Por Samuele Bacchiocchi
ThD pela Universidade Gregoriana de Roma
Professor em Andrews University
Introdução
Escritores religiosos muitas vezes
falam da era moderna como a “Era de Maria”. Um artigo de capa da revista Time,
intitulado “The Search for Mary – A Busca por Maria”, observa: “Numa época em
que cientistas debatem as causas do nascimento do universo, tanto a adoração
como os conflitos envolvendo Maria subiram para níveis extraordinários. Um
renascimento das bases da fé na Virgem está ocorrendo em todo o mundo. Milhões
de fiéis estão se reunindo em seus santuários, muitos deles jovens. Ainda mais
notável é o número das alegadas aparições da Virgem, da Iugoslávia ao Colorado,
nos últimos anos.”[1]
O artigo relata que milhões de “pessoas
do mundo inteiro estão viajando grandes distâncias para demonstrarem
pessoalmente sua veneração à Nossa Senhora. O final do século 20 tornou-se a
idade da peregrinação mariana” [2]. Vários exemplos informativos são citados.
“Em Lourdes, o maior dos 937 santuários de peregrinação na França , o
comparecimento anual nos últimos dois anos aumentou 10%, para 5,5 milhões.”
“Em Fátima, Portugal, a capela que
marca a aparição de Maria diante de três crianças em 1917, atrai uma constante
de 4,5 milhões de peregrinos ao ano, de um número cada vez maior de países . .
. Em Czestochowa, Polônia, as visitas na Capela da Madona Negra já chegam a 5
milhões por ano, concorrendo com Fátima e Lourdes desde a visita de João Paulo
em 1979. Ali, em agosto passado, o Papa falou a um milhão de jovens católicos.
No ano passado,em Emmitsburg, Md., a presença de pessoas dobrou para 500.000,
num dos mais antigos dos 43 principais locais marianos no Estados Unidos, a
Capela Nacional da Gruta de Nossa Senhora de Lourdes”.[3]
Num artigo de capa semelhante,
intitulado “O significado de Maria”, a revista Newsweek sumaria a história de
Maria dizendo:”O segredo do misterioso poder de Maria talvez seja apenas isto:
por não ter história própria, ela atrai cada nova geração a criar uma imagem dela.
A Bíblia oferece apenas pequenos relatos para se trabalhar. . . A partir dessa
pequena linha de desenvolvimento, Maria gradualmente cresce.
Surpreendentemente
esta mãe judia desconhecida absorveu e transformou as mais poderosas deusas
pagãs. Ela foi a Madona que dá a vida, mas também a Pietà que recebe os mortos.
Uma vez que o ascetismo se tornou um caminho privilegiado para a santidade
cristã, ela se tornou a perpétua virgem, um modelo de castidade e negação
própria. Em 431, o Concílio de Éfeso emitiu a primeira declaração dogmática
sobre Maria: ela estava para ser honrada como Theotokos ou a Mãe de Deus. . . .
No século 19, tempos depois do culto a Maria ser rejeitado por muitos
reformadores protestantes como um papismo sem sentido, o Papa Pio IX proclamou
o dogma católico da Imaculada Conceição. ”[4]
João Paulo: Um Papa mariano
O crescimento de peregrinos às capelas
marianas é quase ofuscado por relatos de alegadas novas aparições de Maria em
diferentes partes do mundo. Esse crescimento trouxe grande satisfação ao hoje
falecido Papa João Paulo II, cuja devoção a Maria era abundante em sua pátria
polaca.
