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Comentário do Profeta Ageu: Resenha Crítica

Por Cláudio Sampaio 

Nas pesquisas relacionadas ao estudo dos profetas menores, acabo de ler o pequeno comentário Ageu, Comentário Bíblico AT  (Petrópoles, RJ, Imprensa Metodista; Vozes; Sinodal, 1986. 82 págs). O autor é o renomado teólogo SCHWANTES, Milton. Natural do Rio Grande do Sul, Schwantes foi Biblista de orientação Luterana Brasileira. Foi também Dr. em Bíblia/AT pela Universidade de Heidelberg, Alemanha., com uma tese sobre “O Direito dos Pobres”; e Dr. Honoris Causa pela Universidade de Marburgo, Alemanha. Escritor prolífico, dentre as muitas atividades como professor, se destaca a de docente do programa de Pós-graduação e dos cursos de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo. Faleceu em 2012. 

Acerca de seu comentário sobre o livro de Ageu, pode-se dizer que embora seja uma leitura breve - assim como o livro bíblico o é - por outro lado é extremamente rico em detalhes. O estudo tem apenas 82 págs. e é composto de três partes distintas, como segue. 

1. Na primeira parte, a Introdução, o autor estabelece as informações básicas sobre o background histórico/religioso, as origens do livro e seu relacionamento com a história religiosa de Judá. Logo de imediato, quando se debruça na questão da datação e na busca de seu contexto histórico, afirma que para interpretar de modo contextual será preciso “sintonizar a fala [de Ageu] na hora certa” (pag. 9). E talvez devido a isso parece haver certa obsessão do autor na busca de uma exatidão de sua “hora”. Assim, ele parte de uma análise concisa da história de Israel desde 587, com a derrocada do Templo de Jerusalém até meados de 520 AC e as novas situações que se desenrolaram nesse período. Para Schwantes, o contexto é o que o próprio livro afirma em seu inicio – “segundo ano do rei Dario” (Ag 1:1) – seria, efetivamente, o momento das lutas internas do império persa, após a morte de Cambises (522), culminando com a entronização de Dario I em 520 AC. Nesse momento de transição, teria surgido Ageu, com sua temática acerca do Templo e do Davidismo. Nesse período, a temática do Templo surge em razão da insatisfação generalizada para com a dominação persa e sua tributação sobre os judeus remanescentes. Para Schwantes, Ageu deve ser lido na perspectiva dos remanescentes de Judá e de como eles absorviam os novos ares da política internacional, e não na dos repatriados. Com esse olhar sobre os remanescentes, Schwantes define aquilo que para ele é o tema principal, que sobrepujaria o do Templo, a saber, o Davidismo, a esperança messiânica, sendo esse tema a culminação de toda a obra. Nesse sentido, contextualiza o envio de Zorobabel como governador de Judá, citado em Ageu, como uma franca cooperação com a esperança dos judeus, que o teriam recebido como um “novo Davi” (pag. 15). 

Na análise do escrito de Ageu, Schwantes entende que o escrito “não representa um livro” (pag. 15), preferindo identificá-lo apenas como um “panfleto” que teria circulado na comunidade. Mesmo sendo um “panfleto”, Ageu tem “unidade” e uma “linguagem unitária” (pag. 16). Porém, afirma mais adiante que essa unidade seria um claro sinal de redação, com participação de compiladores. A conclusão deriva do fato de que Ageu é parte poesia e parte narrativa, e que “Ageu surge quando sua fala é transformada em letra” (pag. 17) por mãos de compiladores. A hipótese que se levanta é que esse panfleto teria circulado pela influência dos levitas que bem poderiam ter sido seus compiladores. E então surge a pergunta: Seria Ageu um levita? Schwantes o destaca como um “mensageiro” e não apenas profeta (pag. 17). Seu nome (hebr. Haggay = festivo) indica que teria nascido em dia de festa, mas não seria um nobre, embora pudesse ser ligado ao Templo, um levita, talvez. Mas são apenas hipóteses. A única certeza de Schwantes é que Ageu seria um dos remanescentes da terra, pela evidência interna (p. ex.: Ag 2:4). Seu lugar da profecia seria Jerusalém onde oferecia uma “animação para o trabalho” (pag. 19). 

