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A Esperança Cristã e Seus Sentidos em Comblin: Perspectivas


BIBLIOGRAFIA UTILIZADA: 1. COMBLIN, J. Os sinais dos tempos e a evangelização: estudos em teologia pastoral I. São Paulo, SP: Duas Cidades, 1968. 2. COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL (CTI). Teologia da redenção. (1a. ed.) São Paulo: Loyola, 1996.

 Bem recentemente, com base especialmente em José Comblin, eu publiquei neste blog algumas notas sobre a esperança cristã, sob a perspectiva de como a "esperança" se torna a linguagem primordial de todas as ideologias e manifestações religiosas da caminhada dos povos, em sua busca de redenção (aqui).  Considerando que a esperança é uma linguagem comum que remete para uma diversidade de concepções acerca da salvação e redenção, gostaria de rever o sentido dessa salvação, de acordo com o ensino cristão. 

Nesse tópico, gostaria de apresentar não apenas as perspectivas um tanto quanto falhas de apresentar a esperança cristã, mas gostaria de também expor a perspectiva que José Comblin reconhece ser a forma autêntica e que corresponde à perspectiva do próprio Cristo.

I


Por processo de eliminação, Comblin descarta os diversos sentidos  do discurso cristão acerca da esperança ao longo da história, para que então se afirme assim o conceito mais adequado para o fundamento da esperança cristã em sua totalidade. São seis os sentidos apresentados em sua obra, os quais ele considera "ineficazes": 

1) O sentido popular. Aqui, a salvação se refere a situações concretas, como o salvamento de uma tragédia ou um caso urgente, o que se leva ao apego das figuras dos santos que promovem a esperança de um alívio imediato. Talvez se possa dizer que se trate de um "senso comum", que não busca as bases teológicas ou racionais para definir o termo.

2) O sentido legalista. Promove a esperança da salvação da “alma”. A preocupação é com a salvação no sentido de conversão de massas para uma experiência coletiva de participação futura no céu, sem maiores preocupações com a salvação integral do ser e do sentido de salvação coletiva ou do conceito de uma humanidade renovada.  Nesse sentido, se exige normas e procedimentos como experiência de salvação.

3) O sentido eclesiástico. A salvação consiste em estar na igreja, a arca da salvação. A tranquilidade de pertencer à Igreja, como no catolicismo, que estabelece o desejo de que todos sejam católicos, na garantia de que seu futuro se estabelece mediante essa filiação. Mas como o próprio Comblin vai dizer, os proponentes dessa tese se esquecem de que a Igreja é feita de pecadores e sem a conversão, nem mesmo Igreja salvará do julgamento de Deus. 

 4) O sentido existencialista. A salvação se consiste em realizar uma existência autentica, “a qual se consta de uma decisão autêntica, a fé.” (COMBLIN, 1968, p. 191). Este caminho restringe a salvação como experiência meramente individual, enquanto que o Cristianismo refere-se ao destino da humanidade tomado em sua totalidade, e atinge a cada indivíduo pelo fato de estar ligado à humanidade de Jesus e em Sua solidariedade conosco. 

5) O sentido mítico. Expõe que “a salvação consiste em participar consciente e explicitamente da realidade da salvação imanente na história. As forças da salvação estão atuando; elas conduzem a todos os homens”, em seu estado dito “oculto.” A salvação é revelada de modo obscuro pelos mitos, sendo que “a revelação bíblica foi uma lenta superação do mito. Porém, sempre é possível voltar para trás, para os mitos, que nunca desaparecem totalmente da estrutura humana.” (COMBLIN, 1968, p. 191). Obviamente, aqui se refere bem mais que às concepções gnósticas que buscavam a redenção nos mitos com base no conhecimento, e experiências de iniciação como participação neles. Fala da percepção de que a salvação como linguagem pode se encontrar presente em todo movimento atuante que a desenvolve, numa situação histórica. No caso, a libertação Marxista seria uma delas.

6) O sentido messiânico. A salvação seria instalar na história o reino da justiça e da paz definitivas. Essa era a esperança de Israel, uma salvação meramente temporal, como uma derrocada de poderes contrários dentro de uma esfera política e histórica, que segundo Comblin, Cristo teria rejeitado. Para Comblin,  “à aspiração messiânica Deus responde pela mensagem da cruz.” (COMBLIN, 1968, p. 192).

II


Em lugar desses paradigmas políticos/míticos/existencialistas históricos ineficazes de apresentação da esperança cristã, Comblin  declara o que considera a mensagem de salvação cristã autêntica: a "participação" do homem no destino de Jesus, que realiza a consumação da esperança por meio de sua morte e ressurreição, abrindo o Seu caminho a todos os homens. Desse modo: 
“a salvação é participação na vida das pessoas divinas pela operação do Espírito que realiza a adoção pelo Pai unindo os homens a Cristo num só corpo do Filho.” (COMBLIN, 1968, p. 192). 

Para ele, a esperança de salvação histórica realizada na pessoa de Jesus Cristo converge nEle mesmo e estabelece o próprio Cristo como o centro dessa esperança: 
“Cristo entra na fila das gerações humanas como novo líder das gerações. O que Cristo salva não é a natureza humana in abstracto, nem indivíduos humanos, nem grupos de eleitos, mas a raça de Adão, aquela sucessão de gerações em que Deus o colocou. A obra de Cristo diz respeito a essa história.” (COMBLIN, 1968, p. 193).
A perspectiva da fé cristã, segundo Comblin, proclama que Jesus se torna o líder da humanidade e se faz o salvador do gênero humano, a fim de promover uma participação humana na vida divina. Pela sua morte e ressurreição dos mortos, se anuncia que o homem chegou a uma vida plena, destinada a todos os homens, não apenas a uma "existência abstrata", como propagado pelas ideologias espiritualistas, que eliminam a corporificação do homem redimido. Cristo assim apresenta o resgate da vida em estado de escravidão e de morte,  para os tempos novos: o tempo da salvação. Essa perspectiva se encontra também exposto pela Comissão Teológica Internacional (CTI), para a qual a humanidade em sua totalidade foi redimida por Deus em Cristo
“para o propósito de participação na vida divina, para a qual fomos primordialmente criados. Essa participação é indicada pela doutrina da ressurreição do corpo, quando os seres humanos, em sua realidade total a totalidade da vida divina.” (CTI, 1996, p. 22:34).
Em resumo, pela proposta de Comblin, se entende que a esperança cristã se projeta a criatura humana para aquilo que o próprio Jesus chegou a ser, sendo que ele se tornou assim o ponto de chegada de todos os homens, quando Ele mesmo se fez homem e ao mesmo tempo, a imagem perfeita do homem, na ressurreição.

Ser salvo, em resumo, significa estar unido a Cristo, em vida e vivo nEle, pelo poder da ressurreição na morte.

http://pastorclaudiosampaio.blogspot.com

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