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A Fé de Abraão: Dois caminhos, Dois Destinos



Penso que nenhum personagem do Antigo Testamento tenha causado mais impacto no pensamento religioso do que a figura de Abraão, conseguindo ser um elo entre Judaísmo, Cristianismo e Islamismo, três grandes expressões da religiosidade universal. Uma pena que a sua influência nesse sentido tem sido com um foco distorcido da realidade acerca de sua pessoa histórica. A "fé de Abraão", tem se tornado mítica. E ao contrário do impacto que causou no pensamento cristão na era da Reforma, no evangelicalismo moderno, ela se projeta apenas para a transitoriedade da matéria e não avança para além dessa vida. Mesmo além das fronteiras da fé cristã, tem-se feito um mal uso da figura de Abraão. Para se ter ideia, no decorrer dos anos, a "herança de Abraão" foi a razão dos constantes conflitos pela terra, na Palestina. Além disso, no ocidente, depois da década de 1950, muitas publicações ditas cristãs deram ênfase à fé de Abraão sob uma perspectiva mística e materialista, oculta sob um véu de falsa espiritualidade. Fruto disso, há quem perceba nessa distorção, a introdução das mesmas superstições que abalaram a fé cristã no período negro da Idade Média, o que tem levado muitos a ansiarem uma segunda Reforma no seio da Igreja. 

Mas quero olhar de forma distinta para o elemento materialista que passou a envolver o movimento evangélico, em sua relação com aquele que é chamado de "pai da fé". Meu propósito aqui é demonstrar que essa ênfase materialista acerca da fé de Abraão jamais encontrará respaldo nas Escrituras. Gostaria de analisar as raízes históricas desse pensamento, e em seguida, avaliar a experiência de Abraão na narrativa bíblica como um modelo de perseverança e de esperança que ultrapassa a realidade profana, cujo sentido avança para além dessa vida.

As Teologias Materialistas e Seu Impacto na Igreja

O século XX foi palco de grandes acontecimentos políticos que influenciaram grandemente a Teologia cristã, especialmente na América Latina, quando alguns governos totalitários tomavam o poder, restringindo os direitos do povo. No Chile, Argentina e no Brasil, por exemplo, houve um totalitarismo por parte do Estado, levando o povo à reivindicação de seus direitos, influenciando o discurso da Igreja. Essa reflexão acerca de como agir no momento histórico, deu luz à chamada Teologia da Libertação. 

Essa Teologia, tendo como influência a corrente de pensamento desenvolvida por Moltmann com sua Teologia Política, teve como precursores na América teólogos como Richard Schaull, Joseph Comblin e Rubem Alves, sendo desenvolvida por outros como Gustavo Gutierrez, Hugo Assmann e Leonardo Boff. A ideia propagada era que diante do quadro de opressão prevalecente, falar apenas de uma salvação futura não estaria de acordo com a realidade histórica da igreja. Era comum apontar o dinheiro como a fonte de toda maldade, apontando o caminho de Jesus como sendo apenas o da caridade em favor dos pobres. Em lugar de apontar a vida futura como o lugar da libertação prometida por Deus, esse ramo teológico buscava uma mobilização contra as forças da opressão já nessa vida, no tempo dito "histórico", a fim de que o tempo de justiça idealizado na mensagem de Cristo se tornasse uma realidade definitiva, alcançada pela ação da igreja em favor dos oprimidos. Assim, embora fosse materialista em sua essência, a demonização do capital e da riqueza era algo comum, nesse discurso.

Por outro lado, também na tentativa de atender às carências imediatas do povo, o próprio evangelicalismo buscava uma linguagem para este momento existencial do Cristianismo, ao apresentar uma nova opção pela plenitude de vida com base unicamente na realidade material. E isso se deu quando se estabeleceu uma linguagem teológica fundamentada também na prosperidade secular como sendo uma resposta à liberalidade do crente.  Falo aqui daquilo que mais tarde será cunhada como sendo a "Teologia da Prosperidade". Se o foco da Teologia da Libertação era a condenação do capitalismo, nesta, essa ideologia capitalista era promovida de forma escancarada.

Kenneth Hagin (1917-2003)
Um dos vultos que influenciaram seu começo de forma destacada foi o religioso americano Kenneth Hagin (1917-2003), que ficou conhecido como o "pai" do carismatismo, da confissão positiva e da Teologia da Prosperidade, cuja mensagem se baseava na ideia de que o crente que oferta seus recursos materiais a Deus tem sua recompensa imediata nesta vida. Essa Ideologia (mais que uma Teologia), desvirtuou uma legião de seguidores, que abarrotaram seus templos como aqueles que buscavam no Cristianismo apenas a solução imediata para seus problemas, ignorando, na maioria das vezes o chamado de Cristo para uma vida de compromisso e fidelidade. 