Schwantes observa em Ageu certo “esmero” na datação. De fato, o livreto bem conciso, e desde o começo, se dedica a fornecer até mesmo o dia e o mês da apresentação de suas mensagens (Ag 1:1). Com base nisso, Schwantes percebe que Ageu abrange o período desde 01 de julho (1º. dia do sexto mês do 2º. ano de Dario – Ag 1:1) a 18 de dezembro (24º. dia do 9º. mês do 2º. ano de Dario – Ag 2:10-18) de 520 AC. Sua obra abarca o período do fim da colheita em agosto e finda com a chegada das chuvas em dezembro, coincidindo com a Festa dos Tabernáculos. Porém, entende que essas datas foram estabelecidas pelos redatores, e não servem para limitar o trabalho de Ageu, que teria atuado tanto antes (desde 522 AC) quanto depois de 520 AC (até 515 AC). As datas apenas “esquematizam o livreto” (pag. 19). 

2. Na segunda parte, o autor se propõe a comentar o texto bíblico, aplicando os pontos já estabelecidos em sua Introdução, com foco nas temáticas principais. Entendendo que Ageu se apresenta como um “mensageiro”, Schwantes busca entender o livreto como uma “mensagem”. Seguindo suas três seções principais, ele aborda o livreto como segue: 1) Para a seção de 1:1-15a, a mensagem seria: “É tempo de Templo” (pag. 23-38). Ageu convoca o povo. O povo ouve e atende. 2) Na segunda seção de 1:15b – 2:9, a mensagem seria: “Ficai firmes! Trabalhai!” (pag. 39 -47). Aqui, o trabalho de Ageu é animar o povo na obra de edificação. 3) Na terceira seção de 2:10- 23), a mensagem seria: “Naquele dia: Um novo Davi” (pag. 49-65), o tema culmina no Davidismo, com a proclamação dos tempos messiânicos, e a chegada de um novo Davi. 

3. Na terceira parte, intitulada Mensagem, o autor se detém a resumir a “mensagem” de Ageu, refletindo no conteúdo abordado. Avalia os elementos traditivos e amplia a função da temática do Templo, insistindo que este serve apenas como um mediador do tema principal, o Davidismo. Explica como a relação do povo com o Templo influenciava a natureza e o cosmo, o seu sentido na história e a forma como a experiência concreta com Javé sustentou o profeta, sua mensagem e a esperança do povo. Na conclusão, Schwantes olha para a dimensão social em paralelo com a atualidade e vê a necessidade de que Ageu seja lido dentro de uma perspectiva cristológica, no contexto de uma teologia libertadora. 

Uma avaliação da obra permite perceber o esforço do autor em tornar relevante sua temática para a atualidade. Uma peculiaridade notável é o cristocentrismo, que busca em todo o tempo conduzir o leitor para a dimensão cristológica do livreto como sua ênfase principal. Todavia, pela ênfase em uma proposta libertadora, o autor se detém bem pouco na exegese e na análise linguística, buscando mais uma leitura homilética. Em diversos momentos se perde em afirmações polêmicas sem sustento bibliográfico como no caso das datações tardias para diversos livros bíblicos. Pelo fato de seguir uma linha não ortodoxa, Schwantes se desgasta na tentativa de conduzir as palavras do profeta para a sua própria perspectiva política, na temática de opressor e oprimido e conflitos de classes. Contudo, embora o Comentário seja pequeno em dimensão, o autor se realiza bem sua proposta, levando o leitor a perceber de perto os dramas e desafios do povo bem como a força da mensagem de Ageu tanto para aqueles quanto para os seus dias. - - (Claudio Soares Sampaio).

Obs: colaborou nesse artigo Uziel Prates.

diponível para compilação, desde que não sofra alteração e a fonte seja citada

Um comentário:

  1. Olá Cláudio!! Muito bom texto. Estou realizando um artigo cientifico para a conclusão do curso de Teologia e seu texto foi excelente para agregar algumas informações. Parabéns!!

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