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Leitura Crítica do Livro Verdades: Filosofia, Cosmovisão e Ética Cristã, de Carlos Flavio Teixeira

TEIXEIRA, Carlos Flávio. Verdades: Filosofia, Cosmovisão e Ética Cristã, Unasp, 2014.
Uma das crises que tem chamado a atenção de diversos estudiosos cristãos é a falência dos valores genuinamente cristãos na sociedade atual. De muitas formas, o discurso em favor de uma ética permissiva tem chegado aos redutos cristãos, influenciando, inclusive, os novos rumos da igreja. O fenômeno pós-moderno, com sua diversidade de discursos contraditórios muito tem afetado a nova geração que se levanta. Uma reflexão que mostre um rumo adequado para esses novos tempos e para essa nova geração se fez necessário, e houve aqueles que se aventuraram na tentativa de orientar as mentes inquietas dos novos crentes nesses novos dias. Ao que parece, a obra de Teixeira, pela sua excelência na exposição lógica e bem embasada, se presta definitivamente a responder a esse desafio.

1. O Autor 


O autor Carlos Flávio Teixeira possui formação em Contabilidade, Direito e Teologia.  É Doutor em Ciências da Religião e Mestre em Direito Constitucional com ênfase para o mercado de trabalho e o Magistério superior. Também é pós doctor em Teologia Sistemática e  também membro do Adventist Theological Society, entidade que busca fornecer materiais relevantes para a Igreja Adventista em resposta aos questionamentos que se levantam. Além da presente obra, é também autor de Repensando a Religião: Debates Sobre Teologia, Estado e Cultura. Na ocasião da escrita de seu livro (2014), Teixeira ainda cursava pós-doutorado em Teologia Sistemática pela Andrews University e atuava como Docente no Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP). Na atualidade, é Professor do SALT-IAENE, Bahia.

2. A Obra


Por meio de sua obra “Verdades: Filosofia, Cosmovisão e Ética Cristã”, Teixeira se debruça sobre o desafio de desvendar a coerência da Ética Cristã, propondo–se a responder, dentro do paradigma cristão às questões centrais da existência humana: origem, comportamento e perspectivas futuras. A complexidade da vida humana pode ser desvendada a partir das repostas acerca de onde veio, por que se encontra aqui e para onde segue sua existência. Nesse caso, haveria uma variedade sem fim de respostas e possibilidades. A grande questão é: haveria alguma resposta coerente para esses enigmas?

A proposta de Teixeira, é que apenas a Ética Cristã se presta a essa resposta definitiva, pois “preenche cada elemento da estrutura de sentido lógico da razão humana” (p. 8). Seu objetivo claro em toda a obra, é apenas demonstrar as razões plausíveis dessa afirmação. 

A obra, publicada pela UNASPRESS em 2014, conta com 150 páginas divididas em quatro capítulos, além de Introdução e Conclusão. Nota-se uso de bibliografia atualizada e diversificada, possibilitando um diálogo com inúmeros autores em torno das questões analisadas. Aparentemente, a obra se direciona para o público adventista, e se presta a ser um auxílio para líderes e docentes que enfrentam o desafio de uma resposta coerente acerca do comportamento adequado para a nova geração que se levanta nos dias atuais, repleto de propostas divergentes e contrários à perspectiva bíblica abraçada pelo adventismo como Instituição. No entanto, não seria menos útil a qualquer estudioso do tema, pela sua abrangência e profundidade.

No Capítulo 1 (estrutura de sentido da razão humana) o autor propõe que desde a tenra idade o ser humano se dispõe a interpretar o enigma da vida. Apesar desse desafio se aparente impossível, Teixeira entende ser de fato possível mapear o um “roteiro lógico” em busca do sentido existencial (p. 9). Para ele, a estrutura desse roteiro se baseia no tripé Filosofia, Cosmovisão e Ética (p. 10). Na sequência, busca-se expor a definição de cada termo dentro da perspectiva acadêmica e sua relação dentro da proposta do autor.

