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A Trindade - Resenha Crítica


Obra analisada: WHIDDEN, Woodrow; MOON, Jerry; REEVE, John. "A Trindade: como entender os mistérios da pessoa de Deus na Bíblia e na história do Cristianismo". Casa Publicadora Brasileira: Tatuí, SP, 2001. 330 páginas. 

O livro “A Trindade” foi escrito por três estudiosos especialistas em docência e ensino religioso da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) Todos serviam e ainda servam a Igreja na área acadêmica da Andrews University. Na ocasião de sua escrita, Woodrow Whidden atuava como professor de Religião, Jerry Moon ocupava a função de diretor do departamento de História da Igreja no Seminário Teológico Adventista, e John Reeve, que na ocasião era candidato a Ph.D., também lecionava História da Igreja no mesmo Seminário de Moon. A interatividade dos autores é notável e em todo o livro, cada um aborda a área que corresponde à sua especificidade acadêmica.

A obra possui 330 páginas divididas em quatro seções e dezessete capítulos. Além disso, é enriquecida com glossários dos termos principais na entrada de cada seção, facilitando o contato do leitor com o texto. Conta também com ampla bibliografia, índice remissivo onomástico e escrituristico, o que a torna uma valiosa ferramenta para pesquisas rápidas de tema e conteúdo. Escrito por Whidden, Moon e Reeve, foi traduzida por Hélio Luiz Grellmann, da obra em inglês “The Trinity” e publicado no Brasil em 2003 pela Casa Publicadora Brasileira.

De imediato, nota-se que foi desenvolvida com propósitos instrutivos e apologéticos em torno da doutrina de Deus para os membros de igreja. Logo em sua Introdução, os autores justificam seus esforços em torno dessa temática como resposta a um novo ressurgimento do antitrinitarianismo no seio da IASD nos últimos anos, com ataques dirigidos contra a divindade de Jesus e da pessoa do Espírito Santo. De modo geral, os que confrontam essa crença se valem de argumentos teológicos, históricos e escrituristicos, com certo apelo aos escritos de Ellen G. White. Como resposta e busca de diálogo, o presente livro se detém a analisar a doutrina de Deus a partir destas fontes, dando prioridade à Bíblia na elucidação de sua proposta, que é proporcionar uma base sólida para a afirmação da doutrina.

Na sua primeira seção (pag. 20-135), o autor busca estabelecer as evidências bíblicas da plena divindade de Cristo e da personalidade do Espírito Santo, além de reforça a crença acerca da unidade e unicidade da Divindade. A intenção do autor dessa seção é revelar o fato de que a doutrina de uma Trindade na Divindade não é de nenhum modo, oposta à ideia de que Ele é um Deus único. A evidência mais forte viria na análise do todo da Bíblia, mas especialmente, dos escritos do Novo Testamento. Na sequência, o autor perpassa pelo evangelho de João, pelas Epístolas e pelo Apocalipse, respectivamente, em busca de corroboração de sua proposta, alcançando o alvo proposto. 

Na segunda seção (pag. 137-182), será analisada a história da doutrina da Trindade posterior ao tempo dos apóstolos entre os anos 150 d.C. – 1500 d.C. Nesse ponto, a igreja cristã é apresentada como sendo afetada pela sua proximidade com o mundo grego. Em razão disto, terá lugar a uma visão “eclética” da pessoa de Cristo, dando espaço para o surgimento de diversos conflitos e de Concílios na busca de uma definição da doutrina para a igreja de forma geral. Dá destaque aos conflitos em torno dos termos “homoiousios” e “homoousios”, fonte de controvérsia entre os pólos opostos da cristandade daqueles dias, mas que são, todavia ainda perceptíveis nos dias de hoje.

A terceira seção (pag. 183-268) analisa a doutrina da Trindade e seus conflitos com o antitrinitarianismo desde os dias da Reforma, no século XVI até os dias do movimento adventista, no século XIX. Neste ponto, o autor destaca que desde a Reforma a igreja já não parte dos Concílios para uma definição de suas verdades, mas sim das Escrituras, estabelecendo o lema Sola Scriptura, o que  é uma evidência  de que os Reformadores eram cristãos ortodoxos. A diversidade de opiniões de doutrinas surgiria apenas na fase do Iluminismo, com o advento dos deístas e de outros seguimentos afetados pelo racionalismo. Porém, é neste tempo que surgem também uma ênfase no restauracionismo dentro de vários seguimentos cristãos. O elemento unificador das várias correntes será o Movimento Milerita, que dará luz à IASD, um movimento com uma miscigenação de várias confissões de fé, que em seu início, eram mormente, antitrinitarianas. A partir daí, o autor divide o período da IASD em cinco fases, desde um predomínio do antitrinitarianismo, passando pelo inconformismo até a sua superação, com o predomínio do trinitarianismo. Enfatiza que a ruptura se deu de forma definitiva especialmente por ocasião da crise panteísta, quando os adventistas se voltaram para as Escrituras a fim de confrontar os ensinos errôneos do Dr. Kellogg. Uma das influenciadoras da mudança do paradigma teria sido Ellen G. White, com a publicação do seu livro, “O Desejado de Todas as Nações”.

