Header Ads

Trabalhando Mentes e Corações: Livro aborda a gestão de pessoas com base na Bíblia.



Obra analisada: ARAÚJO, Paulo Roberto de. A Bíblia e a Gestão de Pessoas: trabalhando mentes e corações. Curitiba, PR: A. D. Santos Editora, 2012. 260 páginas.

A obra A Bíblia e a Gestão de Pessoas: trabalhando mentes e corações é de autoria de Paulo Roberto de Araújo, que além de Pastor de igreja, é também Professor, Teólogo, Administrador de Empresas, Especialista em Gestão Estratégica de Pessoas e na ocasião da publicação, cursava Mestrado em Ciência da Educação. Seu propósito é transmitir um pouco da experiência longamente adquirida em seus anos de gestor bem como na docência do ensino superior. Para isso, Araújo busca construir, através de narrativas bíblicas e de personagens da história sagrada, fundamentos bíblicos para sua abordagem. Não busca expor ou debater aspectos doutrinários, mas tão somente apresentar analogias bíblicas para a gestão de pessoas, que tanto podem ser adaptados na igreja quanto em qualquer outra organização empresarial.


Nesse ponto, a obra de Araújo se adapta muito bem ao novo conceito de liderança propagado nos últimos anos, com foco na espiritualidade, reforçando valores tais como "autoridade" contraposta a "poder" e a ênfase de liderança com base no "serviço" em lugar de "domínio". Livros como O Monge e o Executivo são exemplos dessa nova busca do empresariado moderno pelos valores espirituais para suas corporações. Valores oriundo das Escrituras são frequentemente apontados pelo autor no decorrer da obra analisada, de modo que em sua forma escrita, pode ser adaptado para palestras em ambientes eclesiásticos. Aliás, essa é a intenção do autor, que apresenta como sendo uma "vantagem" de sua obra o fato de que cada capítulo possa ser transformado num seminário ou palestra. Seu desejo é que haja uma continuidade, com o "desenvolvimento de pessoas nas diversas formas de organização" (p. v). Sua visão é que não importa se o ambiente é corporativo ou religioso, é preciso trabalhar "a mente e o coração" do servidor, a fim de que ele alcance bom resultado em seu empreendimento ou tarefa (p. vi). Basicamente, sua proposta é que tanto o conhecimento quanto a espiritualidade são fatores indispensáveis para o desenvolvimento pessoal.

O volume em análise possui 260 páginas, divididas em 10 capítulos muito bem construídos, mais duas páginas dedicadas às “considerações finais”. Para apoio ao leitor, além de uma curta bibliografia (o que decepciona), a obra conta com um dicionário de termos em português e um glossário de estrangeirismos utilizados pelo autor. Em se tratando da linguagem, é técnica, e traz na abordagem vários temas oriundos do mundo administrativo. Todavia, isso não compromete a facilidade para compreensão. Embora seja mais adequado àqueles que se dedicam à arte da liderança, mesmo leigos na matéria podem ter acesso ao conteúdo e aplicá-lo, dentro de sua função. Tanto na apresentação do livro (p. v) quanto em m suas considerações finais (p. 253 – 254) o autor afirma o propósito de sua obra, que não é concentração em temas teológicos ao abordar textos bíblicos, de modo que sua utilidade se percebe como sendo “mais uma ferramenta, um recurso a mais para aqueles que tão nobremente se empenham na gestão de pessoas” (p. 253). 

