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O USO DE JOIAS NA BÍBLIA: Apontamentos

 



Por Pastor C. Sampaio
Publicado em 22 de agosto de 2022, Mimoso do Sul, ES

Tem surgido, na atualidade, nos diversos movimentos cristãos, uma resistência ao ensino sobre a abstenção do uso de joias pelos crentes. Como Igreja bíblica e protestante, a IASD afirma em suas crenças que a abstenção do uso de joias está em harmonia com a nossa fé e orienta seus membros a não fazerem uso delas.

Porém, uma leitura superficial das Escrituras, com base em alguns textos (especialmente da era patriarcal), pode sugerir que a Bíblia permite o uso irrestrito de joias pelos cristãos.

Com base, em grande parte, na leitura do livro O Uso de Jóias na Bíblia, do erudito Angel Manuel Rodríguez, os apontamentos abaixo não pretendem dar uma palavra definitiva, mas apresentam os resultados de um estudo dessa questão, oferecendo subsídios para responder ao seguinte questionamento: a Bíblia apoia o uso irrestrito de joias pelos cristãos? Começaremos pelo Antigo Testamento (AT), seguindo pelo Novo Testamento (NT) e, em seguida, faremos um breve resumo, oferecendo uma conclusão de nossa análise.


No Antigo Testamento

1. Presença de Joias nas Escrituras
No AT, está claro que a Bíblia não omite a presença de pessoas usando joias e menciona seu uso não poucas vezes. As citações podem ser classificadas em pelo menos quatro tipos: a) a tolerância divina para o uso de joias comuns; b) a tolerância divina para o uso de joias específicas; c) a prescrição divina para o uso de joias específicas; e, finalmente, d) a restrição divina ao uso de joias comuns.

2. Tolerância Divina nos Costumes
Acerca dos costumes, nota-se nas Escrituras uma tolerância divina para o uso de joias, especialmente no tempo dos patriarcas (por exemplo, Gn 16:1-4, etc.). Porém, a simples menção de determinadas práticas pelos personagens bíblicos não significa que tais hábitos sejam recomendados para todos os tempos e culturas. Deus sempre educou seu povo dentro de sua cultura. Além disso, a revelação é progressiva.

3. Narrativa vs. Prescrição
Nesse ponto, faz-se necessário diferenciar a simples narrativa bíblica daquilo que podemos definir como prescrição bíblica direta ou a normatização de uma prática. O fato de a Bíblia narrar um evento não significa que ela o aprove ou o prescreva como norma para a vida. Narrativas não são necessariamente prescritivas.

4. Joias Funcionais Toleradas
Sobre as joias toleradas (embora não prescritas) por Deus: as joias funcionais, embora não prescritas, eram úteis e sempre carregavam um sentido em seu uso. Como exemplo, podem ser citados a coroa, o bracelete, o anel de sinete e o cetro do rei. Eles denotavam autoridade em sua função específica (ver 2 Sm 1:10).

5. Joias Prescritas por Deus
Sobre joias prescritas, ou seja, aquelas cujo uso Deus orientou: como exemplo das joias funcionais prescritas, podem ser citadas aquelas criadas para uso exclusivo do sacerdócio (Êx 28:3-43, etc.). Ainda assim, essas joias não eram aplicadas ao corpo, mas às vestes dos ministros. Elas se ajustavam a uma função simbólica e não eram mero adereço.

6. Joias nas Vestes Sacerdotais
Quando os sacerdotes retiravam a estola sacerdotal, as joias não permaneciam em seu corpo. O peitoral com as joias, o éfode e a tiara ficavam nas vestes, não no corpo. Eram funcionais e serviam para uso restrito no santuário. Elas exemplificavam a glória do ministério de Jesus como sacerdote no Céu.

7. Joias na Literatura Poética
Quando as joias comuns são mencionadas na literatura bíblica poética, embora não tenham reprovação direta, elas são sempre depreciadas diante de traços de caráter positivos, que são considerados melhores do que seu uso (exemplo: Pv 3:13-15; 31:10, etc.). No máximo, elas são apresentadas a título de exemplos e comparações. Se não são condenadas diretamente, também não são recomendadas pelo autor sagrado.

8. Restrição no Contexto de Adoração
Há base para a restrição do uso indiscriminado de joias no contexto da adoração ao Deus de Israel em diversos exemplos. Em Gênesis, quando Jacó, aterrorizado e em fuga, sai de Siquém com sua família para adorar em Betel, Deus orienta que se retirem os simulacros de deuses e os ornamentos dos corpos dos membros do clã do patriarca. Jacó obedece, recolhe as joias e as enterra (Gn 35:1-5). Isso traz a bênção divina sobre eles.