Livros como “Como Tomar Posse da Bênção”, “As Bênçãos que Enriquecem”, “A Fé de Abraão”, “O Caminho Bíblico para a Bênção” e “Vida com Abundância”, entre outros, são exemplos desta abordagem teológica que influenciou uma geração de pastores e ministérios independentes. Desse modo, com uma Teologia completamente dependente do Materialismo, um modelo de Cristianismo para o nosso tempo tem se estabelecido como apenas uma alavanca de sustentação das necessidades materiais imediatas. E nesse contexto, a fé de Abraão se torna um veículo de um discurso ideológico para a ideia do apego às promessas divinas como sendo relacionadas apenas às coisas imediatas da vida. Tornou-se comum a afirmação de que aquele que tem a fé de Abraão sacrifica seu tudo para obter a recompensa de Deus que teve Abraão. Seria verdade, se a aplicação não se resumisse apenas à realidade dessa vida. Em resumo: O dinheiro é o sacrifício; a fé é a confissão positiva; a salvação é o sucesso financeiro e mundano; a perdição se torna o fracasso material.

O que poucos sabem, entretanto, é que o próprio Hagin teria deixado em seu leito de morte a confissão de sua desilusão com esta proposta dita "teológica", em vista de seus danos no seio da Igreja Cristã. Antes de sua morte teria reunido seus discípulos, juntamente com seu próprio filho e repreendido a todos pelo modo como teriam manipulado seu discurso e própria Bíblia para sustento de suas ambições desenfreadas e materialistas. Sua abordagem honesta diante desse problema se encontra claramente exposto no livro "O Toque de Midas", publicado em 2003 (leia aqui), no qual o autor condena a falácia deste programa teológico e os prejuízos causados ao povo cristão. De modo definitivo, podemos também discordar da resposta cristã para o mundo moderno como dependente de uma ideologia materialista, que promete o Céu na Terra, e por isso, de nenhum modo deveria se confundir com ela.


Fazendo uma leitura desses ramos teológicos (a saber a Teologia da Libertação e a Teologia da Prosperidade), o que se nota é que ambas, na tentativa de atender às carências imediatas do povo, pouca ênfase dedicava à vida futura, à esperança escatológica como a bem-aventurança prometida como sendo o Reino de Deus. Não sem razão, Batista Mondim, em seu clássico "Os Teólogos da Libertação", situa as teologias pós-século 16 como fruto de uma "guinada antropológica", cuja ênfase primária se tornou o homem e suas necessidades (humanismo), deixando a realidade transcendente em segundo plano. 

As duas perspectivas teológicas foram e ainda são muito combatidas pelos teólogos conservadores de nosso tempo, entendendo que essas posturas anulam a grandeza da mensagem de Deus contida no evangelho, cujo foco de esperança jamais se realiza no Homem, mas em Deus. 

Mas poderíamos encontrar em Abraão o exemplo do caminho proposto por Deus? Eu penso que sim. O caminho de Abraão, esboçado na Bíblia ainda se revela um caminho vivo, no qual podemos encontrar a plenitude de vida anunciada pelo próprio Cristo (Jo 10:10) e tão ansiosamente desejada pelo nosso coração cansado. Sim, podemos ver isso de modo claro na experiência do grande patriarca Abraão! E para nosso aprendizado, enquanto caminhamos com o grande patriarca, levantemos a seguinte questão: Seria apenas no âmbito dessa vida que deveríamos buscar a plena realização humana e a concretização das promessas de Deus?

O Caminho de Abraão Segundo as Escrituras

Acabo de ler os capítulos 12 a 23 do livro de Gênesis e ao mesmo tempo em que pensei em Abraão, eu me lembrei dos seguidores de Hagin. Fiquei espantado pela riqueza de detalhes do modo como Deus estabelece lições importantes para uma verdadeira compreensão acerca do Seu chamado a cada um de nós que viemos a este mundo de desencontros e sofrimentos -- chamado esse que nos leva sempre e mais para cima, para o nosso encontro com Ele mesmo, em Quem encontrarmos nossa Verdade que é ao mesmo tempo a nossa origem e o nosso ponto de chegada.

