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A Ressurreição de Jesus e a Teologia dita Cristã



Como os teólogos têm lidado com a proposta da ressurreição de Jesus? Sem muito preciosismo ou divagações, gostaria de estabelecer um contraste entre os recuos da Teologia frente à proposta moderna (ou pós-moderna) deste fundamento da fé cristã e a coragem de paulo, que nos chama a assumi-la como declaração de fé.

Ao lado da Filosofia, a Teologia é uma "ciência". Um estudioso bem esclarecido saberia que desde o século 12, o surgimento de uma das primeiras Universidades, a de Paris (que se tornou um modelo de seu tempo), foi em resultado da reunião de quatro faculdades distintas: a de Teologia, de Artes (filosofia), a de Direito e a de Medicina. Talvez por isso e mais outras razões, a lado da Filosofia, a Teologia tem sido reconhecida como a primeira e a mãe de todas as Ciências. O que ocorre com os que rejeitam esse conceito é que confundem ciência Histórica com ciência experimental. Apesar de que sempre falamos de experiência de fé no que se refere às questões da Eternidade, reconhecemos que nem tudo pode ser comprovado mediante uma experiência em laboratório. Aqueles que buscam enquadrar a Teologia nesse paradigma, são vítimas de uma certa medida de ignorância seu papel fundamental.

Aprendi com certo escritor que fazer Teologia, no sentido apropriado, é "articular uma fé” não criar uma fé, de modo que se não há nenhuma fé para articular, nada há para expressar, e por isso de nada vale a Teologia. A Teologia pode ajudar a comunidade a julgar, contextualizar e melhorar sua visão da fé, mas ela jamais deveria se prestar a criar essa visão de fé. Na perspectiva de Alister McGrath a reflexão teológica é tão somente um resultado de uma experiência histórica de uma comunidade de fé, e não a causa de uma comunidade de fé. À luz da fé na ressurreição de Jesus de Nazaré, me vi a refletir sobre a Teologia não como uma questionadora da fé, mas como ferramenta de proclamação. Qual seria de fato seu valor e importância para nossos dias? Em que sentido seria ela relevante?

A Teologia Moderna e a Fé na Ressurreição de Jesus


Talvez a explicação de P. Elton Pothin em seu artigo publicado no “Tribuna de Petrópolis” on line, em 21 de abril de 2011, seja a mais convincente. Segundo ele, foi depois do anúncio dos primeiros discípulos que a Teologia se dispôs a explicar a fé dos apóstolos na ressurreição de Jesus, exclarecendo que a vida tem sentido, pois o Deus da Vida não deixou a humanidade esquecida no sepulcro. Talvez por isso dizemos que esse é o núcleo da fé cristã e a base de nossa proclamação.

Todavia, o que vejo é quem nem sempre a Teologia tem tido sucesso em sua proposta inicial. Talvez no período anterior àquele conhecido como “era da razão” (séculos 18-19), quando o pensamento humano era regido pelo paradigma teocêntrico, era até mais cômodo anunciar a verdade da Escritura tal como ela se apresentava, especialmente a afirmação de que Jesus se levantou dos mortos. Esse era um ponto comum de crença em meio aos cristãos, desde a igreja primitiva. Todavia, desde a introdução do antropocentrismo como paradigma da mentalidade ocidental, e a introdução do pensamento cartesiano em todas as ciências, diversos teólogos renomados têm caído na armadilha do racionalismo e ofuscado a beleza da mensagem original dos apóstolos. Não seria a busca de reconhecimento pela ciência experimental, o verdadeiro motivo dessa postura por parte desses teólogos chamados "liberais"?

Mesmo após o período pós-guerra, no movimento da teologia neo-ortodoxa inaugurada por Karl Barth, que buscava um diálogo com a filosofia e a ciência racionalista, alguns, como R. Bultmann chegaram a desacreditar a fé na proclamação inicial da igreja, afirmando que a ressurreição de Jesus seria apenas uma renovação de Sua causa, a qual se consistia numa proclamação do Reino de Deus e um chamado à decisão por uma vida autêntica. Na verdade, segundo essa escola teológica, a fé na ressurreição de Jesus era vista até mesmo como um impedimento desnecessário para despertar a fé dos descrentes. Por isso, Bultmann entendeu que esse seria um ponto descartável para o Cristianismo. O ceticismo de Bultmann foi levado ao extremo por muitos outros teólogos. Mais recentemente, o teólogo cristão (?) J. D. Crossan, um dos componentes do “Jesus Seminar”, desacreditou a ressurreição de Jesus, chegando a afirmar que depois de Sua morte, Seu corpo teria sido devorado por cachorros.