9. Restrição Após o Bezerro de Ouro
Outra prescrição contrária direta ocorre após a adoração ao bezerro de ouro, no contexto da aliança do Sinai. Em Êxodo 33:1-6, diz-se que, para que o povo pudesse ser aceito por Deus novamente, a exigência divina era que se retirassem as joias. Ao fim da narrativa, afirma-se que, “do Horebe em diante”, não se usaram mais atavios. Isso fica evidente na narrativa bíblica até o tempo dos Juízes, pois, até então, não se menciona mais o uso indiscriminado de joias pelo povo da aliança.

10. Condenação em Períodos de Apostasia
No período dos reis (de Samuel a Daniel), quando o povo hebreu estava sendo influenciado pela cultura pagã, ocorrem diversas apostasias. Há também diversos chamados ao avivamento, especialmente por meio de Isaías. Nesse contexto, há novas menções condenatórias ao uso indiscriminado de joias. Em Isaías 3, por exemplo, há uma condenação direta de Deus ao povo. Como sinal de sua reprovação, Deus retirará todas as fontes de alegria e segurança do seu povo, como a comida, as lideranças, as festas e os adornos das mulheres. O Senhor mesmo arrancará o adorno das mulheres arrogantes de Judá. Nesse contexto, Deus aparentemente está se posicionando contra a altivez das mulheres e não necessariamente contra suas joias. Estas serão retiradas juntamente com outros sinais da bênção divina.

11. Tolerância em Contextos Culturais
Ainda assim, vale mencionar que havia tolerância divina ao uso comum de joias desde o tempo patriarcal, como se nota, por exemplo, no caso dos presentes do servo de Abraão à sua futura nora, Rebeca. São descritos um pendente, duas pulseiras de ouro e outras joias de ouro e prata (Gn 24:22, 53). Certamente, essas joias eram de uso comum naquele tempo, dentro daquela cultura.

Síntese do Antigo Testamento
Avaliando os textos do AT, notamos que: 1) havia recomendação divina para as joias funcionais no caso do sacerdote; 2) havia tolerância divina para as joias funcionais, no caso dos paramentos reais; 3) havia tolerância divina para o uso de joias comuns, como nos casos dos presentes a Rebeca; 4) havia recomendação divina para a abstenção do uso de joias comuns nos contextos de adoração.

É importante dizer que há uma argumentação bem embasada de que as joias condenadas nos contextos específicos de adoração se deviam ao fato de serem simulacros de falsos deuses do paganismo. Ainda assim, permanece a ênfase na proposta de que, em contextos de adoração, as joias eram retiradas por ordem divina.


No Novo Testamento

1. Ausência de Recomendações Positivas
Ao chegar no NT, percebe-se que não há menções positivas ou recomendações diretas para o uso de joias. Elas aparecem como funcionais, como símbolo de autoridade, no caso do anel no dedo do filho pródigo que retorna para sua casa (Lc 15:22). Embora não sejam condenadas diretamente, nos evangelhos, elas são apresentadas de forma depreciativa quando se faz o contraste entre elas e a riqueza do evangelho, como na parábola da pérola de grande preço (Mt 13:45-46). Nessa parábola, a pérola é símbolo de Cristo e das riquezas do evangelho, cujo valor excede o dos tesouros terrenos.

2. Joias em Apocalipse
Mais claramente, as joias são postas sob olhar negativo em Apocalipse, na descrição da mulher adúltera, símbolo da igreja apóstata, “adornada de ouro, pedras preciosas e pérolas”, em Apocalipse 17:1-5. Porém, na descida da cidade santa, a noiva do Cordeiro, diz-se que ela também virá como noiva adornada para seu marido (Ap 21:10).

3. Contexto Cultural do Casamento
Obviamente, tanto em um exemplo quanto no outro, há o uso de uma linguagem cultural para dizer que ambas estarão enfeitadas com joias: uma de origem terrena, outra de origem celestial. Literalmente, adornar noivas com joias para o casamento era uma prática comum nos dias do apóstolo. Está claro que o texto não é apresentado como uma prescrição para o uso de joias. Ele surge apenas como linguagem didática, mas demonstra que, na cultura daquele tempo, era comum o uso de adornos pelas noivas no contexto do casamento.

4. Orientações Prescritivas de Paulo
De forma prescritiva, as orientações divinas acerca das joias surgem nas cartas universais e pastorais. Está claro em 1 Timóteo 2:9-10 que, refletindo a proposta dos livros poéticos, Paulo dirá que seu uso não era do interesse da mulher piedosa do período patriarcal, que preferia adornar seu caráter com bons traços de virtudes. O apóstolo dirá que não seja a busca de uma aparência exterior, como o uso de joias, que ocupe a atenção das mulheres cristãs.

