Header Ads

As Metáforas de Francisco no Discurso Ecumênico



Domingo, dia 25 de maio, Francisco visitou a Terra Santa e fez contatos com o presidente de Israel, Shimon Peres, e o presidente palestino, Mahmud Abbas, e os convidou a orar pela paz no Vaticano. É bom que se esclareça: Não era um convite a orar pela paz do Vaticano, mas pela paz de Israel, no Vaticano.  Ali em Belém, Francisco também foi até o muro onde havia uma pichação dirigida a ele, nos seguintes termos: "Papa, precisamos de alguém que fale de justiça". Além de um gesto simbólico, ao encostar a fronte ao muro na postura de um orante, em outro instante Francisco apelou os palestinos e israelenses a iniciarem um "êxodo" rumo à paz. Dada a frequência de suas metáforas ligadas ao tema do ecumenismo, deveríamos nos perguntar sobre o que o Papa tenciona de fato, comunicar nas entrelinhas.

A Sutileza de Francisco


É lógico que sendo inteligente como é, Francisco soube usar de forma adequada as palavras. Todo o conflito em Israel tem sua base na ideologia religiosa. Dessa forma, o chamado para um "êxodo" e o apelo a irem ao Vaticano, a "casa" do Papa, para orarem pela paz não foi usado a esmo. Quem conhece o discurso por traz da fala, entende que Francisco de forma sutil anuncia o Vaticano como o local de chegada desse "êxodo" pela paz, proposto por ele. E é óbvio que estabelecer a liderança do Catolicismo nessa busca pela paz é o ponto central da política ecumênica de Francisco e de todos os Papas que o antecederam, desde a ruptura Protestante, iniciada em 1517.

Esta proposta de uma ida ao Vaticano, sede do domínio papal, como um local do encontro e da paz foi também reforçado por Francisco em uma mensagem enviada por ele a um grupo de cristãos neopentecostais reunidos sob a liderança de Kenneth Copeland, no Texas, meses atrás. Aos líderes reunidos, após um discurso animoso de Tony Palmer, bispo anglicano, o Papa se valeu de uma linguagem simbólica, ao se referir ao episódio da traição dos irmãos de José, relatado no livro de Gênesis 37-45 para transmitir um apelo a unidade. Para Francisco, a separação entre os cristãos, como ocorreu entre José e seus irmãos, é fruto de um pecado cometido no passado e precisa ser superado. Para reparar a falta, aos irmãos de José cabia irem ao Egito, em busca de pão. E na busca do pão, encontrariam o irmão, e com ele a alegria da família reunida. Nas palavras do Papa:
“Eles tinham dinheiro, mas não podiam comer o dinheiro. Foram ao Egito comprar comida, mas encontraram mais que comida, encontraram o irmão. Nós também temos dinheiro, o dinheiro da cultura, o dinheiro da nossa história, tantas riquezas culturais, riquezas religiosas, e temos diversas tradições. Mas temos de nos encontrar como irmãos. Temos de chorar juntos, como fez José. Estas lágrimas unir-nos-ão, as lágrimas do amor.”
Obviamente, a linguagem usada pelo Papa em ambos discursos tem base em um ardil. Como comentou Doug Batchelor, evangelista americano, o discurso de Francisco não se tece com base em fatos históricos. O que se sabe é que o rompimento da cristandade com o papado romano foi com base na compreensão de que o catolicismo havia traído as bases da fé cristã e corrompido as doutrinas de Cristo. A comparação bíblico-histórica só poderia ser bem aplicada se houvesse uma caminhada de reconciliação e submissão do irmão traidor para com o irmão traído. No caso de Francisco, a metáfora está invertida: Os que traíram são os Protestantes. E no ecumenismo, não é o traidor quem viaja até o traído em busca de redenção. Agora são os Protestantes quem devem ir até o "Egito", fazer o "êxodo", retornar para ao lugar da paz e do encontro, ou seja: ao Vaticano, ao Catolicismo.

 Reinterpretando a História


A ruptura iniciada pelos Reformadores, desde John Huss e formalizada por Lutero em 1517 tinha uma base teológica e Escriturística. Eles não estavam envolvidos com ciúmes ou sede de poder e prestígio mundanos. Muito menos ficaram preocupados com a paz acima de qualquer coisa, depois da cisão ocorrida. Muito pelo contrário: que houvesse  a divisão, se era o preço para sua fidelidade a Jesus Cristo e Sua Palavra. Há uma frase atribuída a Lutero que se aplica ao exposto aqui: "A paz, se possível. Mas a verdade, a qualquer preço". Uma análise sincera revela que se alguém foi traído, certamente não foi o papado, mas sim o Filho  Amado, Jesus Cristo, na pessoa de seus seguidores.

