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Eu Sou: série biográfica de Raul Seixas revela o homem por traz do mito.



Lembro-me de uma icônica entrevista ao Programa do Jô, quando Raul Seixas declarou: “Eu não sou roqueiro, sou raulseixista.” A fala resume a essência do artista inclassificável que ele era.

Raul nunca se encaixou em moldes, estilos ou convenções. Criou seu próprio universo simbólico e filosófico — o raulseixismo — onde conviviam esoterismo, rebeldia, crítica social e uma busca quase mística pela liberdade. A série biográfica “Raul Seixas: Eu Sou” mergulha fundo nesse universo e revela as camadas internas do homem por trás do mito.

Raul nasceu em Salvador, em 1945. Ainda jovem, nutria uma paixão obsessiva pelo rock’n’roll de Elvis Presley, Beatles e Chuck Berry. Mas o talento dele não se restringia às influências da música estrangeira. Sua mente inquieta misturava baião, xaxado, psicodelia e filosofia com um carisma único. Era apenas um produtor musical reconhecido até o primeiro despertar artístico, com a banda Os Panteras. Porém o sucesso nacional só explodiu com o disco Krig-ha, Bandolo! (1973), que trazia "Metamorfose Ambulante", “Ouro de Tolo”, e outras letras afiadas que revelaram sua capacidade acima da média.

Durante os anos 70, Raul atingiu o auge criativo e popular. Lançou mais de 20 discos ao longo da carreira, sendo autor de músicas icônicas como “Metamorfose Ambulante”, “Gita”, “Maluco Beleza” e "Tente Outra Vez". Sua parceria com Paulo Coelho resultou em obras densas e místicas. No entanto, essa genialidade veio acompanhada de autodestruição. O abuso de álcool, drogas e um estilo de vida desregrado cobraram caro.

Nos anos 80, Raul enfrentava o declínio. Com a saúde fragilizada — com cinco casamentos fracassados, alienado de suas três filhas, sem pâncreas, diabético, usando dentadura por ter perdido os dentes com a bebida — via-se rejeitado pela indústria, longe da família, de seu antigo parceiro de trabalho e de seus ideais. Morreu em 1989, aos 44 anos, sozinho em um flat em São Paulo.

Ao final da série, paira o pesar comum nas grandes biografias: o ciclo da ascensão gloriosa seguido por uma queda dolorosa. Há um momento em que o personagem interpretado por Ravel Andrade diz que viveu intensamente tudo o que seu coração queria, sem arrependimentos.

É difícil não sentir tristeza. Não pela queda em si, mas pela repetição do ciclo da maioria dos grandes artistas da música, como Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, e Brian Jones, todos membros do "Clube dos 27", epíteto para aqueles que morreram aos 27 anos. Além deles, outros artistas como Tim Maia, Elis Regina, Chorão, Cazuza, Kurt Cobain, Amy Winehouse e Whitney Houston também são conhecidos por suas lutas com vícios que os levaram à morte. O ciclo é o mesmo: o gênio que toca o divino, mas se queima no próprio fogo.

E resta a pergunta que ecoa após o último episódio da série: será que valeu a pena essa filosofia sem amarras, sem freios, sem porto seguro? Ou foi tudo apenas uma fuga vestida de coragem? Raul viveu — e morreu — pelas ideias em que acreditava, mesmo quando essas ideias o conduziam ao abismo.

E àqueles que hoje julgam sua moral, especialmente os que se dizem cristãos, caberia uma reflexão: teriam a mesma coragem de seguir com devoção absoluta a própria fé, como ele seguiu a dele? Ou fugirão do custo de viver com intensidade uma verdade radical?


- Pr. Sampaio, 2025.

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