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O MMA e a Ética do Evangelho - Aprendendo com Santo Agostinho


O MMA (Mixed Martial Arts) é um esporte de combate, no qual se usa as mais diversas técnicas marciais e golpes com punhos, pés, joelhos e cotovelos, além de técnicas de imobilização.  A sigla UFC (Ultimate Fighting Championship) se refere mais diretamente às competições dos praticantes de MMA. Qualquer um em são juízo, ao assistir a uma luta de MMA diria que em tal esporte os riscos seriam abundantes. Mas na busca de justificar sua prática, o que se tem argumentado é que as lesões ocorridas em competições de MMA seriam semelhantes ao de outros esportes de combate, chegando-se a alegar que se trata de um esporte mais seguro até mesmo que o Boxe ocidental. Outros afirmam sua evolução, recorrendo ao argumento de que o assim chamado "esporte" mudou drasticamente desde que o primeiro UFC  idealizado por Roryon Gracie e Robert Meyrowitz foi realizado em 1993.

O que muitos ignoram é que apesar de seu pouco tempo de existência como esporte, o MMA já teve pelo menos quatro incidentes fatais e outros graves. A primeira fatalidade se deu com Douglas Dedge,em 1988, na Ucrânia, e ocorreu em um evento não oficial, no tempo em que o MMA se denominava como “Vale-Tudo”. Para atenuar o caso, tem-se afirmado que se tratava de uma luta não sancionada, e por meio de boatos não confirmados, se tem alegado que o atleta possuía quadro médico pré-existente. Outra fatalidade está relacionada a um homem de 35 anos, identificado apenas como Lee, na Coreia do Sul, que morreu em uma luta não oficial em um restaurante chamado Gimme Fiveaté, em 2005. Também houve incidentes graves como o que ocorreu com Jefrey Dunbar, lutador amador de apenas 20 anos de idade que fraturou sua coluna e ficou paraplégico durante uma luta com Rudy Bahena, na cidade de Illinois, EUA, em dezembro de 2011.

Nenhuma fatalidade havia ocorrido em eventos oficiais de MMA, até a morte de Sam Vasquez em 30 de novembro de 2007. Vasquez foi nocauteado por Vince Libardi no terceiro round em 20 outubro de 2007, no Toyota Center em Houston, Texas. No período de dez dias,Vasquez passou por duas cirurgias para remover coágulos de sangue no cérebro, sofreu um AVC e nunca mais recobrou a consciência. A outra morte documentada em MMA ocorreu na Carolina do Sul, quando Michael Kirkham, com 30 anos de idade, foi nocauteado e declarado morto em 28 de junho de 2010, dois dias depois da luta.

Apesar dessas fatalidades e de outros incidentes graves relacionados ao MMA, tem-se notado uma insistência na apologia ao dito esporte. Um estudo realizado pela John Hopkins University, por exemplo , chegou à conclusão que "a taxa de acidentes em geral (excluindo lesão ao cérebro) em competições de MMA é semelhante a outros esportes de combate, incluindo boxe. Taxas de nocautes são mais baixas nas competições de MMA que no boxe”. Em razão disso, até mesmo cristãos evangélicos não apenas se deleitam nos campeonatos, como até mesmo têm promovido lutas no espaço de seus templos, a fim de atrair interessados, como fez a Igreja Renascer, em julho de 2012, na Zona Leste de São Paulo.

Considerando a insistência na apologia ao dito esporte, fica a pergunta maior: Seriam as lutas de MMA nos UFC`s um entretenimento adequado para o cristão? Em que sentido seria inadequado para a ética do Evangelho?

Avaliando os efeitos nocivos do esporte, fica difícil reconhecê-lo como adequado à filosofia da “vida abundante” proposta por Jesus.  Lembremos que o cristão é chamado a uma contracultura, nas bases do Sermão do Monte (Mt 5-7), promovendo os valores da mansidão e da paz. Na verdade, toda violência, apesar de suas justificativas e racionalizações, são derivadas da cultura de morte, e, portanto, inadequadas para a realidade do Reino de Deus. Aqui não interessa a comparação feita entre esportes de lutas, mas sim uma avaliação de todos os esportes à luz do Evangelho. Afirmar que o MMA é mais seguro que o Boxe não ajuda em nada ao cristão, frente a esse dilema. Nesse sentido, não apenas o MMA, como também o Boxe seriam inadequados, pelos seus efeitos. Afinal, foi Jesus mesmo quem afirmou que se é possível conhecer a qualidade de uma árvore pelos seus frutos que produz (Mt 7:17).

