SOBRE AS REAÇÕES CONTRÁRIAS AO LIVRO O GRANDE CONFLITO
Nos últimos dias tem circulado nas redes reações diversas de pessoas que receberam o livro O Grande Conflito, de Ellen White. Reações negativas por parte de autoridades religiosas são bem frequentes. O propósito desse ensaio é apenas refletir se tais reações não seriam fruto de nossa falta de habilidade no trato com o povo. Alguns textos da própria Ellen G. White, autora e pioneira do adventismo serão fonte de nossa abordagem.
Para início podemos afirmar que infelizmente muitos de nossos membros ainda creem que a verdade bíblica deve ser dita “de modo direto”, “sem rodeios”, “doa a quem doer” e que “qualquer meio” deveria ser usado para repassar a mensagem adventista. Talvez por isso quando chega a oportunidade de distribuir uma literatura como O Grande Conflito muitos já pensam naqueles a quem o livro fará um confronto direto, um tratamento de choque.
Mas a pergunta chave é: qual método daria mais frutos? Como Jesus faria? Qual geraria uma boa resposta ao invés de confronto? Já fizemos muito uso de um texto que traz uma orientação sobre esse assunto:
“O Salvador misturava-Se com os homens como uma Pessoa que lhes desejava o bem. Manifestava simpatia por eles, ministrava-lhes às necessidades e granjeava-lhes a confiança. Ordenava então: ‘Segue-Me’” (A Ciência do Bom Viver, p. 143).
Uma reação negativa bem emblemática foi a de uma autoridade religiosa que recebeu um grupo que lhe entregou o livro em seu escritório, fez uma foto e foi embora. Após uma avaliação do livro, o religioso percebeu que havia sido vítima de uma afronta, pois notou que o seu conteúdo confrontava de modo direto a sua fé. Mas o que mais o incomodou foi perceber que foi induzido a fazer uma foto que seria usada certamente para o marketing do livro. E essa foto de fato está circulando na rede! Ele queimou o livro e recomendou seus fiéis a fazer o mesmo!
Claro que não há nada de errado na distribuição de livros para autoridades religiosas, mas o correto nesse caso seria que fosse através de uma pessoa amiga, que fosse em um momento marcado por uma boa conversa, e que se evitasse a todo custo qualquer tipo de exposição midiática.
Esse tipo de encontro deveria ser um meio de reforçar nossa amizade, para que assim pudéssemos trazer benefícios mútuos no aprimoramento de nossa fé, em um momento futuro. Nesse caso o religioso citado afirmou que até então tinha um bom relacionamento com a Igreja Adventista, que gozava de respeito de sua parte. Então fiquei a pensar: e se fosse o líder local da igreja, com quem o religioso tivesse alguma afinidade fosse quem pessoalmente lhe entregasse o livro?
Quando você lê as orientações que a própria Ellen G. White deixou para Igreja Adventista sobre o modo correto de fazer contato com pessoas de outra fé, entendemos que devemos ser mais cautelosos em nossas abordagens, para que haja melhores frutos em nossa evangelização.
A própria Ellen White praticava esses conceitos. No livro biográfico “Ellen White, Mulher de Visão”, o autor Arthur L. White comenta sobre o momento em que sua avó viajava em um navio e foi reconhecida por uma comunidade de crentes Batistas. Pediram então que ela conduzisse um momento de adoração que seria realizado à noite, e ela fez isso. O tema que ela pregou naquela ocasião não foi acerca do mandamento do sábado ou quaisquer outras diferenças religiosas. Ela enfatizou o amor e o cuidado de Deus pelos seus filhos e o impacto foi sentido. Diversas pessoas a agradeceram após sua pregação.
Segue alguns de seus pensamentos sobre como se aproximar de outros cristãos, especialmente dos que seguem a orientação católica:
“Não devemos, ao entrar em um lugar, levantar barreiras desnecessárias entre nós e outras denominações, especialmente os católicos, de modo que eles pensem que somos seus inimigos declarados. Não devemos criar desnecessariamente um preconceito em seu espírito com o fazer-lhes um ataque. Muitos há entre os católicos, que vivem incomparavelmente mais segundo a luz que têm, do que muitos que professam crer na verdade presente, e Deus os provará tão certamente como nos tem provado a nós.” — Manuscrito 14, 1887; Evangelismo, pág 144.
“Sede cautelosos em vossos labores, irmãos, não ataqueis com demasiado vigor os preconceitos do povo. Não se deve sair do caminho para investir contra outras denominações; pois isto só cria um espírito combativo, e cerra ouvidos e corações à entrada da verdade. Temos nossa obra a fazer, a qual não é derribar, mas construir. Temos de reparar a brecha feita na lei de Deus. A obra mais nobre, é edificar, apresentar a verdade em seu vigor e poder, e deixar que ela abra caminho através de preconceitos e revele o erro em contraste com a verdade.
