1953-1957, do Seventh-day Adventists Believe..., em 1997, do Handbook of Seventh-day Adventist Teology, em 2000 bem como nos mais diversos escritos da IASD até os dias atuais. Uma proposta de rompimento com esta compreensão se manifestaria entre os anos de 1970-1998. As razões e as circunstâncias para esta ruptura serão analisadas no terceiro capítulo deste trabalho.

CONCLUSÃO

Como proposto inicialmente, este artigo avaliou o desenvolvimento teológico referente à compreensão dos sinais preditos em Mt 24:29 e Ap 6:12-17 desde o período anterior ao movimento sabatista, nos dias do terremoto de Lisboa (1755) até o adventismo dos anos de 1970.

Na breve análise deste período, percebe-se que apesar de algumas tensões com a escola futurista, o estudo da profecia se desenvolveu, mormente através do método historicista. Entretanto, prevaleceu uma visão apocalíptica com vistas num juízo a vir sobre o mundo, do qual o terremoto e os sinais no sol, na lua e nas estrelas foram vistos como anunciadores. A aplicação da profecia para as datas históricas se deu à medida que os eventos se sucediam na História. Embora nos dias do terremoto (1755) houvesse proposta de que os sinais no céu seriam avisos da proximidade da volta de Cristo, prevaleceu o entendimento de que os sinais de Mt 24:29 e Ap 6:12-17 se cumpririam apenas na volta do Senhor. Desde aí até o período milerita foi marcado por tensões relacionadas à sua interpretação. O próprio Miller não teria crido na aplicação histórica da profecia, enquanto que seus seguidores não hesitaram em adotá-la.

Quanto ao período adventista sabatista, viu-se que Smith possivelmente foi o primeiro a sistematizar a interpretação histórica, dentro do contexto mais amplo do Apocalipse, em especial, o contexto dos sete selos embora muito antes (1848), Deus já houvesse advertido a Ellen White contra a aplicação simbólica para estes eventos proféticos. Posteriormente, ela mesma endossou a interpretação de Smith, mantendo-a em seus escritos desde o período de 1888, com a publicação de O Grande Conflito, até o fim de seus dias, em 1915.

Com a morte de Ellen White em 1915, houve nos anos de 1930 uma expectativa apocalíptica, com ênfase no evento de 1833 e no teologúmeno da “última geração”, o que ocasionaria dúvidas para os crentes adventistas e uma noção de tardança para a vinda de Cristo. Aliado a isso, com o ataque externo da teologia Liberal, houve a necessidade de reafirmação da fé no cumprimento das profecias, nos anos de 1950. A certeza de que a “estrada da profecia” seguia o seu curso passando pelas datas históricas de 1755, 1780 e 1833, reafirmou a interpretação tradicional acerca dos sete selos de Ap 6, e animou os crentes a prosseguirem crendo na consumação da esperança. Pode-se afirmar que mesmo em um tempo de contestações e dúvidas, a visão de Ellen White e dos pioneiros, bem como a certeza da iminência da segunda vinda permaneceu aparentemente invicta.

Embora já nesse tempo, (nos anos de 1930-1950) se notasse uma necessidade de reafirmação na crença dos sinais da volta do Senhor, os conflitos acerca dessa compreensão se tornariam mais acentuados apenas a partir da década de 1970. Esta nova fase da teologia adventista e sua relação com os sinais cósmicos, é uma nova fase da história da IASD e certamente merece uma análise à parte.



cite a fonte
http://pastorclaudiosampaio.blogspot.com

3 comentários:

  1. Arão Silva disse...

    Excelente sua argumentações pastor Claúdio.

    sociólogo, Arão Silva
    araosilva1@gmail.com

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  2. Obrigado, amado irmão Arão. Na verdade essa tem sido uma discussão recente, iniciada com Desmond Ford na década de 60'. Depois vieram propostas radicais com o Dr. LaRondelle. Minha tentativa é trazer um caminho para orientar o debate e abrir um incentivo para aprofundamento. Se você é estudioso, fica aí uma proposta para uma tese. Abraço.

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  3. Caro Claudio Sampaio, matéria interessantissima essa sua. Li e reli com muito interesse. Seria possivel conseguir o restante do estudo para eu poder me aprofundar ainda mais na sua pesquiza?

    Um grande abraço.

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