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Salmo 133: A Unidade do Povo Como Dádiva de Deus


O salmo 133 é um dos salmos mais curtos da Bíblia, mas riquíssimo de lições e orientações para aqueles que vivem em comunidade, como povo de Deus. Fala em todo tempo sobre a unidade e muito nos lembra o desejo de Jesus em sua última noite com seus discípulos (João 17) quando apelou para que a igreja nascente vivesse sob a égide da fraternidade. E ao mesmo tempo, este salmo nos confronta em nosso tempo, pois se nota que este tem sido um dos mais gritantes desafios do povo cristão que segue a caminho.

I


Desde muito cedo, a tradição rabínica tem dado crédito a Davi na composição do salmo 133. E como os demais "salmos de romagem" do saltério, foi adotado para a ocasião das Festas Anuais, quando o povo concorria para o santuário em Jerusalém com finalidade de adoração. Algumas figuras de linguagem precisam ser bem entendidas para uma boa compreensão do texto. Há referências específicas a pessoas e a lugares geográficos que foram dispostos ali com uma finalidade específica, e sua riqueza não pode ser perdida de vista, na leitura e meditação do salmo.

No verso 01 faz-se referencia aos "irmãos". E estes ditos irmãos com certeza são aqueles peregrinos que eram convocados para as sete Festas do calendário litúrgico, e que por curto espaço de tempo se esqueciam de suas amarguras e diferenças e se dispunham a uma peregrinação ao santuário em Jerusalém, a fim de fruir instantes alegres e festivos com a comunidade reunida. 

Em seguida, no verso 02 faz-se referência ao "óleo precioso" e a "Arão". O óleo precioso mencionado aqui se refere ao óleo da unção reservado apenas para os reis e sacerdotes separados para oficiar na presença de Deus. O óleo derramado sobre a cabeça de Arão e que descia para a gola de suas vestes era com certeza uma lembrança do momento em que se instituiu o sacerdócio que doravante ministraria diante de Deus em benefício do povo, nas ocasiões de festa, a fim de reunir as famílias  em adoração. A unidade vivida e presenciada nessas ocasiões, era para o salmista um sinal de que o óleo de Deus que ungiu a Arão e o separou para o serviço encontrava um sentido na unidade do povo com seu Deus, nos momentos de adoração diante dEle. De fato, o que Davi queria dizer é que se o óleo dava a Arão a capacitação para servir o Senhor em Seu santuário, semelhantemente, era a unidade do povo que os tornava aceitáveis diante de Deus, quando se reuniam diante dEle para adorar. 

No verso 03, se menciona o "orvalho do Hermon", os "montes de Sião" e a figura do "Senhor", que desde as alturas nevadas do monte, ordena Sua benção para o povo. O orvalho do monte Hermon se consistia na brisa orvalhada que descia do pico nevado do Hermon e regava a planície do Jordão, onde se notava a fertilidade da terra, que era prodigiosa na abundância de frutos e pastos para o gado. Além disso, a neve do Hermon, ao receber o sopro dos ventos termais do deserto, deixava fluir um rasto de água que se fazia em uma pequena fonte ao pé do monte, mas que em curso, no contato com afluentes se tornava o grande Rio Jordão que abastecia a terra de Israel com sua abundância de águas, antes de desaguar no amar Morto. E na mente de Davi, mesmo onde o Jordão não alcançava, o orvalho soprado pelos ventos de Deus abençoavam toda a nação, favorecendo aos montes de Siao, ou seja, a Sião em toda a sua geografia. Nesse caso, Sião, mencionado no texto, local onde se construiu o templo e o palácio do rei, era o local da congregação dos irmãos, e onde de modo concreto eram todos bafejados pelos ventos orvalhados que desciam do monte, e ao mesmo tempo, bebiam todos da mesma água e comiam dos mesmos frutos que eram dádivas diretas do cuidado de Deus pelo povo.

II


Depois de compreendidos os símbolos, precisamos agora nos achegar às lições da Palavra para o dia de hoje.

