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Esperança Cristã e Aliança: Perspectivas


BIBLIOGRAFIA:  BOFF, L.  Vida para além da morte (1a. ed.). Rio de Janeiro, RJ: Vozes, 1973. COMBLIN, J. Os sinais dos tempos e a evangelização: estudos em teologia pastoral I. São Paulo, SP: Duas Cidades, 1968. COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL (CTI). Teologia da redenção. 1a. ed. São Paulo, SP: Loyola, 1996.


I.

A esperança cristã surge sobre a base da protologia e da Aliança. Isso quer dizer que a esperança de redenção cristã se fundamenta não apenas na perspectiva de uma criação, mas de uma promessa de Deus que a orienta na caminhada rumo ao seu termo. Essa Aliança da Divindade para com a humanidade se estabelece mediante uma promessa de amor, cuidado e salvação. Assim, a presença do mal na criação é nada mais que a consequência de um abandono dessa Aliança firmada com o Criador desde sua origem. Mas ainda assim, essa Aliança estabelecida com a raça se torna o fundamento da esperança cristã, pois a Divindade não abandonou a humanidade em seu desamparo mas permanece fiel em Sua promessa e arquitetou salvá-la pelo amor. A perspectiva bíblica da esperança cristã afirma que o propósito dessa salvação é o retorno para Deus mesmo.

“[Essa] Aliança que ele [Deus] desejou e ainda deseja para a raça [...] É uma Aliança por meio da qual Deus quer associar os seres humanos à Sua vida, realizando – muito além do que eles possam por si mesmos desejar ou conceber.” (CTI, 1996, p. 22:35).

II.

Convém notar também a diferenciação do discurso cristão em relação a outros seguimentos religiosos ou ideológicos. O espiritualismo budista, com sua herança hinduísta proclama que Buda alcançou uma redenção por meio de uma compreensão, um aprofundamento de seu conhecimento interior que frutificou em uma libertação da ignorância. O Espiritismo moderno anuncia uma busca de redenção a partir de uma prática social, o desapego material e a prática da caridade. O Materialismo anunciou uma redenção por meio de uma ação revolucionária das bases econômicas do Estado e uma reestruturação da sociedade. Se o Espiritualismo falha em ignorar a necessidade de uma redenção do mundo em sua esfera material, por outro lado, a falha do materialismo se estabelece no entendimento de que a redenção do homem se realiza apenas em uma dimensão social, sem atentar para o mal em sua natureza espiritual e sua força escravizadora no homem. Apenas a esperança cristã concretiza a plena  redenção  do cosmo, mediante a morte e ressurreição de Jesus.

Dessa maneira, a fé cristã insiste em anunciar a existência do mal, mas que ainda assim, Deus mesmo sendo fiel à Sua promessa, interveio na história humana, a fim de resgatá-la ao seu vínculo original, a saber, para uma vida restaurada em sua totalidade nEle.  Pode-se dizer que Deus não apenas resgata o homem de sua ignorância, com base na sua auto-revelação em Cristo, como também supera uma compreensão meramente abstrata de Deus, alcançada mediante uma reflexão que levasse, a posteriori, a um exame acerca de qual o impacto esse tipo de “conhecimento prévio poderia trazer ao destino histórico da humanidade.” (CTI, 1996, p. 23:37). Em lugar disso, a fé Cristã afirma que Ele é quem vem ao encontro do ser humano e se revela em Sua natureza amorosa, tornando-se Ele mesmo a expressão da esperança de vida e salvação. A CTI expõe que a compreensão de Deus vem mediante Sua auto-revelação:

“... para a fé cristã, conhecer a Deus é confessá-Lo com base naquilo que Ele Próprio fez pelo homem, revelando-o totalmente a si mesmo no próprio ato de revelar-Se a ele, precisamente por entrar em relação com ele: estabelecendo e oferecendo ao homem uma Aliança e chegando, com essa finalidade, ao ponto de vir e torna-se encarnado na própria condição humana.” (CTI, 1996, p. 23:38).
Essa revelação não teria sido meramente uma expressão de termos filosóficos e experiências místicas pessoais:
“... não por termos sido, por assim dizer, apenas informados (por meros ensinamentos) das intenções de Deus. É por que de modo mais radical, Deus literalmente interveio na história e interveio no próprio coração da história; [...] suprema e definitivamente por meio de Jesus Cristo, seu Único e verdadeiro Filho, que entrou, encarnou-se na condição humana, em sua forma totalmente concreta e histórica.” (CTI 1996, p. 22:36).
Conforme a CTI, a presença de Jesus entre os homens foi de fato um ato redentivo em cumprimento de Sua promessa na Aliança. Pois é por meio dele que Deus redimiu a história, ao se tornar Ele mesmo um elemento histórico-temporal na pessoa de Jesus Cristo. Cristo se torna o novo Adão, o arquétipo da humanidade primitiva e sinal do Homem Novo. Ao encarnar-se como homem, ele se fez parte de todos os homens e parte da história humana. Leonardo Boff apresenta que
“...quando afirmamos e cremos nisso, cremos e afirmamos a fé na encarnação de Deus. O futuro de Jesus Cristo, feito presente dentro da história pela ressurreição, é o futuro da humanidade” (BOFF, 1973, p. 23). 

III.

Isso se explica pelo fato de que de que de acordo com a narrativa das origens, o cânon cristão apresenta que Adão falhou em sua Aliança com Deus, ao escolher negar-se às obrigações do pacto. A vinda de Cristo, como Filho de Deus, através de uma vida dedicada a Deus até a morte teve uma resposta final de Deus, que o honrou com a glória destinada a todos os que abraçam sua Aliança. Desse modo, a redenção do homem se tornou possível não mediante uma busca pessoal ou reflexiva do homem em busca de Deus, mas de sua aparição real e visível por meio de sua ressurreição dos mortos. Pois é por meio de sua ressurreição que Jesus participou em sua humanidade daquela glória que se encontra aberta a todo aquele que aceita uma participação na graça prometida a partir de uma relação com base numa Aliança.
“A palavra bíblica que exprime o conceito de história é o que constitui história inteira é Toledôt, gerações ou genealogia. O que constitui a história é (sic) humanidade inteira e envolve a totalidade nos seus projetos. Nesse sentido, o Cristo salva todas as gerações. Ninguém é rejeitado por pertencer a uma civilização vencida, um grupo social eliminado, uma etapa dialética hostilizada. A caridade atravessa todas as correntes, para tecer aos poucos o tecido do destino comum, restaurar a figura da humanidade reunida no novo Adão.” (COMBLIN, 1968, pp. 195-196).
O que isso quer dizer: Ao assumir a posição de Adão, Jesus não redime apenas a Adão e à sua geração, mas a partir de si mesmo abraça a toda a humanidade e a redime de seu mal. Por isso, se diz que em Jesus a história humana se encontra redimida em sua totalidade. Nele – Cristo – Deus evidenciou o “absoluto futuro” (BOFF, 1973, p. 23). - [Cláudio Sampaio]


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