O livro discorre os temas de forma agradável, numa linguagem discursiva, na qual se percebe a verve do docente em todo o tempo. A partir do capítulo 1, o autor busca estabelecer, desde o princípio, a metodologia a ser utilizada na obra. Aqui, busca a justificativa para o uso das Escrituras como sendo a base do discurso em todo o livro. A Bíblia será, por assim dizer, o “Manual de Princípios e Valores”, um elemento comum no mundo corporativo, com seu conjunto de regras e valores. Partindo do livro de Provérbios, avalia os valores essenciais da conduta daquele que busca o desenvolvimento pessoal adequado. Para Araújo, mais que "informação", é preciso "conhecimento", e mais que conhecimento, é preciso "competência". Ainda: mais que competência é preciso adquirir "valores comportamentais" como honestidade, integridade, retidão, humildade, autocontrole e justiça, como enfatizados em Provérbios. Digno de nota é a análise cristocêntrica dessas qualidades, o que torna sua aplicação ao ambiente eclesiástico claramente adequado. Esses valores são a base de uma auto-avaliação diária dos próprios colaboradores e fazem a marca de uma empresa crescer em sua credibilidade.

Há ênfases notáveis, como quando analisa o traço moral da competência (capítulo 2) como não sendo oposto à idade, com base no profeta bíblico de Daniel. Segundo o autor, Daniel se torna um colaborador competente por que nele se divisam o conhecimento, a habilidade e a atitude necessárias para a crise enfrentada pela nobreza de Babilônia, relatada em Daniel capítulo 5. Ao avaliar o “estoque de conhecimento” como determinante para competência dos colaboradores nas organizações, Araújo destaca o profeta já idoso, com cerca de 80 anos, porém detendo a experiência e conhecimento que o torna competente para ser reconhecido como o mais adequado para a tarefa apresentada. Merece destaque também a ênfase na questão familiar destacada no catálogo das virtudes em 1Timoteo e Tito, mencionadas adiante, bem como a análise do perfil de José. Na concepção do autor, as relações domiciliares afetam diretamente o desempenho profissional no ambiente de trabalho (p. 75). José não só possuía uma base familiar firme, como também tinha alta espiritualidade. Há também uma forte ênfase para a necessidade de “quociente espiritual” ao lado do “quociente de inteligência” de modo que, como já dito, se exige do gestor de pessoas um trabalho com a “mente e o coração” (p.76). 

Por diversas vezes o autor adentra o fascínio da pessoa de Jesus como modelo de líder, como quando busca aplicar os conceitos de João 15:1-7, na abordagem da avaliação de desempenho (capítulo 4). Na analogia da videira descrita por Jesus, o que se espera do colaborador são “frutos”, sendo que estes são nada mais que “desempenho”. O bom desempenho surge através de treinamento e capacitação, que é a tarefa do gestor e da organização. E tal qual Jesus, que estabeleceu o amor como a base das ações para seus liderados, deve-se ter critérios bem definidos, sem os quais não se pode avaliar o bom desempenho do colaborador (p. 111). Há também uma busca dos valores da igreja apostólica (capítulo 5), de líderes apostólicos como Pedro e Paulo e de homens históricos como José. Este último é abordado de forma magistral como o modelo adequado de “resiliência”, na superação de eventos inesperados e de sequencias de decepções no âmbito do trabalho.

Araújo também confronta certas ideias da liderança tradicional, como a centralização de poder e excesso de burocracia. Para o autor, o gestor deve cuidar para que o ambiente da organização seja positivo e focar na capacitação e desenvolvimento de pessoas. Deve ter cuidado com regulamentos, mesmo sendo “os mais nobres”, pois seu excesso promove mais cobranças e insatisfações entre as partes do que o bom desempenho no trabalho, destacando porém, que o problema não está na burocracia em si, mas sim “no excesso dela” (p. 145). Quando aborda a questão dos conflitos, afirma que estes sempre existiram, mesmo antes que houvesse mundo, e ainda podem se manifestar de diversas formas: pela “crise de confiança” (intrapessoal); pelos “objetivos diferentes” (de tarefa); e até mesmo pela “insubordinação voluntária”, tal qual Jonas diante da tarefa dada por Deus. Nesse caso, o problema vem quando o colaborador não tem seus objetivos alinhados com os do gestor, o que pode levar até mesmo a um desligamento da organização (p. 161). Mas também conflitos podem ser se manifestar numa "reação em cadeia", oriunda de uma decisão errada por algum componente da equipe. Nesse caso, o conflito afeta todo o grupo.