O fato é que uma visão panorâmica no cenário teológico revela que poucos teólogos neo-ortodoxos tiveram coragem de reafirmar a fé na pregação dos apóstolos. Ao invés de "articular a fé", sendo esse o trabalho do verdadeiro teólogo do Deus Criador, eles a destruíram e a reconstruíram segundo suas próprias conveniências, numa busca de adequação ao paradigma da ciência racionalista. Contudo, um teólogo contemporâneo que sempre me impressionou pela sua corajosa disposição em favor do anúncio de Jesus é Wolfhart Pannenberg.


Wolfharth Pannenberg 


Pannemberg se recusava a explicar os relatos bíblicos da ressurreição de Jesus como apenas um fruto da imaginação dos apóstolos. Levantou muitas questões: Como seria possível que esses homens desanimados ao extremo, após a morte de Cristo chegassem sozinhos à conclusão de que Cristo ressuscitou? Quais benefícios teriam eles em inventar uma mentira de tamanha proporção? Para Pannenberg, a única explicação satisfatória para aquela mudança radical e repentina que ocorreu nos apóstolos seria exatamente a ressurreição corporal de Cristo. Além disso, como a comunidade cristã primitiva teria conseguido sobreviver, caso o túmulo de Jesus não estivesse, de fato, vazio? Pannenberg recordou que a justificativa criada pelos judeus para refutar a fé na ressurreição de Jesus, de que os discípulos roubaram o Seu corpo jamais teve qualquer sustento, mesmo posteriormente, e isso porque ninguém se atrevia a questionar a realidade factual do túmulo vazio. Assim, de acordo com Pannenberg, o túmulo vazio é um fato histórico, que junto à evidente mudança repentina que ocorreu nos primeiros discípulos de Jesus de Nazaré, se torna uma forte evidência de que Ele de fato ressuscitou corporalmente dentre os mortos.

Ainda que criticado em diversas ocasiões, e acusado de apologista, a coragem de Pannenberg levantou um movimento nos círculos teológicos da Europa, razão pela qual ele tem sido reconhecido como um dos maiores e mais respeitados teólogos de nosso tempo. Pannenberg ensinou a muitos jovens teólogos a serem firmes quando se trata da fé na ressurreição do Senhor, e que esse marco inicial de nossa fé não é de nenhum modo negociável. Rejeitar esse fundamento seria comprometer toda a estrutura do edifício dessa fé que um dia recebemos.


Teologia a Serviço de Deus ou dos Homens?


Retornado ao ponto inicial, considero que para ser teólogo nesses dias de descrença e transformação, quando tudo aquilo que é visto como “fixo” e “definitivo” é desacreditado, quando tudo exige que seja levado à experimentação, seja de fato, um desafio. Falo aos pastores e teólogos de nosso tempo: Seria bom rever o nosso papel como teólogos e o modo como encaramos a razão de ser da Teologia. Seria a Teologia apenas uma ciência a serviço da Humanidade, ou estaria ela a serviço de Deus? Ou seria ambas as coisas? Essas são perguntas de difícéis respostas. Isso porque se entendemos que o conhecimento de Jesus é dado aos seres humanos para Sua salvação e erguimento, logo, a Teologia é um serviço em favor dos homens, na busca de apresentar uma fé para os homens. Todavia, se ela se presta a anunciar uma verdade acerca de Deus, e para a glória de Deus, a lógica nos leva a pensar a Teologia como um instrumento de Deus. Como conciliar esse paradoxo?

Penso que podemos descobrir a resposta em Paulo, o apóstolo dos gentios. Podemos crer que Paulo foi aquele que mais enfrentou esse drama entre sucumbir ao pensamento lógico e experimentalista de seus dias ou permanecer com a proposta de fé recebida como revelação. Sua força na pregação se nota pelo fato de que como verdadeiro teólogo, sua mensagem nasceu de uma experiência pessoal. Para que um dia pudesse ter algo a proclamar, não foi ele apenas um receptáculo de uma fé que a ele foi proclamada; na verdade, Paulo teve de experimentar por si mesmo um encontro vivo com Jesus ressuscitado. Mais que uma mera apreensão de conhecimento acerca de Jesus e Sua mensagem, o anúncio de Paulo tinha a força de uma experiência pessoal com Aquele que o chamara. Em suas Epístolas, sempre se apresentava como um Apóstolo de Jesus, e não de homens. E talvez por isso, sua mensagem era mais que uma proclamação sobre Jesus Cristo: era sua própria vivência com Cristo. Talvez por isso, sua teologia não era conformista, e jamais sucumbia aos padrões de pensamento meramente humanos. Aos de Corinto, pôde afirmar:

“E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. E foi em fraqueza, grande temor e tremor que estive entre vós” (1Coríntios 2: 1-3. 

