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500 anos de Quê? - Refletindo sobre o legado da Reforma em nossos dias


Em 1993, em pleno ano de celebração dos 500 anos da Descoberta das Américas, Belchior, com sua velha sensibilidade crítica, cantava os seguintes versos:

"Eram três as caravelas / Que chegaram d`alem mar / E a terra chamou-se América / Por ventura? Por azar? / Não sabia o que fazia, não/ Dom Cristóvão Capitão/ Trazia em vão Cristo no nome/ E em nome dEle o Canhão [...]/ Diz, América que és nossa / Só porque hoje assim se crê? / Não há motivos para festa / Quinhentos anos de que?".

Na verdade, o que o cantor nordestino buscava, era estabelecer um pensamento crítico, diante das celebrações em torno da chegada das caravelas Nina, Pita e Santa Maria, nas terras americanas, a mando da Coroa espanhola. O pretexto de uma missão a "mando do Senhor" trazendo espadas e canhões (símbolos da opressão), chacinas dos ameríndios, destruição da cultura raiz e imposição de um sistema nocivo à natureza e a vida social anterior à sua chegada, levou Belchior  a perguntar-se, diante dos invasores: Qual o motivo de celebração de um fiasco de tamanha magnitude?

O Senador Cristóvão (não o Colombo, mas o Buarque), do PDT mencionou em um discurso inflamado, anos atrás, a divida social do Estado para com a nação indígena. Essa dívida existe, certamente. Na verdade, diante do poema de Belchior, o que se conclui é que em 1493, houve uma invasão e uma chacina liderada por Colombo, que deveria ser abominada, criticada e repudiada, mas nunca celebrada. E o que dizer de 1517? Foi outro equívoco?

Em 2017 chegamos a outra efeméride que tem alcançado grande repercussão na mídia e no meio cristão-religioso. Em 31 de outubro do ano corrente celebra-se os 500 anos da Reforma Protestante. Neste dia e mês do ano de 1517, Martinho Lutero, então monge católico da ordem agostiniana, teria afixado à porta da igreja de Witemberg, Alemanha, suas 95 teses sobre justificação pela fé, que eclodiram a Reforma Protestante. Teve este nome pelo fato de que as teses eram de fato protestos contra erros de prática e ensinos, que destoavam das Escrituras, e que por isso, exigiam uma mudança (reforma) na vida eclesiástica. Como um fiel e Doutor da Igreja, Lutero não queria rupturas, queria apenas discutir e propor mudanças. Foi a rejeição do alto Clero que gerou a ruptura, dando origem ao movimento Protestante na Europa.

No seu início, embora muito criticada pelos partidários do status quo e pelo Clero católico daqueles dias, a Reforma deu passos largos, abrindo novas possibilidades para o desenvolvimento da igreja. Podemos citar algumas conquistas, fruto do movimento:

1. A Bíblia se tornou a regra de fé e de doutrina, e não mais a voz da Igreja, por meio de concílios e bulas papais;
2. Jesus se torna o centro da vida da Igreja, e não mais a multidão dos santos intercessores;
3. O sacerdócio de todos os crentes passou a ser enfatizado, e o leigo teve seu papel mais destacado, em lugar de uma centralidade no Clero;
4. Houve uma melhor perspectiva da doutrina da salvação, quando a graça passou a ser melhor compreendida e ressaltada;
5. As superstições e abusos impostos pela Igreja foram confrontados pelas Escrituras, trazendo uma fé mais racional;
6. Houve crescimento na prática da hermenêutica e da exegese, criando novas ferramentas de interpretação bíblicas;
7. Houve liberdade religiosa e separação do Estado, de modo que a Igreja não é mais subordinada à lideranças políticas.

Apesar disso as primeiras reações do alto Clero diante das propostas de Lutero foram bem radicais. Como retratado na pintura de Anton von Werner (1843-1915), exposta atualmente na Staatsgalerie de Stuttgart, o monge foi convocado pela Dieta de Worms em 1521, onde foi desafiado a se retratar de suas ideias. Declarando ter sua consciência cativa pelas Escrituras, e posteriormente excomungado pelo Papa, pela sua recusa, Lutero foi jurado de morte, e só conseguiu dar prosseguimento ao seu trabalho de traduzir as Escrituras para o vernáculo em razão da proteção dos príncipes da Saxônia. E mesmo depois de 500 anos, sua influência permanece.