Na definição de Filosofia (concepções), Teixeira entende que se trata de uma “reflexão acerca das coisas” (p. 11). Apesar de outras possíveis definições, para o autor, com base em Platão, o termo se definiria mais adequadamente como sendo uma espécie de “amor interessado em alcançar a excelência no saber acerca da vida e seus desdobramentos” (p. 11). Todavia, ela por si só não se basta para esse desafio.

Uma das falácias em torno da Filosofia como disciplina de estudo denunciada pelo autor é o seu uso para determinar o que é a Verdade (p. 12). Nesse caso, com base em especulações apenas, a Filosofia se perde em suas conclusões, chegando até mesmo a minar qualquer conceito de Verdade. Assim, as conclusões da chamada “filosofia especulativa” não são direcionadas para o que de fato interessa ao homem, a saber, a busca de uma proposta que seja mais coerente para a existência humana. Contudo, se bem utilizada torna-se um instrumento que logra construir um conhecimento que dá sentido à vida do homem.

A função da Filosofia, nessa busca seria de “avaliação” e “configuração”, e ao contrário do que se afirma no senso comum, a Filosofia como instrumento, deveria ser serva da Teologia e de nenhum modo, independente dela. Contra o deslumbramento de muitos, que adotam um conceito filosófico e o transforma como uma chave para decifrar o “todo” da vida, Teixeira entende que a matriz da Filosofia é ser uma base para a construção e um sistema de crenças (p. 17). A identificação da matriz filosófica demonstrará o porquê determinada pessoa pensa e age de tal modo. Pela sua complexidade e divergência, não haveria de nenhum modo, a possibilidade de um compartilhamento de matrizes filosóficas. Elas se excluem entre si. A base deve ser única em cada caso.

Na definição de Cosmovisão (percepções) Teixeira apresenta o conceito que expressa a “forma de ver o mundo, de interpretá-lo segundo concepções previamente estabelecidas. Desse modo, haveria um íntima relação entre as concepções (Filosofia) e as percepções (Cosmovisão) embora o autor as veja como “distintas” (p. 19). Nesse caso, se a Filosofia determina o sentido das coisas e ideias, a Cosmovisão delimita as fronteiras desse sentido. 

O terceiro ítem do tripé que compõe a estrutura da razão humana seria a Ética (comportamentos). Havendo uma forma geral e outra mais particular da Ética, para Teixeira, ela seria “uma qualidade do caráter” (p.25), pois são prescrições que orientam as ações humanas concretizando um sistema de valores. Seriam os “padrões” aos quais o homem se vê no dever de obedecer, enquanto que a moral seria a avaliação da conduta como certa ou errada. Assim, o objetivo da moral é mensurar “o grau de adequação e sua conduta” (p. 25). Conquanto seja possível combinar ética e moral numa dimensão pessoal, nem sempre será possível numa dimensão coletiva e social, especialmente no caso da ética cristã.

A relação entre filosofia, cosmovisão e ética, no entendimento do autor, se estabelece como sendo: Filosofia é o que o homem entende, a Cosmovisão é o que ele crê, a Ética é o modo como ele se comporta em relação à seu conhecimento e crença. Essa estrutura rege o pensar, o ser e o agir humano. A pessoa reage (ética) conforme interpreta as coisas (cosmovisão) e faz isso com base nas pressuposições conceituais (filosofia). As perguntas básicas do ser humano acerca de onde veio, por que está aqui e para onde vai em sua existência direcionam o aprendizado humano chamado de “pedagogia da vida” (p. 26). Uma ética destrutiva pode surgir em decorrência de uma filosofia e uma cosmovisão equivocada.

Uma pessoa consciente agirá sempre com base no que ele crê. A Filosofia cristã remete a duas realidades: a complexidade fenomenológica e a uma diversidade de linhas interpretativas dentro da mesma categoria. Nem sempre as conclusões da ética cristã seriam as mesmas. Mas a base adequada, segundo Teixeira, é Cristo e sua Palavra. (p. 30).