Vale lembrar que o apóstolo viera de uma dolorosa experiência no Aerópago de Atenas (Atos 17:16ss), frente aos filósofos gregos. Quando ali foi zombado, “pois pregava a Jesus e a ressurreição” rumou para Corinto, cheio de “fraqueza, temor e grande tremor”. Embora tivesse motivos para recuar quanto ao conteúdo de sua mensagem, é significativo percebermos sua insitência em 1Coríntios 15:1ss acerca da fé na ressurreição corporal de Jesus de Nazaré. Para Paulo, essa não era uma verdade negociável da fé apostólica, mas a essência dela, no verdadeiro sentido:

“Ora, eu vos lembro, irmãos, o evangelho que já vos anunciei; o qual também recebestes, e no qual perseverais, pelo qual também sois salvos, se é que o conservais tal como vo-lo anunciei; se não é que crestes em vão.
Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras; que foi sepultado; que foi ressuscitado ao terceiro dia, segundo as Escrituras.
E apareceu a Cefas, e depois aos doze; depois apareceu a mais de quinhentos irmãos duma vez, dos quais vive ainda a maior parte, mas alguns já dormiram; depois apareceu a Tiago, então a todos os apóstolos; e por derradeiro de todos apareceu também a mim, como a um abortivo.” (vv. 1-3).
“E se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados” (v. 17).

O grande impacto da Teologia de Paulo certamente foi a noção de que Jesus estava vivo e que havia se comunicado com ele. Sua Teologia era fruto de uma experiência pessoal com Jesus ressuscitado.


Considerações Finais


Penso que a Teologia tem seu valor para esses dias de incredulidade, onde as idéias humanas estão sempre em mutação e reformulação, desde que ela não caia na armadilha do experimentalismo, que exige sempre o crivo do laboratório e nega a realidade sobrenatural. Na verdade, a Teologia não carece dessa imposição para que se afirme como verdadeira ciência. Seremos sempre tentados a seguir a corrente do pensamento humano. Mas o que Paulo me ensina é que a minha Teologia só tem sua relevância para os homens quando ela o desafia a olhar para além de si mesmo, e a despertar sua fé no poder do Deus Criador. Entendo que a minha Teologia só serve ao homem quando ela estiver a serviço de Deus. E para que ela tenha seu poder para erguer, deve nascer de um encontro pessoal que nasce da fé em Jesus de Nazaré. Contudo, ela de nada serve, se Jesus não ressuscitou ou se Ele não está vivo, pois isso seria viver sem esperança.

Li certa vez que nos anos ’50 o famoso evangelista W. E. Sangster descobriu que tinha uma doença incurável, que causava atrofia muscular progressiva. Seus músculos iriam aos poucos atrofiar e ele perderia sua voz. Sangster se entregou ao máximo no seu trabalho de missões domésticas na Inglaterra.

Mas, aos poucos sua voz acabou por completo. Tremendo, ele ainda conseguia segurar uma caneta. Na manhã de seu último domingo de Páscoa, poucas semanas antes de falecer, ele escreveu um recado para sua filha.

Na mensagem ele escreveu, “É terrível acordar no domingo de Páscoa sem voz para proclamar ‘Ele ressuscitou!’. Porém, mais terrível ainda seria ter uma voz e não ter nada para proclamar.”

Meu convite a todos os teólogos ortodoxos ou não é que jamais calemos nossa voz. De que vale essa voz se nada temos a proclamar? Que anunciemos sempre a verdade mais poderosa do Cristianismo, com a mesma fé dos primeiros que a proclamaram a nós: “Ele não está mais aqui, mas ressuscitou” (Lucas 24:6). E com a mesma alegria de Maria, ousemos dizer: “Vi o Senhor!” (João 20:18).

http://pastorclaudiosampaio.blogspot.com 
diponível para compilação, desde que não sofra alteração e a fonte seja citada

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