Na última seção (pag. 269-316) o autor se volta para as implicações do ensino da doutrina da Trindade e seu impacto no pensamento e prática cristã. O ponto destacado é o aspecto sobrenatural do amor em sua essência divina, no relacionamento entre as três pessoas da Divindade e de como este amor se evidencia na obra da redenção. Nesse ponto se destaca a grandeza do plano salvífico, ao propor que na Encarnação e morte de Jesus, é a Divindade quem sofre em função de seu amor pela sua criação.

Avaliando a obra, pode-se perceber alguns pontos  altos que merecem ser destacados, ainda que brevemente. Há uma linguagem simplificada (não simples), que facilita o acesso até mesmo dos leigos ao conteúdo proposto. Aliás, essa foi a proposta dos autores desde o começo. Os autores passeiam pelos meandros do pensamento teológico de forma despretensiosa, e falam coloquialmente à igreja. Há grande ênfase à Bíblia como fonte da doutrina, embora toda a obra seja abalizada por uma ampla pesquisa bibliográfica e referências históricas. Pode-se também elogiar o poder de síntese dos autores, que ao dialogarem com as questões diversas e conflituosas, não se permitem a uma perda do propósito da obra, mesmo diante de assuntos de maior amplitude.

Por outro lado, há ocasiões em que os autores discorrem sobre assuntos de pouco valor, e em alguns casos, tendendo para inferências em relação a alguns textos não muito claros das Escrituras. Como exemplo, cita-se a ironia em torno da possível dificuldade de um (a) solteiro (a) não ser capaz de experimentar o pleno sentido do amor divino e até mesmo na cogitação desnecessária da possibilidade de haver poucos não-casados no Céu. Além disso, numa tentativa desnecessária, buscam de forma "forçada" afirmar a pessoa do Espírito Santo no Apocalipse ,em proximidade com o Pai e o Filho, ao relacionar a Terceira Pessoa com a água que flui do trono de Deus e do Cordeiro, em Ap 22:1. Nesse ponto, há uma descaracterização da proposta, que é autenticar a personalidade do Espírito santo.

Em suma, “A Trindade” é uma obra valiosa dentro do cenário teológico da IASD por trazer uma base histórica, teológica e acima de tudo, bíblica, que corresponde à tradição adventista pioneira e ao espírito dos Reformadores. Pela sua qualidade teológica e ao mesmo tempo, pela sua linguagem acessível, é certamente uma obra recomendável a cada membro da igreja ou cristãos estudiosos que desejam crescer no conhecimento do tema. Embora não responda a todas as questões em torno do assunto, introduz o estudioso na essência do tema, proporcionando uma base para sua crença. - Claudio Sampaio.

Um comentário:

  1. olá pastor! meu nome é Tomé.como vai? descobri este blog atraves do blog do pr. Douglas Reis. estou curtindo esse blog especialmente a secção de resenhas . muito legal!

    quanto ao livro sobre a Trindade, tive praticamente a mesma impressão, de que os autores paraecem forçar a barra para defender a pesonalidade do Espirito Santo! sou Trinitariano por convicçâo e não estou nenhum pouco em duvida quanto a ser o Espirito santo um ser pessoal,l e a terceira pessao da trindada. mas creio que se a Biblia e Ellen White, colocam a terceira pessao da trindade de maenira misteriosa, nao apresentando ou falando muito sobre ele, deveriamos nós também aensas ficar com o revelado. temos informação suficiente(não em quantidade) na biblia e em Ellen white, para crermos que o Espirito Santo é Deus, terceira pessoa da trindade e um ser pessoal.

    sendo assim, ao apresentarmos essa doutrina, deveriamos ficar apenas com essas informações e não mais forçar barra nenhuma tal como os autores fizerma neste livro. porque isso só vai fazer quemais pessoas creisam q estamos tentando usar textos forçadamente para defendermos um ponto.

    abraços e faça mais resenhas

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