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Mariologia à Luz da Bíblia: Parte I – Estudo de Samuele Bacchiocchi

 

 

Por Samuele Bacchiocchi

ThD pela Universidade Gregoriana de Roma

Professor em Andrews University

 

[Obs: Este estudo segue postagem anterior, que introduz o assunto, de modo que as notas de referência passam a contar a partir do número do material introdutório. Links para o material complementar, ao fim do texto.]

 

Parte I – A Perpétua Virgindade de Maria


Foi o Sínodo Laterano de 649 AD que ressaltou pela primeira vez, o caráter tríplice da virgindade de Maria, a saber, que “Maria era uma Virgem antes, durante e após o nascimento de Jesus Cristo.”[12] Isto significa, conforme afirmado pelo apologisto católico Ludwig Ott, que “Maria deu nascimento em forma miraculosa sem a abertura do ventre e lesões ao hímen e, conseqüentemente, também sem dores.”[13]

A crença católica de que Maria foi uma virgem perpétua, ou seja, que ela viveu toda a sua vida como virgem e morreu virgem, é celebrada na liturgia católica como Aeparthenos, “Sempre-virgem.” O Novo Catecismo da Igreja Católica afirma esta crença, dizendo: “O nascimento de Cristo ‘não diminuem a integridade virginal de sua mãe, antes a santificou. Assim, a liturgia da Igreja celebra Maria como Aeparthenos, a ‘Sempre-virgem.’”[14]

O Catecismo resume a crença na virgindade perpétua de Maria, dizendo: “Maria permaneceu virgem ao conceber o seu Filho, virgem ao dar à luz a ele, virgem em carregá-lo, virgem em amamentá-lo em seu peito, sempre virgem.”[15] A virgindade de Maria é vista como uma condição prévia essencial para que ela “servisse no mistério da redenção com ele e dependentes dele, por graça de Deus.”[16]

O Catecismo continua dizendo: “Ser obediente, ela se tornou a causa de salvação para si e para toda a raça humana. Daí, não poucos dos primeiros Pais [da Igreja] comprazem-se em afirmar . . . “O nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria: o que a virgem Eva amarrou por sua incredulidade, Maria soltou por sua fé. Comparando-a com Eva, eles chamam Maria ‘a mãe de todos os viventes’ e com freqüência afirmam: “Morte por Eva, vida por Maria “.[17]

É importante observar que para os católicos a perpétua virgindade de Maria e perfeição vitalícia, a capacita a servir como uma Redentora e dispenseira da graça de Cristo. Esta crença, como veremos em breve, está claramente expressa na Encíclica Ubi Primum, de Pio IX, promulgada em 2 de fevereiro de 1849. Esse tipo de ensino é claramente negado pela Escritura que ensina que “há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus” (1 Tim 2:5).

 

Defesa Católica da Perpétua Virgindade de Maria


Tomás de Aquino emprega vários argumentos para defender a perpétua virgindade de Maria. Por exemplo, ele argumenta que, se Maria tivesse relações sexuais com José após o nascimento de Jesus, isso seria “uma afronta ao Espírito Santo, cujo santuário foi o ventre vaginal, onde ele havia formou a carne de Cristo; portanto, seria ilegítimo que fosse profanado pela intervenção sexual com um homem.”[18]

Aquino conclui sua defesa da perpétua virgindade de Maria, dizendo: “Precisamos, portanto, simplesmente afirmar que a Mãe de Deus, como ela foi virgem em concebê-Lo e virgem em dar-Lhe nascimento, assim permaneceu virgem posteriormente. . . . Maria deu à luz em forma miraculosa sem abertura do ventro e lesões ao hímen e, consequentemente, também sem dores.”[19] Esta crença católica é expressa pelo título “perpétua virgindade”.