Quando João Paulo se tornou bispo em
1958, ele colocou um M dourado no seu brasão de armas e escolheu como seu lema
Totus Tuus, que em latim significa “Totalmente Seu”, referindo-se a Maria, não
a Cristo. “Durante suas incontáveis visitas às capelas marianas, João Paulo
invocava a Madona em quase todos os discursos e orações que fazia. Ele
pessoalmente acreditava que a intercessão especial de Maria poupou a sua vida
quando foi baleado em 1981 na Praça de São Pedro. Além disso, como muitos
outros, estava convencido que ‘Maria trouxe um fim ao comunismo na Europa.’[5]
Maria é vista como uma Ponte Ecumênica
Em 21 de novembro de 1964, o Concílio
Vaticano II previu na sua Constituição Dogmática sobre a Igreja, chamada Lumen
Gentium, que a intercessão de Maria “diante do Filho na comunhão de todos os
santos” pode conseguir “reunir em paz e harmonia e, em um único Povo de Deus”
todas as famílias da Terra (# 69). Àquelas alturas, protestantes viam essa
predição como ridícula, mas hoje a situação mudou. Publicações recentes de
protestantes a respeito de Maria indicam que ela realmente pode ser a ponte
ecumênica que se está construindo para unir cristãos de todos os credos,
minando a rejeição existente sobre os dogmas católicos de Maria.[6]
Após listar as sete principais
publicações escritas em colaboração entre estudiosos católicos e protestantes,
o anglicano John Macquarrie conclui: “Paradoxalmente, as mais importantes
interpretações da doutrina mariana neste século chegaram até nós através de
estudiosos protestantes de uma variedade de denominações. Ela é a mãe daqueles
que ‘têm o testemunho de Jesus Cristo.’”[7]
Há uma crescente aceitação de Maria
por escritores protestantes como a esperança da união ecumênica de todas as
fés. No seu livro A Protestant Pastor Looks at Mary (Um pastor protestante
encara Maria), o estudioso luterano Charles Dickson fala de Maria como um
“modelo reluzente da genuína esperança cristã. É a esperança para toda a
humanidade. Uma releitura e uma compreensão iluminada por parte da comunidade
protestante ajudarão a recentrar a atenção de todo o mundo cristão em Maria,
não como ponto de divisão, mas como a verdadeira ponte para a unidade de todos
nós. “[8]
Em seu artigo “Protestants and Marian Devotion: What About Mary?” (Protestantes
e Devoção Mariana: O que há sobre Maria?) o estudioso metodista Jason Byassee
escreve: “Dizer ‘Santa Maria, cheia de graça, rogai por nós pecadores, agora e
na hora de nossa morte’ parece expressar um acréscimo extraescriturístico. Mas
talvez pedir para Maria por rogo, ou orações, não é em si mesmo
não-protestante. Fazendo isso pode-se talvez até mesmo manter o dogma
cristológico e defender-se do patriarquismo. Quem sabe? Maria poderia ser
exatamente a chave para o futuro ecumenismo, afinal de contas”.[9]
A busca ecumênica para uma
redescoberta de Maria é exemplificada na colaboração entre eruditos católicos e
protestantes para determinar o valor de Maria no Novo Testamento. O resultado
mais notável desta busca conjunta é o livro Mary in the New Testament (Maria no
Novo Testamento, 1978, 340 páginas), escrito por uma equipe de católicos e um
grupo de Igrejas protestantes de destaque. Uma conferência entre anglicanos e teólogos
ortodoxos orientais resultou no importante trabalho The Mother of God (A Mãe de
Deus). Uma série de conferências entre eruditos católicos e luteranos produziu
o livro The One Mediator, The Saints and Mary (O único mediador, os Santos e
Maria, 1992). Paradoxalmente nos últimos anos, algumas das mais importantes
reavaliações de Maria têm vindo de eruditos protestantes das mais diferentes
denominações.
Maria poderia tornar-se a ponte entre
católicos e muçulmanos
Maria também poderia ser a ponte entre
católicos e muçulmanos, porque ela é reverenciada por ambos. Este ponto foi
salientado por oradores em uma recente conferência cristã-muçulmana sobre o
papel que desempenha Maria em cada religião. Na conferência, Janan Najeeb,
diretor da Coalisão das Mulheres Muçulmanas de Milwaukee (Milwaukee Muslin
Women´s Coalition), abordou o papel que Maria desempenha na fé islâmica.
Ela disse: “os muçulmanos não
acreditam que Maria, conhecida como ‘Mariam”, em sua fé, é a mãe de Deus.
Também não acreditam que ela seja livre da pecaminosidade humana porque não têm
noção de pecado original. Muçulmanos, no entanto, reverenciam Maria como mãe de
Jesus, um dos cinco maiores profetas–embora não o filho de Deus. Na fé
islâmica, nós o vemos como uma ‘santa aperfeiçoada’ cuja pureza e fidelidade
fazer dela um exemplo a seguir por todos os muçulmanos.
