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James Frey e Seu Testamento Final: o discurso das minorias e a moralidade cristã sob ataque


“Seu trabalho, se não é ideológico, serve bem a uma ideologia que busca destronar o Cristianismo de seu lugar, na tentativa de demolir suas bases fundamentais”

(por Claudio S. Sampaio)


A vida sexual de Jesus tem sempre estado sob especulação tanto na literatura quanto na cultura do cinema. Recentemente, neste blog, relembrei alguns ataques à Sua pessoa como apresentada na Bíblia, desde a proposta de Martin Scorcese, com os conflitos sexuais de seu personagem em relação à Maria Madalena, em seu filme “A Última Tentação de Cristo” até a visão distorcida de Dan Brown, em sua obra “O Código DaVinci”, na qual o suposto Jesus tem de fato relações sexuais com sua discípula. Nesse novo ano que se inicia, a bola da vez agora é James Frey, o controverso escritor britânico que pelo visto, cultiva um gosto mórbido pela polêmica na produção de suas obras.


A Controvérsia em Torno do Autor e Sua Obra

Digo isso porque sua vida literária tem sido apresentada como sempre estando em conflito com a crítica e até mesmo com o público comum. Na divulgação de seu novo trabalho, o site http://www.waterstones.com , apresenta Frey como uma “fraude”, um “mentiroso”, um “gênio”, um “revolucionário” e até mesmo um “salvador”. É amado em pelo menos 38 países e detestado pelo menos por apresentadores de talk-shows, como Oprah. Isso se deve ao fato de que em sua estréia no mundo das letras, James Frey haver forjado uma autobiografia, na qual revelava os conflitos pessoais com os vícios nos quais esteve envolvido. Isso ocorreu depois de três meses passados em uma clinica de reabilitação americana a fim de se recuperar do vício do álcool e do crack, experiência esta que o teria levado a escrever “Um Milhão de Pedacinhos”, livro no qual revelava seu conflito e vitória sobre as adversidades sofridas no mundo do vício. Depois de haver aparecido em vários programas de TV americanos, inclusive em Oprah, Frey teve sua obra denunciada como fraude biográfica e recolhida das livrarias, retornando ao público com anexo escrito pelo próprio autor que confessava a farsa envolvendo seus escritos. Curiosamente, depois de outras tentativas literárias, Frey se tornou Best-seller conhecido em 38 idiomas, sendo distinguido pela maneira como joga com a verdade, não separando bem a ficção da realidade. 

Agora, seu novo trabalho envolve a pessoa de Jesus Cristo. Com a chegada da Páscoa em 2011, também chega às livrarias “The Final Testamento of the Holy Bible” [O Testamento Final da Bíblia Sagrada] de 400 páginas, pela Jonh Murray Publishers Ltd, identificada como sua obra maior e mais revolucionária. Ambientada em Nova Iorque do século 21, o livro apresenta Jesus contrariando todas as conveniências da moralidade sexual e se tornando um religioso liberal praticante da bissexualidade, celebrando inclusive casamentos gays, engravidando adolescentes e incentivando a prática do aborto. 

De acordo com fontes, James Frey afirma ter buscado opiniões de várias pessoas que acreditam em Jesus, inclusive de um rabino, no processo da escrita. Porém, ao que parece, Frey não quis levar em conta a própria Bíblia e o testemunho daqueles que afirmaram sua convivência com Jesus. Para um título que pretende lançar uma hipotética versão evangelística da vida do Messias Jesus numa ótica contemporânea, ele vai muito além disso: Seu personagem foge a tudo o que se apresenta nos evangelhos canônicos e fica bem longe até mesmo dos relatos apócrifos. O que Frey pretendeu, obviamente, foi realizar um ataque direto contra o Cristianismo tradicional, assumindo de modo claro, o discurso das minorias e dos críticos da Igreja, no que tange ao assunto da moralidade sexual. 


A Moralidade Sexual Cristã no Foco do Debate 

Falando nisso, o discurso a favor da moralidade sexual bem como a condenação da prática do homossexualismo sempre tem sido afirmado pelos cristãos tradicionais, sendo feito de modo mais aberto pela ala do Catolicismo dito oficial. Segundo Regina Soares Jurkewicz (Professora da disciplina Fenômeno Religioso no Instituto Superior da Diocese de Santo André, SP, doutoranda do Programa Pós-Graduados em Ciências da Religião na PUC-SP), a rejeição da homossexualidade em Roma antecede ao Cristianismo. Bem antes, já havia a Lex Scantinia, que condenava essa prática. Todavia, com a adoção da fé cristã pelos imperadores romanos, a lei que já em processo de caducidade torna-se então aplicável inicialmente contra o “abuso de jovens” e “prostituição homossexual”. Logo, novos editos passaram a condenar todo e qualquer ato homossexual.

