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Passagens Subordinativas e a Divindade de Jesus - II



 José Carlos Ramos
Th.D.
Mais duas passagens subordinativas devem ser consideradas: I Cor. 11:3 e 15:27 e 28. Em contraste com as anteriores, dizem respeito ao Cristo glorificado e exaltado à direita do Pai, mas a exemplo daquelas, falam de Sua subordinação sem Lhe furtar a dignidade divina.
I Cor. 11:3 “Deus, o Cabeça de Cristo”

“Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça de todo homem, e o homem o cabeça da mulher, e Deus o cabeça de Cristo.” Com estas palavras o apóstolo Paulo introduz algumas recomendações (versos 4-16) quanto ao comportamento do homem e da mulher, particularmente condizentes com o contexto social e religioso local e do tempo do após­tolo, mas aplicáveis, em seus princípios, a qualquer época e lugar. O tema é palpitante e digno de um estudo à parte.

Em 1 Cor. 11:30 apóstolo afirma três coisas: (1) o homem é o cabeça da mulher; (2) Cristo é o cabeça de todo homem; (3) Deus é o cabeça de Cristo. Alteramos a ordem das afirmações para enfatizar que uma gradação de autoridade pode ser aqui observada. Deus é a autoridade maior e Cristo ocupa posição de mediação. Sua subordinação a Deus e Seu senhorio sobre o homem emprestam significado à subordinação e senhorio no âmbito terrestre. Há aqui qualquer indicação de uma divindade inferior da parte do Filho? Atente­mos antes para as outras duas afirmações.

Quando é dito que Cristo é o cabeça do homem, não significa que Ele não é o cabeça da mulher também. Este é um fato importante para o assunto da igualdade dos sexos perante Deus. Outros textos se referem a Cristo como “cabeça da Igreja” (Efés. 5:23; Col. 1:18) e esta é composta de homens e mulheres. A luz do evangelho toda qualquer discriminação perde sua razão de ser. “Não pode haver... nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”. (Gál. 3:28.)

O homem é o cabeça da mulher no que tange a esta vida com suas implicações sociais, as quais encontram na vida conjugal sua maior ex­pressão. Daí a recomendação apostólica de que a esposa seja submissa ao marido “como ao Senhor” (Efés. 5:22-24; Col. 3:18. Cf. Tito 2:5). Ë também urna questão de prioridade existencial já que o homem foi criado antes da mulher, dele ela procede e ela veio a existir por causa dele (I Cor. 11:8 e 9). Mas nada disso envolve qualquer sentido de inferioridade feminina. A mulher é apenas lembrada do dever de cumprir o papel provido por Deus para ela. Como diz Champlin: “A mulher não é espiritualmente inferior ao homem, mas está subordinada a ele nesta esfera terrestre, especificamente a seu próprio marido.” (1)

No mesmo contexto em que a prioridade do homem é declarada, lemos: “No Senhor, todavia, nem a mulher é independente do homem, nem o homem, independente da mulher. Porque, como provém a mulher do homem, assim também o homem é nascido da mulher; e tudo vem de Deus” (ver­sos 11 e 12). Portanto, uma dependência mútua entre os dois é estabelecida. Ambos possuem direi­tos e deveres que serão reciprocamente respeitados e cumpridos caso a consciência da igualdade comum seja mantida. E neste dar e receber ambos se completam e realizam.

Seria diferente o sentido de sub­missão na esfera celestial, divina? Absolutamente. Paulo, com efeito, alude a três ordens de submissão entre iguais: (1) da esposa ao ma­rido, ambos possuidores de todas as prerrogativas humanas; (2) da Igreja a Cristo, o qual para Se tornar o Seu cabeça, identificou-Se com ela, adotando a natureza humana ao ponto de Se tornar igual a nós em tudo, exceto no pecado (Heb. 2:14 e 17, ver também Efés. 5:30-32); e (3) de Cristo a Deus, considerando que Ele, embora tenha adotado para sempre a natureza humana, continua sendo “Deus essencialmente, e no mais alto sentido”. (2)Ê evidente, portanto, que em 1Coríntios 11:3 temos mais um exemplo de submissão em termos de um relacionamento não essencial, mas funcional. Igualdade de natureza não significa necessariamente igualdade de posição. Tam­pouco diferença de posição significa necessariamente diferença de natureza ou essência. “Existe aquela força suprema, Deus Pai, o qual opera por intermédio do Filho de Deus, o qual, por Sua vez, opera por meio do Espírito Santo... Quanto à posição e à tarefa, certas distinções devem ser feitas... Mas isto é um arranjo divino, que não se alicerça sobre qualquer inferioridade de seres, mas antes, numa lógica divina de posição”.(3) Dizer -que Cristo é um Deus inferior por ter o Pai por cabeça é tão irrazoável quanto dizer que a mulher é um ser humano inferior por ter o homem por cabeça. A dedução nos parece lógica e irretorquível.