No Capítulo 2, o autor de dispõe a tratar dos “pressupostos da filosofia cristã”. A base de sua argumentação em favor da filosofia cristã é a sua adequação à realidade humana. Nem sempre um sistema será o mais coerente por fazer sentido, mas tão somente se for adequado para a totalidade das faculdades humanas (físico, mental e moral). Há três premissas que suportam a ideia da adequação da filosofia cristã: 

1) Existem verdades absolutas, sendo que a “verdade” está presente no tempo e espaço, e que se torna “absoluta” porque deriva de Deus. Verdade é definida como não contraditória, não depende de tempo e lugar, é descritiva, é mensurável e imutável. Ao contrário do que se pensa, não se trata de fideísmo, mas de algo adequado a razão humana (p. 34). Podem ser negativas e positivas, e por isso, nem todas essas verdades, embora absolutas podem ter apoio cristão. Torna-se negativa quando uma verdade mesmo absoluta é distorcida.

2) Se há verdades absolutas, há também um padrão moral a partir delas. Esses padrões poderão ser interiores e interiores, e partem de Deus que se revela por meio da consciência humana, da Natureza, da Bíblia e da pessoa de Jesus. Sendo que a Bíblia se torna o padrão específico da revelação, é a partir dela que Deus expõe de modo claro seus padrões definitivos de moral. Contra a teoria do relativismo para definir a moral, o autor argumenta que se há de esbarrar na questão da falta de uma base definitiva para definição desses padrões. Assim, para Teixeira, não há possibilidade de definir uma moralidade positiva sem incluir a pessoa de Deus. Assim, a moral cristã é boa porque acima de tudo, vem de Deus (p. 42). Qual seria a maior contribuição da Filosofia cristã? Teixeira afirma: é demonstrar que os absolutos morais sem os quais a vida humana não seria possível.

3) As verdades absolutas devem ser organizadas em forma de valores, regras e princípios. Valores revelam o caráter de uma pessoa e os porquês de suas ações; os princípios, revelam o estado do ser e a que se refere; enquanto que as regras demonstram o como agir.

No Capitulo 3 o autor trabalha a definição da “estrutura da cosmovisão cristã”. Ele parte da perspectiva da criação, da realidade do pecado, do conflito espiritual entre o bem e o mal e da irrupção do Reino de Deus na pessoa de Jesus. A partir disso se estabelece o tripé básico que se define como Criação, Queda, e Redenção.

Articulando sobre a Criação, Teixeira afirma a noção da origem divina. O cosmo vem de Deus e esse Deus é Triúno, amoroso, auto-existente, imutável, infinito, e perfeito (p. 50-51). Deus está no espaço e tempo mas não limitado a eles, pois é eterno. Ele se deixa conhecer naquilo que Ele é para sua Criação, mas esta oculto na essência daquilo que Ele é pra si mesmo. Para conhecer esse Deus e sua vontade, deve-se aproximar de Sua Palavra (Bíblia) com humildade e submissão. (p. 53). 

Como Deus, Ele criou todas as coisas. O modo da criação foi pela Sua palavra falada, que trouxe tudo do “nada”. Mas a criação foi literal, conclusiva, perfeita. O sábado na narrativa bíblica demonstra de modo cabal que no descanso divino havia a ideia de acabamento e perfeição.

Acerca dos motivos divinos para a criação, o autor afirma a espontaneidade do amor divino que cria todas as coisas para louvor de Sua glória, com finalidade de amar e ser amado, para se relacionar com sua criação. Estabelecendo a narrativa bíblica das origens como verdadeira, há a possibilidade de responder a pergunta “de onde eu vim?” (p. 59).