Pensemos em Abraão. Diz a Bíblia que Abraão vivia em "Ur dos caldeus" (Gn 12:1). Apesar de poucos detalhes bíblicos envolvendo Ur, arqueólogos e historiadores concordam que esse local era na verdade um grande centro populacional da Palestina daqueles dias.  Luxo, promiscuidade e idolatria podem ser descritos como ingredientes daquela ambiente que fora o primeiro lar de Abraão. Poderíamos dizer que era ali o local no qual se encontravam os melhores centros de prazer daqueles dias. A chance de sucesso financeiro e empresarial ou mesmo de satisfação pessoal imediata certamente seria melhor experimentada em Ur, quando até mesmo a religiosidade se mesclava com a promiscuidade sexual e dela dependia. Desse modo, podemos afirmar que se a plenitude de vida se resumisse apenas no âmbito do materialismo, era ali o melhor lugar para se viver. Escavações arqueológicas dão conta de que ali havia até mesmo aqueduto e sistema de esgoto!

Mas em Gênesis capítulo 12:1-3 vemos Deus chamando a Abraão, que naquele tempo era ainda conhecido como Abrão: “Abrão, saia da casa de seus pais e vá para uma terra que eu te mostrarei pois de você eu farei um pai de grande multidão”. Deus deu para Abraão promessas como cada lugar que ele pisasse seria dada a ele e a seus filhos. E a Bíblia afirma que Abraão creu em Deus e obedeceu, saindo de sua terra em busca da terra da promessa.

Mas o que vemos na sequência da história de Abraão? A Bíblia diz que ao chegar na terra prometida, de imediato Abraão encontrou apenas provações. Notamos dificuldades como a fome, de modo que teve de se desviar para buscar refúgio no Egito. Enfrentou também a hostilidade do povo, de modo que mentiu sobre sua real ligação com sua esposa Sara a fim de proteger a própria vida. Mais adiante, enfrentou a guerra. Mas o pior era a aparente ausência do cumprimento das promessas de Deus. O filho prometido não chegava nunca, e os anos se passavam velozmente. Chegou um momento em que Abraão buscou até mesmo auxiliar a Deus no cumprimento de Sua promessa, ao tomar Agar, serva egípcia de Sara, como segunda esposa a  e dela gerar um filho. Mas essa tentativa teve a reprovação de Deus.

Algumas explicações foram dadas para a aparente demora de Deus. A mim me agradou por muitos anos o argumento de que Deus aparentemente aguardava a maturidade da fé de Abraão. De modo claro podemos ver essa caminhada da imaturidade para a maturidade na caminhada de Abraão com seu Deus. A cada teste, Abraão fracassava, enquanto Deus amorosamente o conduzia para o caminho da confiança. Quando o filho da promessa nasceu, era como se iniciasse uma nova era na vida do patriarca. 

Porém faltava ainda o teste definitivo. Em Gênesis 22, como teste cumulativo e final, vemos Deus pedindo a Abraão o sacrifício de seu único filho. Abraão obedeceu e seu filho foi poupado no último momento. Em decorrência disso, Deus veio outra vez a Abraão e reafirmou o pacto, dizendo: “Muito bem, Abraão. Agora você provou que me adora de verdade. Por isso eu te digo que você será grande. Sua descendência será como as estrelas do céu e como a areia da praia do mar. Você conquistará a porta de seus inimigos (Gn 22:17).

Mas um quadro novo se abre quando lemos Gênesis 22:22. O relato que se inicia com as palavras: “depois dessas coisas...” que coisas? Se considerarmos o contexto imediato, as “coisas” a que o texto se refere seriam os acontecimentos e diálogos descritos nos versos anteriores. Entretanto, uma leitura atenta estabelece certos contrastes que vale a pena refletirmos neles. E nessa leitura perceberemos que se era desejo de Abraão que o momento áureo do cumprimento das promessas chegasse, ele teria de fato, grande decepção. 

Comecemos, em primeiro lugar, pelas novidades apresentadas a Abraão por um enviado de sua parentela de Ur. As noticias que chegaram afirmavam que seu irmão Naor agora era pai de doze filhos e quatro netos, inclusive de Rebeca, a bela moça que futuramente se tornaria a esposa de seu filho Isaque.

Pensemos, em segundo lugar, em como teria ficado o coração de Abraão naquela ocasião. Qualquer um de nós teria enfrentado um sério questionamento nesse momento. Não era esse um aparente contra-senso? Não deveria ser ele, Abraão, aquele que recebera o chamado da promessa divina, ser o pai de muitos filhos? Como seu irmão, que havia ficado em Ur, estava em melhor situação, com tantos filhos e netos, enquanto ele possuía apenas um filho, ainda solteiro? 