Vale destacar o capítulo final, dedicado ao tema da Liderança com base no rei Ezequias (2Cr 29-32). No entender de Araújo, a figura do líder é fundamental, pois em toda ação de mobilização de pessoas na história bíblica, o líder se apresenta. Liderar é definido como “a capacidade de influenciar pessoas a fazerem aquilo que devem fazer” (p. 227). Com base no rei bíblico citado, o autor estabelece vários princípios de liderança aplicáveis sobretudo no ambiente eclesiástico, como: a necessidade de estabelecer as prioridades; de receber feeedback’s; de trabalhar em equipes e confiar em pessoas; de estabelecer um sistema de comunicação eficiente; de possuir alto nível de inteligência espiritual; de distribuir tarefas; de enfrentar as adversidades. O autor entende que todo líder deve estar pronto a enfrentar crises e “o carisma de um líder cresce na medida em que suas ações refletem o próprio caráter” (p. 243).

A obra de Araújo merece elogios. Ela tem seu diferencial por oferecer um estudo técnico de teorias e fundamentos da gestão de pessoas embasado nos princípios bíblicos. Ao que parece, essa iniciativa é singular no meio acadêmico. Não se perde em teorias bem elaboradas pela livre associação de ideias apenas, mas constrói uma narrativa bem estruturada  com o discurso das Escrituras. Seu ecletismo é notável, pois embora tenha base na Bíblia, atende bem a qualquer ramo organizacional, seja eclesiástico ou corporativo. Há ênfase notável nos valores cristãos e universais tais como a família, a pureza sexual e o respeito ao indivíduo. Além disso, traz diversas críticas à nova estrutura de pensamento pós-moderna, que dilui os fundamentos da moral conservadora e os conceitos de "certo ou errado". A obra é bem estruturada em seus capítulos e possui boa editoração, com espaçamento gráfico adequado, aprazível para uma leitura agradável. 

Todavia, o livro peca em diversa áreas, como na questão da revisão ortográfica, que é sofrível. Há erros gráficos constantes, o que incomoda o leitor atento, sendo que muitas corrupções de palavras e de linguagem são notadamente grosseiras. Além disso, apesar de bem escrito, há uma ausência visível de ilustrações, que se melhor trabalhadas e aliadas ao texto bíblico, dariam um bom colorido às ideias. Uma falta visível é a ausência de diálogos sugestivos e questões abertas para ampliação e debate dos temas em grupos, ao fim de cada capítulo, uma vez que sua pretensão é o uso em seminários e palestras para equipes de serviço, em organizações. Um leitor exigente faria também questão de uma bibliografia mais extensa ou pelo menos sugestões de leitura para ampliação de conhecimento. A bibliografia é visivelmente pálida, diante da grandeza da obra.

Contudo, pode-se afirmar que há mais pontos positivos que negativos em favor da obra, o que torna o livro de Araújo uma boa recomendação para todos que se dedicam tanto à gestão de pessoas quanto ao mentoreamento, treinamentos empresariais ou eclesiásticos. Pastores serão grandemente recompensados na aplicação dos princípios elencados na obra. Leitura recomendada com muita ênfase. [Claudio Sampaio, UNASP-EC, Julho de 2016].


 http://pastorclaudiosampaio.blogspot.com

Nenhum comentário

Sua opinião é importante para mim. O que você pode acrescentar? Entretanto, observe:

1. Os comentários devem ser de acordo com o assunto do post.
2. Avalie, pergunte, elogie ou critique. Mas respeite a ética cristã: sem ataques pessoais, ofensas e palavrões.
3. Comentários anônimos não serão publicados. Crie algum nome de improviso para assinar o escrito, caso não queira se identificar.
4. Links de promoção de empresas e sites serão deletados.
5. Talvez seu comentário não seja respondido imediatamente
6. Obrigado pela participação.