Em primeiro lugar, o salmo nos ensina que a vida em unidade está no centro do desejo de Deus para Seu povo. No momento em que ungiu a Arão com o óleo sagrado foi o momento em que se estabelecia o sacerdócio e o pacto entre Ele e a nação e os tornava um povo separado. De modo que se compreende que é quando o povo de Deus se congrega, que todos encontram o sentido maior de sua vocação: O destino de serem uma só familia, a família de Deus. E nessas ocasiões, é como se todos fossem ungidos pelo óleo da consagração e adequados para servir e adorar ao Senhor. Disso nos dá conta também Jesus, quando pediu que os discípulos buscassem permanecer em Jerusalém unidos, até que fossem ungidos pelo poder do Alto. E conforme as Escrituras, foi por meio da unidade em oração que sopraram os ventos de Deus  sobre eles, e criou-se a igreja, conforme Atos 02. 

Em segundo lugar, nos ensina que é o próprio Deus quem nos proporciona a unidade. Vemos isso de forma concreta nos símbolos expostos no salmo. Ele é aquele que convoca as tribos para o encontro. E é Ele quem cria a comunidade e estabelece o sacerdócio. E é também Ele quem "ordena" as bênçãos ao povo. De forma clara, Ele é quem faz com que desça a neve e o orvalho. O fato de se mencionar que o orvalho "desce", seja pelo sopro dos ventos ou pelo clamor das águas que formam um rio, se entende que as bênçãos vêm das alturas, das mãos soberanas de Deus, para que todos sejam saciados. Nada por si só vem das mãos frágeis dos homens e de seus recursos limitados. Sendo partícipes de um só Deus, de uma só nação, eles encontravam o sentido da comunidade quando celebravam sua dependência coletiva de Deus e O agradeciam pelo Seu cuidado manifestado por eles. Assim, a lição aprendida era que estavam unidos porque Deus se agradou de repartir com eles suas dádivas, de livra-los de uma fragmentação que certo os levaria a morte, de modo que ninguém se sentia orientado a pensar que alguém, por si só, era o detentor das riquezas, mas que todos eram dependentes de igual modo do cuidado paterno do mesmo Deus. Desse modo, aprendemos com este salmo o sentido daquilo que afirmamos viver como igreja: Somos um povo que caminha sob o olhar da misericórdia e do cuidado de Deus que a cada dia reparte conosco Seus dons e nos ensina a viver na partilha.

Em terceiro lugar, o salmo nos ensina que a unidade é o caminho para a experiência da alegria e da felicidade de nossa vida em comunidade. Desde o começo, se insiste: É "bom" e é também "agradável" que os irmãos "vivam em união". E de todos os modos, vemos que a unidade de pensamento e de propósitos diante de Deus é o que dá forma a uma comunidade forte, que através do apoio mútuo é capaz de vencer as dificuldades da caminhada. Mas também o contrário é verdade: Haverá sempre a marca da fragilidade em um povo que insiste no caminho da discórdia e na fragmentação em forma de partidos. Sobre isso, Paulo muito advertiu suas comunidades, especialmente a igreja de Corinto (como podemos ver: 1Co 3:1-9). Davi bem antes entendeu isso, ao receber um reino ainda em formação, e que bem fácil poderia se perder nos conflitos e discórdias pessoais. Era na adoração unida, no entendimento da graça do Deus que os criara como nação e que os mantia sob Seus cuidados, que ele formou seu discurso, que como vemos aqui, se tornou mais tarde um hino cantado em suas reuniões.

III


Em vista do compreendido, fica diante de nós o desafio: Que hoje, entendamos o caminho que Deus nos desafia a percorrer. Que compreendamos a verdade de que ninguém é de fato o possuidor das bençãos que lhe chega às mãos, mas que tudo que somos ou pensamos que somos, e que temos ou pensamos que temos - tudo procede das Mãos poderosas de um Deus que nos convoca a viver a benção da partilha, na imitação de Seu caráter amoroso. E que saibamos que esse mesmo Deus ainda nos sopra com Seu vento hoje, como nos dias da distante Judeia, soprava sobre o Monte Hermon a fim de que se distribuíssem Seus dons para os povos. - (Claudio Sampaio).




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