Não bastasse, em terceiro lugar, pensemos para mais longe: o quadro se agrava quando percebemos em Gênesis 23:1-2, que Abraão se encontra chorando a morte de sua esposa querida. A dor de Abraão se encontra exposta quando a Bíblia diz que ele se colocou na presença do povo e para lamentar e chorar pela sua morta. Considerando o fato de que pessoas idosas sofrem a perda dos entes queridos com mais intensidade que os mais jovens, podemos entender que aquela perda não foi fácil para Abraão.

Como último ponto, o que  percebemos é que já no final de sua vida, Abraão não tem nem mesmo uma eito de terra para sepultar sua querida morta. Após uma conversa com os príncipes do lugar, ele pagará um alto preço por um pedaço de chão no qual se encontra uma caverna onde sepulta sua querida Sara. Entenda: O único pedaço de terra que Abraão possuiu na "terra da promessa", ele teve de comprar com seu próprio dinheiro!

Agora podemos com mais clareza entender a intensidade do drama no qual Abraão poderia se encontrar. Onde estavam as promessas de posse da terra e família numerosa? Deus havia falhado? Como entender o sentido da promessa de Deus a Abraão quando aparentemente tudo que ele mais desejava e esperava se esvaía de suas mãos como água fugidia, ou se desvanecia como fumaça diante de seus olhos envelhecidos?

Porém é justamente nesse momento que a verdade acerca do chamado de Deus para uma vida mais plena alcança o sentido na experiência de Abraão. E para entendê-lo, é preciso que mergulhemos de novo na dolorosa realidade da existência como o próprio Abraão assim mergulhou. De fato, como mencionei em outro post, este é um mundo marcado pelas perdas. Gosto de citar a perspectiva de Leonardo Boff, que em seu livro assim deixou claro quando argumentou que a existência humana caminha sob o domínio da morte, e não da vida. As doenças, as marcas dos anos, seja nas rugas, nas calvícies, nos achaques, até o desalento de tudo, são sinais evidentes de que a morte, e não a vida nos domina em nosso tempo de peregrinação, e cada instante vivido é um lento caminhar ao encontro daquela que é nossa inimiga e incessantemente também caminha ao nosso encontro. Não se domina a morte pela força do homem, nem se resiste a ela com a busca de realização materialista. Jesus mesmo entendeu essa realidade quando afirmou que apenas aqueles que criam nEle passavam da morte para a vida (Jo 5:24), e que apenas Ele teria a graça de uma vida em abundância (Jo 10:10).

Diante disso, podemos afirmar que a ênfase da esperança Cristã não se detém na promessa das riquezas, no brilho e na ostentação materialista. Mesmo abusca desenfreada do status, das revoluções sociais e pelas aquisições terrenas. Citando de novo Paulo, “se a nossa esperança em Cristo se baseia apenas nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” (1Co 15:19). De fato: O coração humano deseja algo mais que esta vida!

Então podemos aprofundar na compreensão alcançada pelo patriarca Abraão acerca do sentido da vida. De que valeria o cumprimento das promessas de Deus unicamente no nível material, para Abraão? Teria ele entendido o real sentido da existência humana e um sentido oculto nas promessas de Deus alguns anos depois de seu chamamento? Segundo o autor de Hebreus, parece que sim.

A Esperança de Abraão Segundo as Escrituras

O autor de Hebreus, em 11:8, ao relacionar o grande elenco de heróis da Fé, fala da experiência de Abraão. Ele diz que Abraão, "quando chamado, obedeceu" e saiu "sem saber para onde ia", andando pela terra da promessa com em terra alheia. Ora, se era alheia, não era dele, mas de outros. Mas o verso 10 é o mais significativo, e é nele que encontramos a explicação de tudo: ali se diz que em meio a todas as desilusões, angústias, temores, provações e perdas, Abraão não se contentava mais com esta vida, e agora aguardava uma cidade eterna, cujo arquiteto e edificador era o próprio Deus.

Em seus anos de peregrinação, o que Abraão desejava para si mesmo e para sua família? Segundo o autor de Hebreus, ele agora desejava algo eterno. De nada lhe valeria a abundancia dos bens ou a amplidão da terra como herança, se essa promessa encontrava cumprimento apenas nesse mundo marcado pela finitude. Ele precisava de um lugar eterno, onde ele pudesse ter sua Sara e seu Isaque para sempre. E segundo a Palavra de Deus isso Deus dará a Abraão.