5. Ensino de Pedro
Há o chamado para imitar a piedade feminina do AT também nas cartas de Pedro. Ele seguirá a mesma linha de Paulo, em 1 Pedro 3:1-5, onde depreciará os adornos exteriores em contraste com as virtudes interiores das mulheres virtuosas. Que não seja o adorno da mulher piedosa o uso de joias, penteados ou vestidos dispendiosos, mas sim a beleza de um caráter doce e tranquilo, que é valioso para Deus.

6. Ótica Negativa no NT
Os exemplos acima demonstram que, mais uma vez, como se nota no AT, quando Deus fala de forma prescritiva sobre o uso comum de joias no NT, Ele as coloca numa ótica negativa. A base da argumentação é que as mulheres piedosas do AT as colocavam em segundo plano. Além disso, Deus tem sua preferência pelo adorno do caráter, de modo que as joias servem apenas para a vaidade humana.


Resumo

Há, de fato, menções ao uso de joias nas Escrituras, mas não aparecem recomendações ou prescrições favoráveis a essa prática. Ao que parece, há uma abertura para o uso de joias funcionais, no caso dos aparatos reais ou dos trajes sacerdotais. Quando há uma prescrição acerca do uso comum de joias, Deus se mostra contrário no contexto da adoração. Em outra ocasião, em Isaías, como medida disciplinar, Deus mesmo diz que elas serão retiradas das mulheres arrogantes. Esse ensino está bem exposto em toda a Escritura, pois, no NT, embora as joias nem sempre sejam condenadas diretamente, é visível que elas são postas sob olhar negativo e vistas como desnecessárias.

Quando se trata da aliança de casamento e/ou anéis de compromisso, o critério pode ser flexibilizado, pois adquirem papel funcional como símbolo do pacto matrimonial. Elas são, em certo ponto, uma regra social em algumas comunidades. Onde essa prática não é firmada, ela se torna desnecessária.

Vale dizer que as Escrituras mencionam as riquezas presentes na criação. As joias minerais foram criadas por Deus e ornamentam a habitação do homem no Éden (Gn 2:11-12). Elas serão usadas depois na recriação do mundo e serão novamente usadas para ornamentação da habitação dos salvos (Ap 22). Mas não se menciona que serão aplicadas ao corpo dos salvos. A única joia a ser usada no futuro será a coroa da vitória (Ap 2:10), que terá um aspecto funcional diante do universo, como símbolo de sua vitória e dignidade como príncipes no reino de Deus.

Ellen White endossa esse ensino contrário ao uso de joias, quase sempre apontando para os textos bíblicos do NT.

O Manual da Igreja aponta a crença fundamental 22 da IASD, corroborando o mesmo ensino, afirmando que a abstenção do uso de joias está em harmonia com a nossa fé. Cito o texto de Ellen White: “Trajar-se com simplicidade e abster-se de ostentação de joias e ornamentos de toda espécie está em harmonia com nossa fé” (Testemunhos Para a Igreja, vol. 3, p. 366).

Há fontes que indicam o uso de simples bijuterias por parte de Ellen White no período pioneiro, e isso está documentado em algumas fotos. Ao que parece, em seu entendimento, os princípios da simplicidade e da modéstia não excluíam simples adornos, quando esses não apelavam para a vaidade pessoal ou para a separação de classes.


Conclusão

As joias podem ser apresentadas dentro de duas categorias pelos autores bíblicos: comuns e funcionais. Não há, em toda a Escritura, uma menção positiva ou uma orientação prescritiva para o uso indiscriminado de joias comuns pelos crentes. Nos textos prescritivos/didáticos, embora não haja uma proibição direta, na Bíblia, o uso de joias comuns aparece sempre numa ótica negativa. Diante disso, o ensino proibitivo do uso de joias por parte da IASD não está em desarmonia com as Escrituras. Ao que parece, há possibilidade de uso para joias funcionais, como no caso das alianças. Joias como brincos e piercings, aplicadas ao corpo, de forma especial, estão fora de cogitação como toleráveis para os crentes adventistas. Além disso, simples bijuterias aplicadas sobre as roupas não parecem se encaixar nessa restrição, como também Ellen White entendia.

Cabe, portanto, aos membros da IASD se adequarem a esse ensino, em sua qualidade tanto de membros da igreja quanto de filhos de Deus.


Pr. Sampaio
Mimoso do Sul, ES
22 de agosto de 2022




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