 

Os Reformadores Criam na Virgindade Perpétua de Maria


Surpreendentemente, os reformadores protestantes afirmaram a sua crença na perpétua virgindade de Maria. Martinho Lutero (1483-1546), por exemplo, foi fiel à tradição católica, quando escreveu: “É um artigo de fé que Maria é Mãe do Senhor, e ainda virgem. . . . Cristo, acreditamos, veio de um útero deixado perfeitamente intacto.”[20]

O reformador francês João Calvino (1509-1564) não foi tão liberal em seu louvor de Maria como Martinho Lutero, mas ele não nega a sua perpétua virgindade. A expressão que ele mais comumente usa em referência a Maria é “Santíssima Virgem”[21]

O reformador suíço Ulrico Zwinglio (1484-1531), escreveu, sobre a perpétua virgindade de Maria: “Acredito firmemente que Maria, de acordo com as palavras do evangelho, como uma pura virgem trouxe-nos o Filho de Deus e no parto e após o parto manteve-se sempre uma virgem pura e intacta.”[22] Noutro lugar Zwinglio afirmou: “Eu estimo imensamente a Mãe de Deus, a sempre casta, imaculada Virgem Maria; Cristo nasceu de uma maioria Virgem incontaminada.”[23]

A aceitação quase universal dos Reformadores da contínua virgindade de Maria, bem como a sua relutância generalizada em declarar Maria uma pecadora, foi sendo progressivamente rejeitada por seus seguidores. O motivo de sua ruptura com o passado em parte deu-se a um novo exame das passagens bíblicas utilizados para apoiar a perpétua virgindade de Maria. Além disso, as práticas idolátricas que se desenvolveram em associação com a veneração de Maria e a rejeição do celibato clerical, finalmente levaram a maioria das Igrejas protestantes a rejeitar várias crenças católicas sobre Maria.

 

Anglicanos e Católicos Concordam Sobre Maria


Em anos recentes, como referido anteriormente, a oposição protestante à veneração de Maria enfraqueceu consideravelmente. Exemplo disso é declaração de 57 páginas emitida pela Comissão Internacional Conjunta Anglicana-Católica Romana sobre a doutrina e devoção marianas. Um ponto-chave discutido no acordo é a “visão não-católica de que a imaculada concepção de Maria, a sua liberdade de pecado original e resultante isenção de pecado, contradiz o ensinamento da Bíblia de que ‘todos pecaram’ (Rm 3:23), e que Jesus é a única exceção (Heb. 4:15). O acordo responde a esta tradicional opinião protestante dizendo: “podemos afirmar conjuntamente que a obra redentora do Cristo ‘remonta’ em Maria às profundezas do seu ser, e a seus inícios sem violar a Escritura.”[24]

Com respeito à rejeição protestante da crença católica na assunção de Maria para o céu no fim de sua vida, o acordo declara: “podemos afirmar conjuntamente o ensino de que Deus tomou a Bendita Virgem Maria na plenitude de sua pessoas à Sua glória em consonância com a Escritura, uma vez que Deus recebeu a outros (Elias, Estêvão, o ladrão na cruz).”

Em outras crenças católicas significativas sobre a perpétua virgndade de Maria, o seu papel redentor, e sua veneração por orar a ela, o acordo mostra que teólogos anglicanos estão procurando maneiras de abraçar, pelo menos em parte, tais crenças. É evidente que a oposição protestante à devoção e veneração marianas está enfraquecendo gradualmente.

 

Argumentos Católicos da Escritura


O dogma católico da perpétua virgindade de Maria é baseado em suposições dogmáticas, não em ensinos bíblicos comprovados. Isto é evidenciado pelo fato de que os eruditos católicos citam apenas alguns versos bíblicos para apoiar a alegada perpétua virgindade de Maria. Por exemplo, o apologista católico, Ludwig Ott resume-os da seguinte forma: “A partir da pergunta que Maria dirige ao anjo, Lucas 1:34: “Como se fará isso, uma vez que não conheço varão?” é inferido [por alguns teólogos católicos] que ela tinha tomado a resolução de constante virgindade com base na iluminação Divina especial. Outros observam que o fato de o Redentor morimbundo confiou Sua Mãe à proteção do Discípulo João (João 19:26), “Mulher, eis aí o teu Filho”, pressupõe que Maria não teve outros filhos, somente Jesus.”[25]

As referências aos “irmãos” de Jesus (cf. Mat. 13:55; Marcos 6:3; Gal. 1:19) são interpretadas pelos católicos como referindo-se a “primos” de Jesus, não a irmãos de sangue. Outros acadêmicos católicos sugerem que talvez eles fosse filhos de José de um casamento anterior, preservando, assim, a perpétua virgindade de Maria. Este último ponto é muito importante nos ensinamentos católicos, porque sexo é associado com o pecado. Virgindade é visto como um pré-requisito para alcançar um nível mais elevado de pureza e, em última análise, santidade.