Depois de 500 anos, neste ano de celebrações, fica uma pergunta no ar: "500 anos de Quê?". Esse questionamento tem sua lógica. Fato constatado é que a bênção da liberdade religiosa que veio como fruto da Reforma deu também a possibilidade para uma Babel religiosa de mais de 7.157 confissões, apenas no Brasil. A Bíblia, vista pelos Reformadores como "Palavra de Deus" e divinamente inspirada, hoje é tratada por muitas autoridades apenas como um produto cultural, uma expressão de fé de um povo antigo. Pelo afastamento das Escrituras, a corrupção religiosa tem invadido os arraiais dos crentes a tal ponto que a infinidade de superstições confrontadas na Idade Média pelos Reformadores foram não apenas ressuscitadas, como também ampliadas em muitas igrejas da atualidade.

Rosas ungidas, vassouras ungidas, lenços ungidos suados, ofertas para troca de anjos, comercio de terrenos do Céu, mercantilização de bençãos e dons, sincretismo religioso no culto, exploração financeira dos fiéis, ausência da Bíblia na criação de doutrinas, Teologias humanistas de toda sorte, restauração do demonismo, confissão positiva como deturpação da fé e muitos outros enganos são frequentes. Tudo isso representa a decadência do que se tornou a igreja moderna, que surgiu, grosso modo, como fruto da Reforma. Na verdade, o próprio Protestantismo, em sua maioria, se afastou do princípio norteador da Reforma, o "Sola Scriptura".

Diante disso, muitos na atualidade têm questionado se de fato, valeu a pena a proposta de Lutero e por isso têm buscado restabelecer laços com o catolicismo. Nesse contexto, houve em 1999 a publicação do documento chamado "Declaração Conjunta", acerca da justificação pela fé, e neste ano de 2017, diversos líderes de outras confissões, em união com o Papa estarão assinando novo documento, na busca de reforçar o Ecumenismo, que é a união de todos os cristãos numa só casa, sob a chefia do bispo de Roma.

Mas seria essa, de fato a solução? Onde estaria o problema? Não foi o afastamento das Escrituras gerou o inconformismo nos Reformadores? A solução não seria de fato, um retorno à Bíblia? Ecumenismo sem Reforma é uma negação dos ideais dos Reformadores e um retrocesso espiritual. E o que se tem notado é que os documentos são assinados, mas não há a evidência de adequação aos ideais da Reforma. No caso da Declaração Conjunta de 1999, afirma-se que a Igreja Luterana e a Igreja Católica crêem da mesma forma sobre a doutrina da justificação pela fé. Mas em nenhum momento o catolicismo se dispôs a revisar as declarações de Trento, que teve como principal objetivo confrontar a proposta da Reforma (veja abaixo). E tampouco buscou mudar na prática o que se entende como salvação unicamente pela graça por meio da fé.

Diante de tudo isso, desde a degradação do culto e das crenças pós-Reforma até às tentativas mal estruturadas de unificação, permanece a pergunta: O que há para celebrar nesses 500 anos? Como Belchior, podemos questionar: 500 anos de quê? De vergonha? De retrocesso? De estagnação?

Na ausência de muitos motivos, vou dar minha sugestão. Celebre pelo menos a oportunidade de poder refletir acerca do que você pode fazer no prosseguimento dos ideais dos Reformadores. Sustentar a autoridade da Bíblia, a suficiência de Cristo e o valor da graça para a salvação do crente já é um começo. Mas pode acrescentar a santidade e a obediência aos mandamentos de Deus. Pois é de mais santidade e de vida no Espírito, que nós ,como um povo a caminho, estamos precisando. Perto está o Senhor. - (C. S. S.).

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Apêndice: Decisões do Concílio de Trento


- Condenação à venda de indulgências (um dos principais motivos da Reforma Protestante, que foi duramente questionada por Martinho Lutero).
- Confirmação do principio da salvação pelas obras e pela fé.
- Ressaltou a importância da missa dentro da liturgia católica.
- Confirmou o culto aos santos e à Virgem Maria.
- Reativação da Inquisição (Tribunal do Santo Ofício).
- Reafirmou a doutrina da infalibilidade papal.
- Confirmou a existência do purgatório.
- Confirmação dos sete sacramentos.
- Proibição do casamento para os membros clero (celibato clerical).
- Criação de seminários para a formação de sacerdotes.
- Confirmação da indissolubilidade do casamento.
- Medidas e decretos visando à unidade católica e o fortalecimento da hierarquia.
Fonte deste resumo: https://www.suapesquisa.com/resumos/concilio_trento.htm

Cite a fonte =
http://pastorclaudiosampaio.blogspot.com

2 comentários:

  1. oi, vc permite que eu copie alguns posts de vc em meu blog? claro que vou citar devidamente a fonte! meu blog: www.livrosemissao.com

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    1. Claro, fique à vontade, apenas dê o link para o blog e coloque meu nome no fim dos textos. Sucesso.

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