ICor. 15:27 e 28 - "O Próprio Filho Também Se Sujeitará"

“Porque todas as coisas sujeitou debaixo dos Seus pés. E quando diz que todas as coisas Lhe estão sujeitas, certamente exclui Aquele que tudo Lhe subordinou. Quando, porém, todas as coisas Lhe estiverem sujeitas, então o próprio Filho também Se sujeitará Aquele que todas as coisas Lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos.”
À luz das conclusões precedentes, não há por que supor que nessa passagem Paulo atribui a Jesus uma natureza divina inferior. Somente uma interpretação “força­da”, estribada nalgum conceito antitrinitário, poderia conduzir a tal hipótese. Sua subordinação a Deus não Lhe denegriu a divindade plena, quer enquanto neste mundo quer de volta ao Céu após a ressurreição. Por que o faria na consumação dos séculos?

A passagem situa-se no grande capítulo da ressurreição (1 Cor. 15) e é por demais significativa para ser passada por alto. Deve ser considerada em seu contexto escatológico com ênfase na consumação final quando o plano da redenção alcançará total cumprimento. Ë, pois, de importância singular pa­ra o presente estudo. Ela envolve as implicações da sujeição de Jesus na erradicação definitiva do pecado.

Primeiramente observemos o que o apóstolo está dizendo:

“Todas as coisas sujeitou debaixo dos Seus pés”. Esta é uma claríssima referência ao Salmo 8 onde é afirmado que no princípio Deus sujeitou todas as coisas a Adão (verso 6). Paulo interpreta o salmo messianicamente e aplica-o a Jesus (cf. Heb. 2:5-8). (4) O sentido é que a partir da ressurreição cada coisa deve ser subordinada a Jesus. Ele é o segundo Adão.
“... exclui Aquele que tudo Lhe subordinou”. Dois fatos são aqui declarados: (1) E o Pai quem subordina todas as coisas ao Filho. Mas isto não significa que o Filho não possui o mesmo poder que o Pai. Muito ao contrário, confirma aquilo a que já nos referimos — que Jesus participa da mesma essência divina do Pai. Paulo jamais nega que o Filho possui idêntico poder de subjugar todas as coisas (ver Filip. 3:21). Na realidade o Pai aqui sujeita todas as coisas ao Filho rio próprio ato de o Filho sujeitar to­das as coisas a Si mesmo (versos 24 e 25). Não podemos esquecer que Jesus, no cumprimento do propósito divino, realiza não apenas as mesmas obras do Pai (João 5:17, 19-21; 14:11), mas as próprias obras do Pai (7:16; 8:16; 9:4; 14:10). Em outras palavras, o Pai age na própria ação do Filho.

(2) Tudo deve ser subordinado a Jesus, exceto Deus, pois o processo que culmina com a subordinação de todas as coisas ao Filho objetiva que finalmente todas as coisas voltem a estar sob o domínio de Deus (verso 18 última parte). Pela mesma razão ocorre a subordinação do Filho, declarada em seguida.

“O próprio Filho também Se sujeitará.. .“ Uma criação que se rebelou contra Deus deve ser restaurada ao domínio de Deus. Isto é feito através do plano da redenção cujo cumprimento foi confiado ao Filho (João 3:35; 13:3). O desempenho de Jesus é tal que todas as coisas acabam subordinadas a Ele, e, através dEle, ao Pai. Assim o plano da redenção em seu propósito último depende da sujeição de Jesus. Faltando esta, o plano ficará frustrado.