Um Caminho Para Todos Nós

Paulo liga essa promessa de Abraão à nossa realidade quando diz que todos nós que somos da fé, somos na realidade, filhos de Abraão (Rm 4:12, 16; Gl 3:6). Como Abraão, também nós caminhamos em um mundo marcado pela morte e pelo sofrimento. Todos os que vieram depois de Abraão trilharam a mesma senda, marcada pelas privações, pelas perdas e pela morte. O autor de Hebreus diz que diante disso, eles se confessaram peregrinos na Terra e por isso Deus não se envergonha deles, “de ser chamado o seu Deus porquanto lhes preparou uma cidade” (Hb 11:16). 

Segundo a Bíblia, a Cidade esperada por Abraão existe, e a Terra também existe. Um dia Abraão e sua imensa prole, incluindo aqueles que como ele escutaram de modo atento ao chamado de Deus e se deixaram guiar por Ele alcançarão a realização da bendita Esperança: O dia em que o Senhor Jesus virá em glória e majestade e conduzirá os seus benditos para entrarem na herança preparada por Deus desde a fundação do mundo (Mt 25:34). Nessa mesma direção, o autor de Apocalipse retrata uma multidão de fiéis, com palmas nas mãos, cantando o canto do cordeiro no momento de sua redenção deste mundo. E de acordo com o texto, eles serão apascentados pelo próprio Cristo que os levará em segurança por toda e eternidade (Ap 15:2-4; 22:3-5). Haverá um "novo céu e nova terra" (Ap 21:1), da qual Abraão e seus filhos serão herdeiros.

À luz da experiência de Abraão descobri que há apenas dois caminhos e dois destinos. Podemos ser como Abraão e focalizar a busca da vida na Eternidade, ou como Hagin, com foco no terreno e transitório. A experiência de Abraão e do escritor de Hebreus, porém, nos alerta sobre a nulidade dessa esperança terrena e nos chama a algo mais grandioso e mais pleno, que nos vem de uma experiência de vida sob a guia soberana de Deus e de Cristo.

Conclusão

Diante disso, podemos crer que definitivamente, uma teologia voltada apenas para a realidade material deste mundo, focada numa visão de prosperidade material não é o melhor modelo para a compreensão da vida para nós e nem para a fé que teve Abraão. Nosso coração vazio da Eternidade espera mais que as coisas desta vida. Sentimos que fomos feitos para algo maior e mais pleno: fomos criados para a Eternidade. Assim cria o patriarca Abraão.

Fixemos o olhar em Abraão e imitemos sua vida de fé. Ele foi um estrangeiro neste mundo, mas aos olhos dos homens, era um príncipe de Deus, Pois em todo tempo de sua peregrinação teve os pés na Terra, mas os olhos no Céu. - [Claudio Soares Sampaio].

Apêndice


Ideologia: é um termo que possui diferentes significados e duas concepções: a neutra e a crítica. No senso comum o termo ideologia é sinônimo ao termo ideário (em português) , contendo o sentido neutro de conjunto de idéias, de pensamentos, de doutrinas ou de visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo, orientado para suas ações sociais e, principalmente, políticas. Para autores que utilizam o termo sob uma concepção crítica, ideologia pode ser considerado um instrumento de dominação que age por meio de convencimento (persuasão ou dissuasão, mas não por meio da força física) de forma prescritiva, alienando a consciência humana. 


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5 comentários:

  1. Ericsson Portojulho 31, 2015

    Perfeita a comparação da fé atual através da Teologia da Prosperidade e da fé de Abrãao. Ótimo texto.

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    1. Olá Ericsson

      Obrigado pela visita e pela interação.

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      C.