Na análise da Queda moral do homem, o autor se dedica a demonstrar a realidade do pecado, que em seu entender, se resume numa tentativa de uma vida independente do Criador. Apesar das concepções hodiernas sobre o pecado e suas tentativas de relativização, Teixeira afirma que o pecado é real especialmente porque Deus afirma sua existência (p. 60). O homem é pecador porquê de fato carrega em si mesmo uma natureza má. Na concepção do autor, o homem não se torna pecador por conta de um pecado ocorrido no início da história humana, mas pelo que ele se torna e realiza diante de Deus. Desse modo, há uma rejeição da concepção tomista de pecado como culpa original. O pecado, embora seja, em essência um estado do ser, ele degenera o ser humano em sua integralidade: é um mal que atinge o físico, a mente e a moralidade humana.

Todavia, enquanto pecador, o homem tem a capacidade de escolher ceder aos impulsos de sua condição caída ou resistir à mesma. A responsabilidade última será do homem. Ao ceder aos impulsos da natureza caída, ele pode contrair graus de culpa e consequências, embora não haja grau de essência no que se refere ao pecado. Assim a responsabilidade vem do ato pecaminoso ou da omissão consciente de agir em favor do bem que Deus espera. O pecado, além de corromper a estrutura humana em sua essência, ele também conduz a perdição eterna.

Tratando sobre a origem do pecado, o autor destaca o mau uso da liberdade dada amorosamente por Deus. Sua origem se apresenta na esfera celestial, por rebelião de um anjo que se corrompe em sua pureza e se indispõe contra o Criador. Esse conflito no Céu não se travou apenas no campo ideológico, mas também em um conflito físico, do qual resultou a expulsão do pai da maldade para a Terra. Implantada a rebelião na Terra, o mal teve seus desdobramentos e trouxe consequências, entre elas, o mau uso da liberdade e a alienação de Deus. Nesse ponto, afirma que apenas Deus poderá mensurar o grau de pecado e corrupção de cada ser humano, pois Ele apenas é o dono da “moral absoluta”.

Nessa análise da Queda, o autor entende que a filosofia cristã responde a questão “quem sou eu?” O ser humano então é uma criatura dada como perfeita ao sair das mãos de Deus, se corrompeu, trazendo consequências que afetaram toda a sua estrutura de vida.

Na avaliação da Redenção, o autor passa a avaliar o que Deus fez para resolver a condição moral do homem e restaura-lo à sua condição original. A Redenção será apresentada não como um ato impulsivo de Deus mas sim a execução de um projeto idealizado desde a Eternidade. No ato de salvar o homem, Deus resolve um dilema entre sua justiça que pune o pecado e sua misericórdia que se prontifica a salvar o pecador.

Na antecedência da execução do plano salvifico, Deus deu o ritual do santuário a fim de ensinar o povo escolhido de Israel acerca do projeto divino e de como a redenção seria realizada. O ato salvifico de Deus abrange quatro etapas em sua execução na pessoa de Jesus: Encarnação, Morte, Intercessão e Juízo final.

A primeira etapa, apresenta o ato de Deus mesmo se ofertar em lugar do pecador na Encarnação de Jesus. Ao vir para ser um substituto, isso implicava essencialmente que Ele seria puro em sua essência e portanto, sem uma natureza caída e corrompida. Mas no ato de encarnar-se na pessoa de Seu Filho, Deus desce ao nível da criatura para elevá-lo até Ele. Esse ato não foi impulsivo, mas surge do amor divino que o antecedeu.

Na segunda etapa, a Morte, os pecados do homem são postos sobre Jesus, embora não fosse posto em Jesus. Ele morre assim de forma substitutiva.

Na terceira etapa, a Intercessão de Jesus é avaliada pelo autor como sendo o primeiro ato salvifico após a cruz. Fica a questionar aqui se a ressurreição não poderia ser apresentada como um ato à parte, ou mesmo incluso em um dos anteriores, uma vez que o autor não dá atenção a essa parte da obra de Jesus. 