Mais recentemente, em abril de 2003, o Vaticano editou um extenso glossário de termos sexuais, o “Léxico para termos ambíguos e coloquiais sobre vida familiar e questões éticas”. Ainda de acordo com Jurkewicz, essa obra apresenta em seu capítulo sobre homossexualidade e homofobia, que a homossexualidade é derivada de “um conflito psicológico não resolvido”, e ainda que “os homossexuais não são normais e que os países que permitem os casamentos unissexuais são habitados por pessoas com mentes profundamente perturbadas”. Esse discurso do Catolicismo, endossado pela vasta maioria do movimento cristão tem sido questionada e até mesmo entendida como um incentivo à homofobia, dificultando sua aceitação. 

Porém a onda de escândalos envolvendo grande número de sacerdotes em 2010 abriu uma ferida dentro do Catolicismo, da qual não tão cedo a igreja se libertará. Por um lado, afetou a vida interna da igreja, pelo fato de que a insistência no dogma do celibato para religiosos tem sido desde então questionada de maneira mais intensa dentro do próprio magistério da igreja. Por outro lado, externamente a igreja foi afetada por haver fortalecido o discurso daqueles que mesmo permanecendo na prática do homossexualismo e liberalismo sexual, sendo favoráveis inclusive à prática do aborto buscavam o espaço no ministério religioso e na vida comum da igreja. Razão pela qual desde então, Bento XVI intensificou seu discurso em favor da família e da pureza sexual, tendo, por isso, enfrentado oposição de vários grupos, como sua rejeição pelos britânicos liberais e pelos GLTs, quando em sua visita ao Reino Unido, em 2010. Ao que parece, Frey apenas embarca nessa polêmica em torno da moralidade cristã e dela busca tirar vantagens.


Um Discurso Ideológico

Anos atrás, José Saramargo, Nobel em Literatura, tentou a mesma façanha de James Frey, propondo um “novo testamento alternativo”, através de sua obra “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”. Nesse livro, o autor buscava despojar a pessoa de Jesus de Sua Divindade, tornando-O um homem comum, governado pelas paixões sensuais. O personagem de Saramargo teria descoberto os desejos sexuais já em Sua adolescência, quando espia uma mulher a tomar banho nua, e em Seu primeiro contato com a prostituta (de sempre) Maria Madalena, com quem mais tarde terá se casado. Ao que parece, influências de Scorcese.

Porém, grosso modo, Saramargo não teve como pretensão colocar a vida sexual de Jesus em cheque. Esse não era seu foco. Sua intenção era claramente ideológica: Apresentar um discurso em favor do ateísmo, um evidente ataque à figura do Deus judaico-cristão, que em sua obra é sempre apresentado como um personagem com tendências para a crueldade e sadismo. Mais tarde retomaria esse discurso em “Caim”. Com Frey, entretanto, a tentativa é apresentar em romance, uma visão acerca da nova modalidade do Cristianismo (se é que se pode chamá-lo assim) contemporâneo que tem ganhado terreno nos últimos anos. Seu trabalho, se não é ideológico, serve bem a uma ideologia que busca destronar o Cristianismo de seu lugar, na tentativa de demolir suas bases fundamentais: A centralidade da Bíblia e sua normatividade para nossos dias, bem como a excelência e distinção da pessoa de Jesus como Deus Encarnado e perfeito Salvador. E nesse ponto, embora o autor aumente sua rede de inimigos, certamente haverá muitos a quem agradar. É certo que um grupo notável no cenário religioso liberal ou mesmo os céticos tornarão a obra de Frey um sucesso, se não de crítica, pelo menos, de vendas.


Concluindo

A data para o lançamento é a Páscoa de 2011. Nessa ocasião, enquanto muitos estiverem a ler a obra controversa de Frey, o Jesus da Bíblia estará sendo apresentado em todas as comunidades cristãs e adorado do mesmo modo como tem sido há quase 2.000 anos. Como tantos antes dele, o livro de Frey terá seu breve tempo de fama e repercussão. Mas é ainda o Jesus da Bíblia Aquele que apesar de seus dois milênios de existência preserva ainda seu poder de atrair, influenciando vidas e encantando a muitos com Suas palavras, bem como Seu exemplo de pureza e integridade.

Para concluir, afirmo que se James Frey sempre misturou ficção com realidade, penso que nessa obra, nada há de verdadeiro no que diz respeito ao personagem central. Trata-se apenas de um delírio de uma mente que, insatisfeita com a pessoa e a mensagem de Jesus, busca inventar um Cristo segundo seus próprios gostos e preferências. 

E diga-se de passagem: gosto não se discute... [por Claudio S. Sampaio].


Bibliografia recomendada
Regina Soares Jurkewicz: "Cristianismo e Homossexualidade"
em http://www.catolicasonline.org.br

Agência PavaNews: "Livro Polêmico Retrata um Jesus Bissexual Vivendo na Nova Iorque do Século 21" em http://www.livrosepessoas.com/

Saramargo e a Conivência Divina: "Análise de 'O Evangelho Segundo Jesus Cristo' e 'Caim'" em http://recantodasletras.uol.com.br/

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