“Todos os muçulmanos são ensinados
desde a mais tenra idade a amar, reverenciar e honrar Maria. É difícil
encontrar um muçulmano que não seja espiritualmente elevado ao ler a história
de Maria. Maria é mencionado mais vezes no Corão do que na Bíblia, de acordo
com Najeeb. O 19º capítulo do Corão–intitulado “Mariam”–é dedicado a Maria, e
que ela é a única mulher mencionada no texto sagrado islâmico pelo nome dado a
ela e não por referências como ‘esposa de’ ou ‘ filha de’. Tão significativa é
a posição dela no Islã que muitos teólogos acreditam que ela fosse uma
profeta”. [10]
Nos últimos anos tanto o Papa João
Paulo II como Bento XVI têm trabalhado duro para desenvolver um novo relacionamento
entre o papado e o Islã. Esta parceria baseia-se na convicção de que católicos
e muçulmanos adoram o mesmo Deus de Abraão e veneram a mesma Maria, a Mãe de
Jesus. Esta crença é claramente expressa no novo e oficial Catecismo da Igreja
Católica, que afirma: “A Igreja tem também uma grande consideração para com os
muçulmanos. Eles adoram Deus, que é Único, Eterno e Subexiste, Todo-Poderoso e
Misericordioso, Criador do céu e da terra, que também falou aos homens. Eles
empenham-se em apresentar-se sem reservas aos decretos de Deus, assim como
Abraão apresentou-se ao plano de Deus, cuja fé os muçulmanos associam à própria
fé deles . Embora não reconhecendo Jesus como Deus, veneram a Jesus como um
profeta, e também honram a sua Mãe virgem, e até mesmo, às vezes, devotamente a
invocam.”[11]
É evidente que a estima católica sobre
o Islã sofreu uma mudança fundamental de religião dos “infiéis”, para a de
fiéis que adoram o mesmo Deus de Abraão e veneram a mesma Maria, Mãe de Jesus.
A determinação dos Papas a desenvolver uma parceria com os muçulmanos decorre
do simples fato de que os 1,3 bilhões de muçulmanos ultrapassa o 1 bilhão de
católicos. Ao reconhecer a legitimidade da fé islâmica, o papa está facilitando
a aceitação por parte dos muçulmanos de seu papel como o líder de uma futura
Nova Ordem Mundial.
Objetivos do presente estudo
À luz do crescente culto de Maria dos
católicos e do aumento da devoção a Maria pelos protestantes como a esperança
para a unidade ecumênica de todas as fés, é imperativo analisar as crenças
populares sobre Marria à luz da Escritura. Este é o objetivo deste artigo.
Por uma questão de clareza nosso
estudo das crenças populares sobre Maria segue esta ordem sequencial:
1)
A Perpétua Virgindade de Maria
2)
A Imaculada Conceição de Maria
[nota do editor: O estudo
original contempla mais três partes distintas, que pelo volume achamos
por bem reduzir apenas a este dois. CSS]
O procedimento que seguimos na análise
destas crenças populares sobre Maria é simples. Primeiro declaramos a defesa
católica e, em alguns casos, também protestante de suas crenças sobre Maria, e
em seguida, submeteremos tais crenças à avaliação bíblica. Isto significa que o
artigo está dividido em duas partes, de acordo com cada uma destas crenças.
Parte I - clique: A Perpétua Virgindade de Maria
Referências:
1. Richard N. Ostling, “The Age of Mary,” Time, 30 de dezembro de 1991,
p. 42.
2. Ibid.
3. Ibid.
4. “The Meaning of Mary,” Newsweek, 25 de agosto de 1997, p. 36.
5. Time (note 1), p. 42.
6. Veja por exemplo, Beverly Roberts Gaventa, Mary; Glimpses of the
Mother of Jesus (1995) e a coleção de composições que ela co-editou chamada
Blessed One; Protestant Perspectives on Mary (2002). Robert
Jenson defende o papel de Maria em seu dois volumes monumentais de Systematic
Theology (1997 and 1999) e na coleção de composições que ele co-editou, Mary;
Mother of God (2004). Todos estas composições elevam o papel de Maria no Plano
da Salvação. Anos de diálogo ecumênico entre católicos franceses e protestantes
produziram um livro intitulado Mary in the Plan of God and in the Communion of
the Saints (1999). O livro chama tanto católicos como protestantes para uma
“conversão” no assunto de Maria.
8. Charles Dickson, A Protestant Pastor Looks at Mary (1996), p. 110.
9. Jason Byassee, “Protestants and Marian Devotion: What about Mary?”
10. Will Ashenmacher, “Muslim, Christians Discuss Mary,” The Marquette
Tribune, September 14, 2004, Section on News.
11. Catechism of the Catholic Church, (San Francisco, CA, 1994)
Parágrafo 841, Ênfase acrescentada.
12. Ludwig Ott, Fundamentals of the Catholic Dogmas (1960), p. 203.
Estudo de Autoria do já falecido
Dr. Samuele Bacchiocchi
Professor
jubilado de teologia da Universidade Andrews, publicado através da Newsletter End Time Issues nr. 191 no site Biblical Perspectives
Para Maria atuar na forma de mãe da humanidade ela precisaria ser como Deus, onipresente, ou seja, estaria em todos os lugares. Deus daria este poder a ela? se daria porque a Bíblia não fala nada a respeito principalmente no livro de Apocalipse já que retrata os tempos que estamos vivendo? Bom seria estudar com sinceridade o Apocalipse 17. Quem é essa igreja? Jesus é o nosso único mediador isso a Bíblia diz.
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