A sujeição de Jesus é referida nos versos 24 e 25 nestes termos:

"E então virá o fim, quando Ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo o principado, bem como toda potestade e poder. Porque convém que Ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos Seus pés”. O paralelo com o verso 28 é evidente. “... destruído todo principado, bem como toda potestade e poder” e “... haja posto todos os inimigos debaixo dos Seus pés” se equivalem, e correspondem a “quando, porém, todas as coisas Lhe estiverem sujeitas”. Por sua vez, ... quando Ele entregar o reino ao Deus e Pai” corresponde a “... o próprio Filho Se sujeitará Aquele que todas as coisas Lhe sujeitou”. O tempo para Jesus entregar o rei­no, ou sujeitar-Se, é referido como “o fim”. Este é o fim absoluto, “o fim final” que segundo o verso 26 irrompe com a destruição da mor­te, o último inimigo. Aponta, por­tanto, não para a segunda vinda, mas para o fim do milênio quando “a morte e o inferno” serão “lançados no lago de fogo” (Apoc. 20:14). Em outras palavras, com o aniquilamento de Satanás, o último rebelde, a própria morte será aniquilada. “O fogo que consome os ímpios, purifica a Terra. Todo vestígio de maldição é removi­do” (5), e o planeta ressurge em sua perfeição edênica. Com este derradeiro ato de Cristo no trato com a rebelião, é colocado o ponto final no plano da redenção. Então, ao Ele Se sujeitar a Deus, propicia-se que os efeitos da execução deste plano sejam desfrutados para sempre. Isto equivale a dizer que o pecado jamais se levantará outra vez.

Não devemos supor que Paulo afirme nos versos 24 e 25 que Cris­to reinará apenas até que o último inimigo seja vencido, e que, uma vez alcançado esse último triunfo, entregará a Deus o reino para deixar de ser Rei. Os ofícios messiânicos de Jesus são eternos, tanto quanto a Sua pessoa. Para sempre Ele é Profeta, isto é, o meio da revelação divina; Sacerdote, isto é, o Medianeiro entre Deus e a criação; e Rei, isto é, o Primogênito de to­da a criação, o Cabeça do Universo. O apóstolo está simplesmente dizendo que Cristo reina desde Sua ressurreição, quando toda a autoridade Lhe foi conferida no Céu e na Terra (Mat. 28:18. Cf. Filip. 2:9-11). É exatamente no desempenho de Suas atribuições reais que Ele subjuga os inimigos. Mas toda esta obra de—subjugação é feita mediante a ação de Deus, para quem convergem os resulta­dos E ainda na qualidade de Rei que Ele Se sujeita a Deus, tal co­mo Davi, tipo do Rei messiânico, o fez no passado. (6) Acabará não o reinado de Cristo, pois este é eterno (Luc. 1:33; II Pedro 1:11; Apoc. 11:15), mas a dimensão de Seu rei­nado vinculada com o procedi­mento com o pecado.

“Para que Deus seja tudo em todos”. Aquilo que procedeu de Deus volta para Deus. “Esse é o grande desígnio e o propósito da sujeição de todas as coisas a Cristo. Aquele que é a fonte de toda a vida, torna-Se igualmente para todos o alvo e a perfeita concretização da existência inteira, de todos os seres”. (7) Para este ponto converge o todo da missão de Jesus. Ele “não descansará até que a supremacia do Pai seja universalmente reconhecida, e nada esteja além do sa­lutar controle de Deus”. (8)

Cristo, o Segundo Adão

Concluindo este estudo, medite­mos um pouco na sujeição de Jesus como garantia de que o mal, além de ser erradicado, jamais se levantará outra vez. Este aspecto envolve a função de Cristo como Cabeça representativa da humanidade a exemplo de Adão ao ser criado. Devemos também considerar como o pecado entrou neste mundo.

Paulo se refere a Cristo como segundo ou último Adão no próprio contexto de I Coríntios 15:27 e 28. Um contraste em termos de mor­te e vida é feito entre Adão e Cris­to no verso 22. Nos versos 45-48 eles são novamente referidos agora num contraste entre realidades terrenas e celestiais. No verso 45 Cristo é explicitamente chamado “o último Adão”. Além disso, em Rom. 5:12-19 o apóstolo mais uma vez contrasta os dois, desta vez abordando a problemática do pecado e sua divina solução. Estes textos têm sido utilizados na sustentação da doutrina do pecado original que não nos cumpre aqui discutir. Basta-nos apenas lembrar que a presença do pecado neste mundo deriva de um ato de desobediência da parte do primei­ro homem.

Como Deus sujeitou todas as coisas aos pés de Adão para que ele fosse o dominador da Terra (Gên. 1:26-28), assim Deus sujeitará todas as coisas aos pés do segundo Adão para que Ele seja o dominador não apenas da Terra, mas de todo o Universo (Filip. 2:10 e 11), o que explica ser Ele o primogênito, o cabeça de toda a criação (Col. 1:15-20).