 

RESPOSTA BÍBLICA À PERPÉTUA VIRGINDADE DE MARIA

 

A Origem Pagã e as Implicações da Perpétua Virgindade


A Bíblia ensina claramente que Maria fora uma virgem antes e no momento do nascimento de seu filho Jesus (Isa. 7:14; Mat. 1:18-25, Luc. 1:26-27), mas nada sugere que ela continuou a ser virgem depois. As raízes do dogma da perpétua virgindade de Maria devem ser procuradas no ambiente pagão da era pós-apostólica quando houve uma forte ênfase no celibato dentro de certas religiões pagãs (as virgens vestais de Roma pagã) e seitas gnósticas “cristãs”. O intercurso sexual, mesmo dentro do casamento, era frequentemente carregado de suspeita de delito. Este ponto de vista finalmente levou Agostinho (354-430) a ensinar que o pecado original é transmitido através da procriação mediante relações sexuais.

A associação de sexo com pecado finalmente deu origem à idéia de que era inconcebível que Maria pudesse ter-se envolvido em relações conjugais normais após o nascimento de Jesus. Para ser santa Maria tinha que ser virgem antes e depois do nascimento de seu filho, Jesus. Seu hímen teve que permanecer intacto durante e após Jesus nascer, a fim de que ela alcançasse o mais alto estado de santidade. Esta idéia foi consolidada na tradição do celibato para padres e freiras.

A noção toda da perpétua virgindade de Maria compromete a integridade e humanidade da encarnação de Cristo, ao propor que Ele não só foi concebido, como também nasceu milagrosamente pelo Espírito Santo. Como homem-Deus, Cristo dificilmente poderia ter sido “em tudo feito semelhante a seus irmãos” (Hb 2:17) pela participação “das mesmas coisas” (Hb 2:14), se Ele foi arrebatado para fora do útero Maria milagrosamente, deixando o hímen de Maria intacto. Se tanto o nascimento quanto a concepção de Cristo foram rigorosamente obra do Espírito Santo que apenas tomou emprestado o ventre de Maria por nove meses, então a integridade e humanidade de Sua encarnação estão seriamente comprometidas.

 

Deus Criou o Sexo


A idéia toda da perpétua virgindade de Maria é baseada na perversa crença de que o sexo é pecaminoso. Essa crença é negada pela Escritura. A primeira declaração relativa à sexualidade humana é encontrada em Gênesis 1:27: “Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. É digno de nota que, embora depois de cada ato de criação anterior a Escritura diga que Deus viu que “era bom” (Gên 1:12, 18, 21, 25), após a criação do homem como macho e fêmea, ele diz que Deus viu que “era muito bom” (Gên. 1:31).

Esta primeira divina apreciação da sexualidade humana como “muito bom” mostra que a Escritura vê as relações sexuais homem/mulher como parte da bondade e perfeição da criação original de Deus. Assim, o dogma da perpétua virgindade de Maria anula a visão bíblica positiva do sexo, além de rebaixar as mulheres que optem pelo casamento, em vez de celibato.

Nos ensinamentos católicos uma mulher que se dedica à sua família, educando os filhos no temor de Deus dificilmente pode alcançar o mesmo estado de santidade de uma mulher que opta por permanecer virgem para servir ao Senhor. Tal ensino dificilmente pode ser apoiado pelas Escrituras, que exalta mulheres consagradas a Deus como Ana por dedicar-se à educação de Samuel (1 Sam. 1 e 2).

 

O Nascimento de Cristo foi Normal


A crença de que Maria permaneceu virgem durante e depois do nascimento de Cristo, é desacreditada por todas as descrições do evento, que indicam um nascimento normal. Lucas, por exemplo, escreve: “E deu à luz a seu filho primogênito, e envolveu-o em panos” (Luc. 2:7). Paulo fala de Cristo como “nascido de mulher” (Gal. 4:4). Em Mateus o anjo explica para José: “E dará à luz um filho e chamarás o seu nome Jesus” (Mat. 1:21).

Nenhum desses versos usa as palavras comuns para milagre, sinal ou maravilha. Não há referência a anjos ou ao Espírito Santo arrebatando Jesus miraculosamente do útero de Maria. Eles nos dizem simplesmente que foi Maria que “deu à luz ao seu primeiro filho” (Luc. 2:7). A idéia de um parto miraculoso de Cristo, sem passar pelo canal de parto ou sem causar dor, se encontra nos escritos apócrifos agnósticos do segundo e terceiro século, mas não na inspiração do Novo Testamento.