Outro ponto que merece reflexão é a contradição entre a sede de violência caracterizada pelos que assistem a estes eventos e ao ensino de que o cristão convertido deve se deleitar apenas naquilo que é justo, puro, amável, louvável e de boa fama (Fp 4:8). A cada golpe aplicado, o público vai ao delírio, à semelhança dos expectadores do antigo Circo de Roma. Reinterando, lembremos que a prática da violência foi um dos motivos para o juízo de Deus por meio do dilúvio: “Então disse Deus a Noé: Resolvi dar cabo de toda carne, porque a terra está cheia de violência dos homens” (Gn 6:13). E séculos depois, o salmista afirmava a mesma aversão de Deus: “O Senhor prova a o justo e ao ímpio; mas o que ama a violência, a sua alma o abomina” (Sl 11:5). Deleitar-se nas lutas de MMA não seria uma das maneiras de se amar a violência?

À luz das questões propostas, gostaria de chamar a atenção para a descrição que Agostinho apresenta de um cristão, que a contragosto foi conduzido ao espetáculo dos gladiadores, nos dias do século IV d.C. O personagem que Agostinho descreve era um jovem cristão chamado Alípio, e é perceptível o paralelo com a nossa realidade.

"Não desejando de modo algum abandonar a vida deste mundo a que o estimulavam seus pais, tinha me precedido em Roma para estudar Direito e lá foi vítima, em condições inacreditáveis, de uma paixão igualmente inacreditável pelos espetáculos de gladiadores. No início odiava esses espetáculos. Mas alguns amigos, companheiros de estudo, que voltavam de um jantar, encontraram-no por acaso na rua. Tentou resistir energicamente, mas seus amigos o impeliram com uma violência amistosa e o levaram ao anfiteatro, onde nesse dia, ocorriam esses jogos cruéis e funestos. Ele lhes dizia: “Meu corpo, vocês podem arrastar e instalá-lo nas arquibancadas, mas poderão fixar meus olhos e meu espírito, pela força, nesses espetáculos? Estarei como que ausente e triunfarei sobre vocês e sobre eles”. Essas palavras não impediram seus amigos de levá-lo. Queriam ver se conseguiria fazer o que dizia. Chegaram, sentaram-se como puderam, todo o anfiteatro ardia com as mais selvagens paixões. Alípio, fechando seus olhos, proibiu seu espírito de participar dessas atrocidades. Pena que não tenha também abafado seus ouvidos. Pois aturdido pelo grito tonitruante de toda a multidão após a queda de um dos gladiadores, foi vencido pela curiosidade e, como se estivesse preparado para suportar e desprezar o que fosse que estivesse acontecendo, abriu seus olhos e recebeu em sua alma uma ferida mais severa do que o gladiador recebera em seu corpo, e caiu mais miseravelmente que o homem cuja queda suscitara o grito. Pois quando viu o sangue, imediatamente sorveu a selvageria e não virou o rosto, mas fixou-se na imagem que via e absorveu a loucura e perdeu seu senso crítico e deleitou-se com a luta criminosa e embebedou-se num funesto prazer. Não era mais o homem que tinha ido ao espetáculo, mas um membro da multidão, um verdadeiro companheiro daqueles que o haviam trazido. Em suma, acompanhou o espetáculo, gritou, ferveu de emoção e saiu de tal modo insano que estava pronto, não apenas para acompanhar de novo os que o haviam trazido, mas para convencer outros a ir." (Agostinho, Confissões, VI, 8).

Como certa feita questionou Norberto Luiz Guarinello, o que teria acontecido com Alípio? Porque a violência do espetáculo pareceu-lhe não apenas aceitável, mas desejável e emocionante? Não foi a simples visão do sangue. A resposta é uma só: Ao ser introduzido no ambiente, seus instintos mais baixos foram despertados, e no meio da caterva embevecida, ele se tornou apenas "mais um" entre tantos, alienado de seus valores e seduzido até a alma pelas sensações que o delírio da turba diante do espetáculo despertava.

Assim, acerca do MMA e das lutas de UFC, nesse caso, penso que vale a pena seguir o conselho de Cristo: “Toda árvore que não produz bom fruto [deve ser]  cortada e lançada ao fogo” (Mt 7:19). - [Claudio Soares Sampaio]

Referências (todas podem ser encontradas na internet):

1. G.. H. Bledsoe, E. B. Hsu, J. G. Grabowski, J. D. Brill, G. Li. Incidence of Injury in Profissional Mixed Martial Arts Competittions. Journal of Sports Science and Medicine 2006; 5(CSSI), p. 136 - 142.

2. Norberto Luiz Guarinello. Violência como espetáculo: o pão, o sangue e o circo. História, São Paulo, v. 26, n. 1, p. 125-132, 2007.

3. Marcelo Mora. Igreja evangélica recorre a lutas de MMA para arrebanhar novos fiéis. Matéria publicada no site G1 -São Paulo, dia 27/07/2012.

diponível para compilação, desde que não sofra alteração e a fonte seja citada

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