Em I Cor. 15:27 e 28, Paulo pro­cura demonstrar que o segundo Adão não tomará a mesma atitude de rebeldia do primeiro Adão. Deus sujeitou todas as coisas aos pés deste, e deu-lhe o domínio da Terra recém-criada, para que ele, sujeitando-se ao Criador, permitis­se que Deus fosse o supremo dominador. Ao lançar mão do fruto proibido, uma clara atitude de não sujeição a Deus, Adão passou o do­mínio a Satanás, (9) a quem se sujeitou obedecendo-lhe a voz. Satanás exerceu então o domínio (Luc. 4:6), e colocou-se como deus deste mundo (II Cor. 4:4). Portanto, se por um ato de insubordinação a Deus o pecado ganhou este mundo, através da subordinação a Ele o pecado será extirpado (Cf. Rom. 5:18 e 19). Pode o leitor perceber até onde os efeitos da sujeição de Jesus alcançam?

O que Adão se negou a fazer, Cristo fará. Destruído o último inimigo, Cristo estará numa situação equivalente à de Adão antes da queda — Ele terá todas as coisas submissas a Si. Então o segundo Adão terá chegado, em Sua própria esfera, ao solene momento correspondente àquele no qual o primeiro Adão deveria comprovar sua sujeição a Deus, não o fazendo contudo. Mas o segundo sujeitar-Se-á “para que Deus seja tudo em todos”. E no transcurso da eternidade Cristo jamais deixará de ser submisso. Assim o domínio de Cristo será o domínio de Deus. Nunca mais o pecado se fará presente, pois o reinado de Cristo não terá fim (Luc. 1:32, 33). Cristo é a segunda oportunidade para o homem se mostrar fiel. Damos graças porque esta oportunidade não será desperdiçada. Todos os remi­dos, mais o restante da criação, em submissão a Cristo e este a Deus comporão os infindáveis do­mínios dAquele de quem, por quem, e para quem são todas as coisas.

Notas e Referências:

1. R. N. Champlin, O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo (São Paulo: Milenium Distribuidora Cultural Ltda., 1985), vol. 4, pág. 168.
2. E. G. White, Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 247. Na verdade a Sra. White diz: “Cristo era Deus essencialmente e no mais alto sentido”, referindo-se a Sua pré-existência. Mas ela re­conhece que a encarnação não alterou Sua divindade. Enquanto esteve neste mundo “Ele era tudo o que era como Deus”. (Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 5. pág. 1.126.) “Ele não cessou de ser Deus quando Se tornou homem”. (Ibidem, pág. 1.129.)
3. Champlin, op. cit., Pág. 255. Grifos do autor.
4. Há na passagem ingredientes de pelo menos mais dois salmos messiânicos: 2 e 110.
5. E. G. White, O Conflito dos Séculos, pág. 726.
6. A sujeição de Jesus foi prefigurada em Davi. No regime teocrático de Israel Deus era o Rei. A dinastia de Saul não perdurou devido a sua rebelião às orientações divinas (1 Sam. 15:22 e 23). Deus então escolheu a Davi, homem segundo o Seu coração (Atos 13:22), e à sua descendência, para, por intermédio deles, reinar sobre Seu povo. Na realidade, Davi e seus descendentes se assentaram no “trono do reino do Senhor” (1 Crôn. 28:5). E através de Seu povo Deus deveria finalmente reinar sobre todas as nações (Sal. 22:27 e 28; 86:9; 102:15 e 22; Isa. 19:25; Zac. 8:2 1.23). A estabilidade do rei es­tava na dependência de ser sujeito a Deus no cumprimento de Sua vontade, (1 Reis 2:4.)
Conforme sucederam-se as gerações, os reis davídicos lamentavelmente se tomaram mais e mais rebeldes, até que foram enviados os babilônicos e o reino de Judá foi desfeito. Toda­via Deus havia prometido a Davi uma linhagem real eterna ØI Sam. 7:12-16; Sal. 89:26-37). Esta promessa se cumpre através de Jesus Cristo, o Rei messiânico, o Filho de Davi (Jer. 33:15-17; Ezeq. 21:26, 27; Miq. 4:7, 8; 5:2; Luc.
1:32; Apoc. 5:5; 22:16). O reino de Cristo não terá fim (Luc. 1:32 e 33), porquanto a exemplo de Davi, e naturalmente de maneira muito mais ampla e completa, Ele será sujeito a Deus no cumprimento de Seu desígnio.
7. Champlain, op. cit., pág. 255.
8. Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 6, pág. 806.
9. Ver E. G. White, O Desejado de Todas as Nações, pág. 90.
Fonte: Revista Adventista junho de 1991, págs. 36-39.
http://pastorclaudiosampaio.blogspot.com

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