 

José e Maria eram Sexualmente Íntimos Após o Nascimento de Cristo?


Mateus sugere que Maria e José eram sexualmente íntimos após o nascimento de Jesus. Por exemplo, Mateus afirma que “antes de se ajuntarem, ela [Maria] achou-se ter concebido do Espírito Santo” (Mat. 1:18). O termo “ajuntar” (de sunerchomai) inclui a idéia de intimidade sexual (cf. 1 Cor. 7:5). O que fica implícito é que em última instância José e Maria “se ajuntaram” e vivenciaram a intimidade sexual.

Mateus declara que José “não a conheceu até que deu à luz seu filho” (Mat. 1:25). A frase “não a conheceu” sugere que José não teve relações sexuais com Maria até após o nascimento de Cristo. Nas Escrituras um homem conhece uma mulher ao se tornar sexualmente íntimo dela. “E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu” (Gên. 4:1).

A frase “E deu à luz a seu filho primogênito” (Luc. 2:7; Mat. 1:25), sugere que Maria deu à luz de maneira natural, não de modo miraculoso. Foi Maria que pariu a Jesus. Não há menção de envolvimento do Espírito Santo no nascimento de Jesus.
 
O advérbio “até-heos hou” na frase José “não a conheceu até que deu à luz seu filho” (Mat. 1:25), implica que após o nascimento de Jesus, eles tiveram relações conjugais normais. Como Jack Lewis assinala, “no restante do Novo Testamento (Mat. 17:9; 24:39; João 9:19) a palavra até (heos hou) seguida por uma negação sempre implica que a ação negada se realizava posteriormente”.[26] Não há razão válida para assumir que Mateus 1:25 é uma exceção. Tivesse Mateus desejado transmitir a idéia da virgindade perpétua de Maria, ele simplesmente teria escrito: “Mas ele nunca teve qualquer união com ela”.

 

Jesus é Chamado de “Primogênito” de Maria.


Em Lucas 2:7 Jesus é chamado de o “primogênito-prototokon”. Enquanto o termo “primogênito” não mostra inequivocamente que Maria teve outros filhos, o significado natural é que ela teve. Se a virgindade perpétua de Maria era uma crença comum nos tempos de Novo Testamento, Lucas teria simplesmente escrito que ela deu à luz a seu “único” filho. Isto certamente teria resolvido o problema.
 
Vale salientar que Lucas escreveu muito depois do nascimento de Cristo, possivelmente após o falecimento de José e Maria. Se Jesus fosse o único filho de Maria, em retrospectiva, ele usaria a palavra “unigênito-monogene,” não a palavra “primogênito-prototokon”. No contexto “primogênito” implica que Maria teve outros filhos. Isto é confirmado pelo fato de que todos os evangelhos afirmam que Jesus tinha irmãos e irmãs.

 

Quem Foram os “Irmãos e Irmãs” de Jesus?


Há várias referências claras aos “irmãos e irmãs” de Jesus no contexto de Sua família próxima (primeiro grau). Estes textos sugerem que eles eram irmãos reais, não primos. Por exemplo, Mateus escreve: “Não é este o filho do carpinteiro? e não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, e José, e Simão, e Judas? E não estão entre nós todas as suas irmãs?” (Mat. 13:55-56). Este texto sugere que Jesus tinha uma grande família de pelo menos quatro irmãos e duas irmãs.

João, o mais místico de todos os evangelhos, sugere que Jesus não era filho único. “Depois disto desceu a Cafarnaum, ele, e sua mãe, e seus irmãos, e seus discípulos” (João 2:12). “Disseram-lhe, pois, seus irmãos: Sai daqui, e vai para a Judéia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes” (João 7:3).

Paulo também se refere a Tiago como “irmão do Senhor”. “Depois, passados três anos, fui a Jerusalém para ver a Pedro, e fiquei com ele quinze dias. E não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor”. (Gál. 1:18-19). “Não temos nós direito de levar conosco uma esposa crente, como também os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas?” (1 Cor. 9:5; ênfase acrescentada).