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  2. Saudações, Pr. Cláudio!
    Eu dificilmente faço comentários, mas, neste caso, o teu texto me exigiu isso. Mas antes gostaria de fazer algumas notas preliminares ao meu comentário.
    Primeiramente, gostei muito do teu texto. Limpo, direto - objetivo.
    Me agradou também o próprio tema. Tenho visto - não apenas nos outros, mas também já vi isso em mim - uma mentalidade que estabelece uma relação indissociável entre a vida espiritual "ok" e bençãos temporais, isso mesmo entre pessoas que não possuem uma percepção "materialista" da religião. Mas, cá entre nós, mesmo sendo cristão adventista e concordando com as respostas para questões deste gênero, não acho que seja muito audacioso, ou conflitivo, sentir a revolta ulterior ao estímulo da privação material, como na fala de Habacuque, em 1.1: "Até quando, SENHOR, clamarei eu, e tu não me escutarás?". Ou de Davi: "Até quando, Senhor, ficarás olhando? [...] Acorda e desperta para me fazeres justiça [...]" (Salmo 35.17 e 23); ou, por fim, Jó que protesta: Como é, pois, que vivem os perversos [...] As suas casas têm paz [ ...] o seu touro gera e não falha, suas novilhas têm a cria e não abortam [...] passam eles os seus dias em prosperidade e em paz descem à sepultura. E são estes os que disseram a Deus: Retira-te de nós!" (Jó 21, ler todo). Esses poucos exemplos de revolta têm como sustentação um solo materialista. E com isso, encerro as notas e começo o comentário.
    Existe um problema aqui: a dupla significação do "materialismo". Assim como em Ideologia, o materialismo pode corresponder uma ideia do tipo "senso comum" e a outra ideia como tendo um rigor mais culto, ou filosófico. Quando é dito, à respeito da teologia da libertação: "Assim, embora fosse materialista em sua essência, a demonização do capital e da riqueza era algo comum, nesse discurso.", penso que não haja lugar para a conjunção adversativa "embora", uma vez que o caráter materialista da teologia da libertação não tem a ver com àquela conotação que promovo o apego aos bens materiais. Esse materialismo deriva da corrente de pensamento que estabelece o primado da matéria, do físico, do real, na percepção do mundo, na investigação e análise de problemas, etc. E o materialismo desta abordagem teológica é embevecido pela interpretação marxista do mover histórico. [Continua....]

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  3. Falando à respeito da historicidade de Abraão, isso é bem complicado para nós que cremos. Até onde eu sei não temos indícios extra bíblicos para afirmar a sua historicidade - claro que temos a bíblia, mas infelizmente, sabemos, dentro da História a bíblia não é um documento de peso acadêmico. Em um ambiente historiográfico existem muitas interpretações sobre a saída de um cidadão caldeu de uma metrópole como Ur, para uma peregrinação árdua rumo à Palestina ocidental, tendo em vista que a terra de Canaã, aparentemente, não oferecia grandes vantagens comparadas à vida que um cidadão teria em Ur, como tu bem colocou, pastor. Alguns historiadores creem que esta migração de Abrão tem a ver com o fluxo migratório ocorrido na região por volta do século XX antes da era cristã. Adrianus Beek diz que "Mais ou menos naquele tempo, os amorreus estavam entrando na Babilônia, conquistando cidades importantes, inclusive a própria Babilônia [...] A Síria e
    a Palestina também receberam um influxo deste povo. Naturalmente os emigrantes adotaram muitos costumes, ritos e crenças de seus anfitriões e muito de suas línguas. (1967, p. 19 e 20). Porém essa ideia é muito contestada.
    O diplomata Abba Eban, em A história do povo de Israel, acresce esta incongruência observando as características de Canaã de uma maneira, pelo menos, não muito atraente: "O território de Canaã é, em algumas partes verdes, [...] Em outras partes proporciona somente uma existência parca a famílias nômades que se satisfazem com uma vida pastoril. (1982, p. 14)".
    Mas deixando estas questões mais técnicas um pouco de lado, eu consigo ver um pouco de materialismo no estímulo dado a Abrão, pastor. Parece que no conteúdo do seu chamado há uma íntima relação com a pretensão dos povos da mesopotâmia, nos tempos de Nimrode, onde por meio da construção da torre eles desejavam tornar "célebres o seu nome" (Gênesis 11.4). Essa relação se dá, do outro lado, com Deus prometendo dar de barato a Abrão aquilo que os seus contemporâneos almejavam. Ou seja, aquilo que o homem deseja, eu te darei: "[Eu] te engrandecerei o nome" (Gênesis 12.2) - pus o Eu, pela conjugação do verbo.
    O que eu quero dizer, para finalizar é o seguinte: será que totalmente destituídos de promessas materiais teríamos interesse em Deus? Entenda-se esse material segundo a concepção filosófica daquilo que compete ao concreto, ao que sentimos, etc.

    Um grande Abraço;

    *** Ganhou um leitor no blog.

    Att;

    Digs

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  4. Shalom
    ótimo testo e uma visão bem ampla e simples.
    Fantástico,é bom ler algo com esta visão bem ampla sobra nosso patriarca e a Fé cristã.
    Abraço amado
    Shalom

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