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Repensando a Antítese de Frei Beto: De Volta ao Tempo das Catedrais


 Certa feita, Frei Beto estabeleceu o contraste entre a Catedral e os Shopings Centers. Segundo ele, nos dias de antanho, a construção de uma Catedral era o maior quesito na elevação de status de uma cidade. Porém, hoje -- assim considera o autor --,  na modernidade,  o maior item para a elevação da grandeza de uma cidade ocorre quando no erguimento de um Shoping Center

O fato evidente na dita comparação é que em ambos há uma promessa de felicidade e de realização, divergindo apenas a ênfase acerca da fonte da mesma. No paradigma antigo, era da Catedral, de onde se buscava as verdadeiras riquezas, os bens da graça, na celebração da comunhão da família e da paz com Deus. Era da Divindade que se originava a alegria verdadeira que conduzia a um evidente ordenamento interior e à unidade da família. Assim, o maior programa da família na semana era quando todos se uniam, com a melhor roupa, família de mãos dadas, rumo à igreja, na busca de Deus e das riquezas eternas.

Entretanto, no paradigma moderno, a promessa de sucesso e realização vem do exterior, baseada na ideologia consumista, da ostentação e do materialismo presente nos Shopings. Nessa concepção a felicidade se dá no ter, e não no ser. Por isso, para a família hodierna, em certo momento, o lazer substituiu a devoção, e no fim de semana, há mais presença nos Shopings Centers que nas Catedrais. Enquanto os Shopings lotavam, as igrejas se viam cada vez mais vazias. Para Frei Beto, O Shoping tomou o lugar da Catedral.

Digo isso porque na maioria dos movimentos cristãos (ou neo-cristãos) contemporâneos, a barreira dos contrastes entre o Shoping Center e as Catedrais ha muito foi quebrada. Basta olhar: Nos modernos templos tudo se torna, na verdade, uma política mercantilista entre o terreno e o celestial, travestido de verdadeira religião e autêntica espiritualidade. A sede material tem sufocado a sede espiritual. A reflexão e a contrição, a busca da santidade e da caridade foram substituídas pelo comércio profano de amuletos mágicos, objetos místicos e outros ingredientes que são vendidos aos fiéis, a fim de possibilitar apenas a realização dos desejos voltados para essa vida. O consumismo entrou na igreja. Vemos a falência da simplicidade e o retorno da suntuosidade. Nesses modernos templos aprendemos a ler a Palavra apenas a fim de encontrar as promessas. O entendimento da Escritura cedeu lugar ao pensamento positivo, e o pregador deu lugar aos gurus da auto-ajuda e taumaturgos carismáticos. Nos tempos de hoje, de fato, a Catedral (igreja) se torna o Shoping Center.

Também poderíamos considerar outro aspecto: se as chamadas “orações de poder”, as águas bentas e a ênfase excessiva na presença e ação dos demônios não trazem de repente à memória o período do obscurantismo medieval, o que revela, não um crescimento, mas um retrocesso do movimento cristão e um claro afastamento das verdades proclamadas pelos Pais da Reforma, que condenaram em seus dias a diversidade de superstições e buscaram estabelecer um “culto racional” para os fiéis. Bem poderia aqui se aplicar as sábias palavras ditas em certo momento por um colega Pastor: "O conhecimento sem devoção leva ao legalismo; porém, uma devoção sem conhecimento fatalmente nos conduzirá ao misticismo". 

Podemos assim, conjecturar se haveria alguma distância entre a nossa realidade e aquela dos dias de Jesus, quando Ele mesmo erradicou de Seu Templo, o comércio profano realizado em nome de Deus (Jo 2:13-16). Se Ele entrasse na maioria desses templos na atualidade, Sua reação seria diferente?

Penso que esse fenômeno de crescimento do neo-evangelicalismo, todavia, é por um lado, uma chamada de Deus ao despertamento. Devemos, como os Pais da Reforma, denunciar o erro e por meio de nosso exemplo e devoção reabrir o caminho da veredas antigas, das verdadeiras fontes que saciam a sede interior do coração. Há uma chamada para a presença de homens comprometidos com a verdade do evangelho e estejam dispostos a dar à trombeta o sonido correto. 

Por outro lado, revela-nos claramente um desafio: que o presente momento nos pede um crescimento ordenado, com foco nas Escrituras, e de uma restauração do verdadeiro culto para Deus. Pois, o que vemos é que esse crescimento desordenado do neo-evangelicalismo tem levado em muitos casos, a uma descrença do mundo na verdadeira grandeza da Igreja de Cristo. Digo isso porque é justamente nesse momento histórico que se tem percebido um sem-número de escândalos envolvendo os líderes cristãos dos novos tempos, o que tem comprovado uma antiga mas séria desconfiança daqueles que viviam à margem do cristianismo institucionalizado, a igreja. A saber: Que de fato, a religiosidade cristã, tão grandiosa em sua proposta, pode cair ela mesma na armadilha do cinismo e se tornar também um produto comum, produzido sob a medida dos gostos e para os fins egoístas do próprio homem. Para fugir da armadilha da vaidade humana, penso que a saída segura ainda é um claro retorno à Bíblia.

Todavia, contrário a tudo isso, ainda creio como João. Quando presenciava as angústias e apostasias do povo de Deus em suas visões apocalípticas  destacou a esperança de um remanescente para os dias do fim: Ele viu “a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e têm a fé de Jesus” (Ap 14:12). E ainda creio como Pedro, que à porta Formosa do Templo (At 3:1ss) nos ensinou uma profunda verdade: Que não são a prata e ouro as verdadeiras riquezas da Igreja, nem mesmo essa é a real necessidade do homem, mas sim o próprio Jesus Cristo, presente na comunidade e atento ás carências de Seu povo. Fugir a esta realidade é também fugir à essência de nossa missão, de nosso propósito como igreja e uma negação do próprio evangelho, que é o anúncio sobre o seguimento de Jesus Cristo.

Nesse tempo de crise, somos chamados a promover um retorno às Escrituras e (compreeendendo a força do símbolo), um regresso ao tempo das Catedrais.


Bibliografia consultada

BARRO, Jorge Henrique (Org.). Uma igreja sem propósitos. Editora Mundo Cristão. São Paulo, 2004.

BETO, Frei. “Do mundo virtual ao espiritual”. Em: http://recantodasletras.uol.com.br/cronicas/1326668


diponível para compilação, desde que não sofra alteração e a fonte seja citada

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