Na quarta etapa, o autor avança até a fase do Juízo Final, que em sua perspectiva se propõe a tornar claro a realidade do mal e resolvê-lo definitivamente. Esse juízo seria mediante uma investigação, uma confirmação e uma execução sobre o mal. Para que seja salvo dessa punição divina Deus mesmo executa sua salvação no homem mediante sua obra de justificação, santificação e glorificação. O resultado será positivo para Deus, para o homem e para o cosmos. Deus será vindicado em seu amor, o homem será plenamente restaurado e o cosmos será definitivamente purificado do mal (p. 92).

No Capítulo 4, o autor apresenta os resultados visíveis de uma autêntica filosofia cristã: “a ética do estilo de vida cristão”. A questão que se abre é: Qual ética se apresenta como resultado da filosofia e ética cristã? (p. 95). 

Apresenta-se a lista de pelo menos quatorze tentativas humanas de formalizar uma ética coerente para o ser humano. Todavia, a autor entende que o paradigma pós-moderno combina fragmentalismo, imediatismo, individualismo e superficialismo foi ainda levado ao extremo pelo relativismo moral (p. 96). Nesse caso apenas o que se pode denominar como sendo “leis de Deus” promovem a integridade humana. O cristão entende e aceita a ética cristã e aceita ser guiado pelo conjunto de normas derivados da revelação de Deus em Sua palavra. Elas formam assim, um todo harmônico. Elas não se resumem no escrito, mas possuem um fator orientador (106). Os dez mandamentos, por exemplo, são perenes e apresentam um todo indissolúvel, de modo que a quebra de um deles acarreta a falência do valor buscado por todos, que é o pleno sentido da vida encontrada em Deus (p. 109).

Para a compreensão da ética cristã, o ser humano é munido de uma autoconsciência, que vem de sua emoção, razão e convicção. Eles assim, responde sensivelmente, processa reflexivamente e age assertivamente. Todavia, segundo a perspectiva teônoma, ele só poderá ser ético a partir de sua comunhão com o Criador. Apesar de possuir a dádiva da emoção e da razão, apenas a convicção santificada pode ter a primazia.

A possibilidade da autoconsciência humana pressupõe liberdade. As três dimensões (emoção, razão e convicção) geram a liberdade e responsabilidade. Desse modo, para ser responsável, a liberdade não poderá ser violada. Em resumo, a autoconsciência humana é o centro norteador da vontade. Ao agir de forma impropria, o homem estará agindo contra a sua autoconsciência. Por isso, se afirma que realizar a vontade, por si só, não garante felicidade (p. 116).

A conclusão é que para ser responsável, o homem não pode ter sua consciência violada nem sua vontade manipulada. Apenas assim poderá o homem responder pelos seus atos. A violação do consentimento do homem seria uma tentativa de domínio e não de autoridade. O domínio vem da intolerância.

Ainda nesse capítulo, na consideração das chamadas leis de saúde presentes nas Escrituras, o autor toca no ponto central de sua proposta, que é a de que para viver uma perfeita ética, o ser humano buscará um estilo de vida que abarque todas as dimensões da sua existência. Nesse caso, as leis são dadas para o pleno funcionamento humano. A aceitação desse estilo de vida surge de uma convicção correta (saúde), pela motivação certa (amor), um modo certo (obediência) e um objetivo certo (servir). Ele obedecerá porque em primeiro lugar, sabe ser esta a vontade de Deus.

Nesse ponto, o autor se presta a discutir Liberdade e Responsabilidade. Para ele, o cristão encontrará seu ponto de equilíbrio entre a liberdade e a responsabilidade (p. 124). A má compreensão do amor e graça de Deus é que leva a uma ética libertina e permissiva. O cristão ao abraçar a ética dada por Deus, vive de forma responsável, e nessa ação vive em liberdade.

A questão que se levanta é: Por quais motivos alguns ignoram a ética cristã? A partir desse ponto, Flávio elabora seis conceitos elucidativos. Para o autor, a rejeição da ética cristã se deve:

1) Eles não aceitam ou não são conscientes que são doentes espirituais e precisam de cura divina em seu modo de vida. A pressuposição de que tudo está coerente com sua escolha torna-os indispostos a acatar os reclamos de Deus.