Duas explicações principais são dadas por apologistas católicos para conciliar estes textos com sua crença na virgindade perpétua de Maria. Alguns argumentam que a menção a “irmãos e irmãs” dizia respeito a meio-irmãos e meio-irmãs de Jesus. Eles seriam filhos de José de um casamento anterior, preservando assim a perpétua virgindade de Maria. Outros seguem o argumento de Jerônimo, de que esses eram primos de Jesus, não irmãos de sangue.[27]

O principal argumento usado para defender estas interpretações é que no idioma hebraico não há nomes específicos para a parentela. A palavra hebraica ah e a aramaica aha, podem significar irmão, meio-irmão, primo, sobrinho ou qualquer parente de sangue. Isto é verdade para o idioma hebraico, mas não para o grego. Esta interpretação ignora que todos os quatro evangelhos foram escritos em grego, não hebraico.

No idioma grego há duas palavras distintas para irmãos e primos, para irmão adelphos e para primo anepsios. A última é usada em Colossenses 4:10, onde Marcos é descrito como o primo-anepsios (sobrinho em algumas versões) de Barnabé. Mas a palavra primo nunca é usada em referência aos irmãos e irmãs de Jesus. Soubessem os escritores dos evangelhos que Tiago, José, Simão e Judas eram primos de Jesus, eles teriam usado a palavra anepsios para evitar qualquer confusão.

As palavras “irmão” e “irmã” são consistentemente usadas no Novo Testamento na definição de uma família, e sempre se referindo a um irmão ou irmã de sangue (Mar. 1:16,19; 13:12; João 11:1-2; Atos 23:16; Rom. 16:15). Por que se deve presumir que os termos “irmãos” e “irmãs” são usados figurativamente por Mateus, quando ele usa o termo “mãe” literalmente? Se “irmã” é literal em Atos 23:16 (irmã de Paulo), não há razão para interpretar a mesma palavra num sentido diferente em Mateus 13:56. É um princípio hermenêutico estabelecido que palavras devem ser entendidas no seu sentido literal a menos que a interpretação literal envolva uma contradição óbvia.

Apoio indireto para essa conclusão é provido pelas descrições das viagens de José e Maria, primeiro para Belém e depois para o Egito. Lucas nos conta que José e Maria viajaram de Nazaré para Belém “a fim de alistar-se” (Luc. 2:5). Se José tivesse pelo menos seis filhos de um casamento anterior, esperaríamos que viajassem com ele como uma família. O fato de que apenas José e Maria são mencionados por Lucas, sugere que pelo tempo de seu noivado José não tinha filhos. É difícil acreditar que um homem piedoso como José iria abandonar seus filhos para se casar com Maria.

Apoio para essa conclusão é também fornecido pela descrição de Mateus da fuga para o Egito. Um anjo instrui José num sonho dizendo: “Levanta-te, e toma o menino e sua mãe, e foge para o Egito, e demora-te lá até que eu te diga” (Mat. 2:13). Depois da morte de Herodes, o mesmo anjo diz para José: “Levanta-te, e toma o menino e sua mãe, e vai para a terra de Israel; porque já estão mortos os que procuravam a morte do menino” (Mat. 2:20).

Em ambos os casos, a viagem consiste somente de José, Maria e o menino Jesus. Não há menção das seis crianças que José supostamente teve de um casamento anterior. Teria José os deixado sozinhos em Nazaré por vários anos até que ele e Maria retornassem do Egito com Jesus? Este dificilmente seria o caso, uma vez que todos os membros da família deviam ser alistados. Estas considerações nos levam a concluir que Maria provavelmente teve outros filhos além de Jesus.

 

Maria Decidiu Permanecer Perpetuamente Virgem?


Da pergunta que Maria faz ao anjo em Lucas 1:34: “Como se fará isto, visto que não conheço homem algum?” alguns católicos inferem que ela tinha resolvido permanecer virgem pelo resto de sua vida. Mas a pergunta de Maria dificilmente sugere que ela tinha feito um voto de virgindade. Tivesse feito isso, por que ela se tornaria noiva de José antes de ficar grávida (Mat. 1:18)?

A noção de José e Maria vivendo num estado celibatário perpétuo é contrário aos ideais de Deus para o casamento, que se destina a unir um homem e uma mulher como”uma carne” (Gen. 2:24; Mat. 19:5-6). Depois da primeira ligação física, há a responsabilidade contínua de marido e mulher honrarem seus deveres conjugais: “O marido pague à mulher a devida benevolência, e da mesma sorte a mulher ao marido” (1 Cor. 7:3). Qualquer abstinência deve ser por consentimento mútuo “por algum tempo . . . e depois ajuntai-vos outra vez, para que Satanás não vos tente pela vossa incontinência” (1Cor. 7:5).