Há perigo de que nossos ministros digam demasiado contra os católicos e provoquem contra si mesmos os mais fortes preconceitos dessa igreja. Muitas almas há, na fé católica romana, que olham com interesse a este povo; mas o poder do padre sobre seu rebanho é grande, e se, por seus argumentos, pode prevenir o espírito do povo para se manter afastado, de modo que, ao ser-lhe exposta a verdade quanto às igrejas caídas, não lhe dê ouvidos, ele certamente o fará. Mas como coobreiros de Deus, são-nos providas armas espirituais poderosas para derribar as fortalezas do inimigo.” — Carta 39, 1887; Evangelismo pág 574.
Sobre o uso de nossa literatura em relação com nossos irmãos católicos, segue dois textos. Um sobre o cuidado com o conteúdo publicado no periódico The Bible Echo, do período pioneiro e outro sobre a sabedoria de Deus em dar sua mensagem de modo velado, nos livros proféticos:
“Pregai a verdade, mas refreai palavras que manifestem um espírito áspero; pois tais palavras não podem ajudar ou esclarecer a ninguém. O Echo é um periódico que deve ser amplamente disseminado. Nada façais que lhe prejudique a venda. Não há razão por que ele não seja como a luz brilhando em lugar escuro. Mas, por amor de Cristo, dai ouvidos às admoestações dadas quanto a não fazer demolidoras observações quanto aos católicos. Muitos deles lêem o Echo, e entre estes há almas sinceras que hão de aceitar a verdade. Mas fazem-se coisas que são como fechar-lhes a porta no rosto quando estão a ponto de entrar. Ponde no Echo mais animadores testemunhos de ação de graças. Não lhe obstruais o caminho, impedindo-o de ir a toda parte do mundo por torná-lo mensageiro de expressões duras. Satanás se regozija quando se encontra em suas páginas uma palavra mordaz.” — Counsels to Writers and Editors, 45 (1896); Evangelismo pág 575.
“Talvez tenhamos menos para dizer — Há necessidade de um estudo mais acurado da Palavra de Deus; especialmente Daniel e Apocalipse devem merecer atenção, como nunca dantes na história de nossa obra. Talvez tenhamos menos a dizer a certos respeitos, quanto ao poder romano e ao papado, mas devemos chamar atenção ao que os profetas e apóstolos escreveram pela inspiração do Espírito de Deus. O Espírito Santo tem moldado os assuntos, tanto no dar a profecia, como nos acontecimentos descritos, de forma a ensinar que o instrumento deve ser mantido fora de vistas, oculto em Cristo, e o Senhor Deus do Céu e Sua lei devem ser exaltados.” — Counsels to Writers and Editors, 45, 46 (1896); Evangelismo pág 577.
À luz do exposto creio que podemos tirar algumas conclusões.
1. A primeira delas é a de que não precisamos confrontar a fé de ninguém de forma acintosa. A melhor maneira de expor verdades contundentes seria através da amizade.
2. Outra conclusão é que alguns materiais são adequados para um grupo de pessoas e outros para outro tipo de pessoa. O que fica para nós, é que para alguns, especialmente no primeiro contato, ou pessoas muito apaixonadas há outros livros melhores. A melhor maneira de distribuir O Grande Conflito seria para nossos amigos e familiares, ou pessoas que temos alguma afinidade, com quem poderemos estabelecer futuras conversas que trarão aprofundamento no conteúdo e assim gerar bons resultados.
3. Por último, podemos dizer que outros métodos mais agressivos podem ser usados, é claro, mas o resultado nem sempre será tão bom.
Como disse um colega: ao invés de enfatizar a quantidade de livros que você venha a distribuir, talvez o melhor mesmo seria focar no trabalho bem feito.
✅ Pr Sampaio
Betim 11/04/2023
A boa amizade com a pessoa que vai receber o livro é ideal o choque vai ser bem menos
ResponderExcluirFalar a verdade com amor vai dar resultado
ResponderExcluirMuito oportuno este artigo. Eu, que fui colportor- estudante aprendi algumas coisas: 1- diálogo proativo, 2- falar abertamente da fé, não incluir o livro religioso como “brinde” ; mas literalmente vendê-lo e literalmente perder a venda. Ai apresentar livros, como o Grande Conflito, gerava perguntas dentre as quais…. “ esse livro fala contra a Igreja Católica? Então candidamente dizia-lhe que narrava a inquisição e os erros do clero medieval. Isso nunca foi impecilho para eu vender o Geande Conflito entre católicos. Questiono presentear livros em massa e questiono não vendê-los em massa; pois em vendê-los há um convencimento da alma que é fundamental!!!!! Por isso, questiono o evangelismo paternalista e, no mal sentido, até apressado que se faz atualmente.
ResponderExcluir