2) Porque alguns se vêm melhores que os outros (127). Contrário a isso, o verdadeiro respeito ditado pela ética cristã é “tolerante, perdoador e transformador” (p. 128).

3) Outra razão é por que rejeitam os meios disponíveis de Deus para conhecer sua proposta de vida. Esses meios seria os mecanismo de revelação divina, dentre os quais se destaca a sua Palavra escrita.

4) A terceira razão seria por que muitos não desejam ver os equívocos de suas escolhas e a correta vivencia planejada por Deus. 

5) Uma outra opção seria a disposição de uma vida de peregrino sem um lar. A noção de paternidade divina e vida sob a orientação desse Pai não se torna atrativa para muitas pessoas que preferem uma vida sem rumo definitivo.

6) Finalmente, eles rejeitam a ética cristã porque não estão dispostos a pagar o preço de suas escolhas. Obviamente, a ética cristã acarreta uma vida de contraste e dessa maneira, gerará conflitos num mundo moldado por uma ética ou éticas divergentes.

Para Teixeira, apenas uma proposta que leve à plenitude e integralidade humano poderá promover a plena realização do homem, e desse modo, apenas a ética cristã seria de fato coerente para a vida humana.

Nas “considerações finais”, o autor se dispõe a uma revisão do conteúdo proposto. Uma das afirmações elencadas é a de que os princípios devem operar do interior para o exterior do sujeito, da consciência para a vivência e por isso, “proporcionam sentido às ações” (p. 143). Na compreensão do autor, o sentido ético compreendido a partir das propostas de seu estudo aponta que Deus estabeleceu um único modelo ético apropriado para dignificar a vida humana: esse modelo é um conjunto de normas, leis morais de consciência e de saúde (p. 144). A expectativa do autor é exposta no final de suas considerações: espera que o leitor se veja estimulado a refletir conscientemente acerca de seu sistema ético em relação ao seu sistema ético em relação aos princípios e valores que professa (p. 146).

3. Avaliando a Obra


Avaliando a obra nota-se algumas virtudes. Uma linguagem direta e sem rodeios ao tratar de um tema notadamente profundo. As ideias não são de fácil compreensão para um público leigo, mas adequado para quem se presta ao ensino e estudo teológico e filosófico com finalidade de orientação. Além disso, em sua abordagem, o autor segue fielmente uma proposta legitimamente bíblica e denominacional. Afirma pontos centrais da teologia adventista tais como Santuário, Leis dietéticas, a validade da lei moral dos dez mandamentos, o sábado de descanso, entre outros. Em sua argumentação, a obra vai além de seu escopo e fornece subsídios para uma defesa de temas complexos como a natureza de Jesus sendo pura e sem pecado. Confronta as bases teóricas do imortalismo na análise da constituição da natureza humana, quando demonstra a visão holística do ser humano.

Fica, todavia, uma questão sobre a ausência de uma análise da ressurreição de Jesus como parte da obra de redenção que o autor se dedica apenas a exaltar a encarnação, morte, intercessão e juízo. O debate em torno da ressurreição no meio protestante levantou desde muito tempo uma argumentação acerca da necessidade de uma doutrina acerca da ressurreição literal e física de Jesus para a afirmação da fé em sua pessoa. O teólogo alemão Rudolph Bultmann, por exemplo, seguiu uma linha mitológica, que negava essa verdade dos evangelhos. Essa ausência da temática leva a questionar se o autor foge ao debate ou se nega a declarar a necessidade de um Cristo ressurrecto para a sustentação da fé cristã.

No mais, a obra de Teixeira vem atender a uma necessidade observada de perto por muitos líderes atuais e será um forte apoio na tarefa de preparar a nova geração para um compromisso mais efetivo com seus valores e crenças cristãs neste tempo confuso, eivado de tantos discursos divergentes. – [Claudio Sampaio – Mestrado Unasp].

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