 

Por que Jesus Confiou sua Mãe a João?


O fato de que na cruz Jesus confiou Sua mãe a João dizendo: “Mulher, eis aí o teu filho” (João 19:26), é vista por apologistas católicos como uma evidência de que Maria não tinha outros filhos além de Jesus. Por exemplo, Ludwig Ott escreve: “O fato de que o Redentor, à beira da morte, confiou Sua mãe à proteção do discípulo João (João 19:26), ‘Mulher, eis aí o teu filho,’ pressupõe que Maria não tinha outros filhos além de Jesus”.[28]

Esta suposição ignora o fato de que naquela época os irmãos de Jesus não eram crentes (João 7:5) e presumivelmente não estavam presentes junto à cruz. O argumento que de acordo com a lei mosaica, o parente mais próximo é requerido cuidar de Maria, ignora o fato de que Jesus estava mostrando compaixão por Sua mãe, na ausência de quem deveria cuidar dela.

Além disso, Cristo ensinou que o compromisso para com Ele supera os laços sanguíneos mais próximos. Quando Sua mãe e Seus irmãos apareceram enquanto ensinava, Ele disse: “Quem é minha mãe? E quem são meus irmãos? E, estendendo a sua mão para os seus discípulos, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos; Porque, qualquer que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão, e irmã e mãe” (Mat. 12:48-50). Com exceção de Sua mãe, Sua própria família naquela época não cria nEle. Assim Ele poderia apenas confiar Sua própria mãe a mãos crentes. E João era próximo de Jesus e poderia ser encarregado de cuidar de Sua mãe.

 

Conclusão:


O dogma católico da virgindade perpétua de Maria é despojado de qualquer evidência bíblica razoável. As poucas passagens que são empregadas na defesa do dogma, nem mesmo tratam do assunto. Mas a Igreja Católica não depende de autoridade bíblica para definir seus ensinos. Ela clama a autoridade para definir seus próprios dogmas, para escrever suas próprias regras e para criar seus próprios “intercessores” (2 Tes. 2:4).

O dogma da virgindade perpétua de Maria é uma das principais superstições antigas que foram empurradas às almas sinceras as quais lhes foi ensinado a nunca questionarem a voz da sua Igreja. É uma triste realidade que hoje milhões de pessoas sinceras, mas de forma ignorante e acrítica seguem um sistema autocrático que abertamente se opõe verdades reveladas por Deus.

Leia as demais partes do estudo:


Clique: Introdução




Referências


13. Ibid., p. 205.
14. Catechism of the Catholic Church (Libreria Editrice Vaticana, 1994), p. 126, parágrafo 500.
15. Ibid., p. 128, parágrafo 510.
16. Ibid., p. 124, parágrafo 494.
17. Ibid.
18. St. Thomas Aquinas, Summa Theologica (1947), Pt. III, Q. 28, p. 2173.
19. Ibid., p. 2174.
20. Weimar’s The Works of Luther, tradução em inglês por Pelikan, Concordia, St. Louis, v.11, pp. 319-320; v. 6. p. 510.
21. Calvini Opera, Corpus Reformatorum, Braunschweig-Berlin, 1863-1900, v. 45, p. 348, 35.
22. Zwingli Opera, Corpus Reformatorum, 1905, v. 1, p. 424.
23. Citado por E. Stakemeier em De Mariologia et Oecumenismo, 1962, p. 456.
24. Richard N. Ostling, “Anglicans, Catholics Agree on Mary,” Deseret News (Salt Lake City), May 28, 2005.
25. Ibid.
26. Jack Lewis, The Gospel According to Matthew (1976), Vol. 1, p. 42.
27. Ludwig Ott (Nota 12), p. 207.
28. Ibid.

Estudo de Autoria do já falecido Dr. Samuele Bacchiocchi
Professor jubilado de teologia da Universidade Andrews, publicado através da
Newsletter End Time Issues nr. 191 no site Biblical Perspectives

Um comentário:

  1. O autor do texto desconsidera a antiga e riquíssima tradicão da Igreja e o Sagrado Magistério. A bíblia não contém todos os elementos da fé.

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