À luz desta interpretação, o mínimo que se esperava do Catolicismo, isto é, dos irmãos que "traíram", é que viessem aos seus irmãos "traídos" e confessassem seu erro e se convertessem das causas do Protesto. Tal não ocorre.  Curiosamente, o que se vê no ecumenismo hodierno, no qual muitos se deixam enredar, é a proposta de que o que mais importa é a unidade, mesmo que esta esteja em desacordo com Cristo e Seu evangelho. E com esse gesto, acolhem a proposta de que de fato, os Protestantes estavam errados, e o papado romano, correto. Nesse caso, numa evidente metáfora invertida, "José" se torna assim a figura representativa do Catolicismo, aviltado pelo ódio e ciúme de seus irmãos, que causam a ruptura da família.

Sobre os judeus e palestinos, a história é longa. Hans Küng, em seu livro "Sobre Ser um Cristão", publicado em 1976 reconheceu que apesar de o Holocausto ter sido desenvolvido por ateus e anticristãos, isso só se tornou possível pelos quase 20 séculos de anti-judaísmo sustentado pela igreja cristã. Foi pela introdução do antissemitismo perpetrado especialmente pelo Catolicismo na época das Cruzadas e no tempo do Holocausto (aqui e aqui) que houve o massacre dos judeus e sarracenos.  Oskar Skarsaune denuncia em seu livro "À Sombra do Templo" que  bem antes da interferência de Roma no Cristianismo, o ódio  por parte do império romano em relação aos judeus cristãos, devido a sua herança judaica já era evidente. Para eles, os judeus eram inimigos de todos os homens. Essa rejeição dos gregos e romanos pelos judeus teria levado a igreja a renunciar a todos os traços que os ligavam á religiosidade judaica e abraçasse aqueles que os aproximava da cultura imperial.

Sammuelle Bachiocci, em sua tese doutoral pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, em 1977 afirmou que já nos dias do século 2, quando a igreja se envolvia com a religiosidade e cultura romana, que se iniciou a ruptura da ala dominante para com todos os elementos do Judaísmo, inclusive com o sábado do Quarto Mandamento. A renúncia dos Dez Mandamentos e a introdução da domingo em substituição ao sábado semanal como dia sagrado e  de imagens na liturgia e adoração, por parte do Cristianismo institucionalizado teria raízes comprovadas no anti-judaísmo cristão, em sua fase sob liderança romana. Este ódio aos judeus, a igreja romanizada receberá como herança, à medida em que ela avança nos laços com o poder imperial. Fosse uma leitura adequada, também o caminho de volta às raízes judaicas da fé, em arrependimento e contrição, deveria ser por parte do Catolicismo. Mas agora, ele se torna o promotor do "êxodo", através do qual os povos e crenças se encontram para a comunhão. No caso dos judeus, unidade poderá ser encontrada, mas, quiçá, com o sacrifício da fé herdada dos profetas.


Concluindo


Do modo como se vê celebrado, Francisco está de fato realizando a façanha proposta. O "êxodo" está em curso. Os traidores estão se tornando os "traídos", e logo veremos o povo em marcha no seu local de chegada. Mas dessa vez, contrariando a história bíblica, o caminho será o de retorno ao Egito, e não para sair dele. E é lá que "José" mais uma vez, após ser vendido,  se fará escravo. - (Cláudio Sampaio).

Apêndice:


Abaixo, um auxílio sobre o tema.



Cite a fonte = http://pastorclaudiosampaio.blogspot.com

Nenhum comentário

Sua opinião é importante para mim. O que você pode acrescentar? Entretanto, observe:

1. Os comentários devem ser de acordo com o assunto do post.
2. Avalie, pergunte, elogie ou critique. Mas respeite a ética cristã: sem ataques pessoais, ofensas e palavrões.
3. Comentários anônimos não serão publicados. Crie algum nome de improviso para assinar o escrito, caso não queira se identificar.
4. Links de promoção de empresas e sites serão deletados.
5. Talvez seu comentário não seja respondido imediatamente
6. Obrigado pela participação.