Em Minas, temos um prato tradicional que faz parte do ritual da família mineira aos domingos, e que por isso, fazia também parte do ritual dos domingos na casa de minha mãe, nos meus anos de adolescente, quando eu ainda morava com meus pais e meus irmãos, na cidade de Várzea da Palma.
Era mais ou menos assim: Amanhecia o dia, e logo meu pai, obsequioso como sempre, descia ao mercado central a fim de comprar o ingrediente principal da refeição da família. Voltava trazendo um galo bem nutrido, que logo era abatido pela minha mãe, que era uma perita no ofício de cortar a goela dos penachos. Enquanto isso, eu e meu irmão Carlos também descíamos ao centro da cidade, repetindo o caminho costumeiro. Eu gostava de ir à banca de jornais, onde comprava meus gibis, gastos que consumiam mais da metade de meus ganhos oriundos dos "bicos" que eu fazia. Logo em seguida, me encontrava com meu irmão, e seguíamos juntos, a fim de adquirir verduras frescas e outros ingredientes, com os quais a refeição de domingo era complementada. Assim, tínhamos a cada domingo, quase sempre, uma gostosa refeição com frango a passarinho, angú, quiabo e maionese. Era maravilhoso, pois no meio da semana, naqueles idos bem antes do presidente Fernando Henrique Cardoso notificar na TV que o pobre agora já comia mais frangos, a nossa família só usufruía desse luxo nos almoços dominicais, ou raras ocasiões, como em aniversários.
A família reunida para o almoço, vinha a disputa: Eu sempre queria o peito, minha mãe, a asa, meu pai, a alcatra, e meu irmão Carlos, a coxa. Como éramos oito ao todo, para evitar as brigas, minha mãe fazia o frango à passarinho e assim, cada parte da ave se tornava em duas. Hoje eu me lembro e sorrio.
Almoço findo, a gente (meus irmãos e eu) se sentava para ler gibis. Eu gostava demais do Batman, dos gibis de terror da D'Arte, e do Zagor, além de alguns super-heróis da Marvel, como Capitão América e Heróis da TV. Meu irmão curtia os Bolsilivros de faroeste e de Tex. Naqueles dias, não tínhamos Televisão e a leitura de gibis era ainda apreciada. Anos mais tarde, a TV chegou em casa e logo os filmes foram tomando lugar dos gibis, de modo que logo depois vendi minha coleção e me tornei adventista, que agora lia mais a Bíblia.
Ontem, dia 04 de novembro, veio a cooincidir o domingo com meu aniversário. E como folga de Pastor é segunda-feira, saí de manhã para o trabalho costumeiro de visistação, e quando cheguei, a surpresa. Lá estava, no centro da mesa, servido com todas as honras, o lauto banquete: Frango caipira, salada e maionese. Minha esposa se lembrou de que esse era o prato que mais me apetecia em ocasiões como essa, e me fez a graça. Foi um banquete delicioso.
Relembrando os anos passados, e meditando em todos esses pobres galináceos que morreram e morrem a cada domingo, para o deleite da família mineira e tantas vezes, em honra de meus anos, quiz, por meio de um soneto, honrar os pobres bichos, retratado no delicioso prato servido ontem.
Assim, segue o Soneto:
Galo
por: Claudio S. Sampaio
Galo que dormiu sobre o poleiro
Da noite e deu seu canto à madrugada.
E que ciscou, à sombra dos salgueiros
A gleba de uma véspera iluminada.
Galo com semblante de guerreiro
Que brandiu, com o esporão, a sua espada
E que saudou a aurora, no celeiro
Do outono que passou em debandada.
Galo que pousou sobre a cancela
E como pastor à frente do rebanho
Apascentou o sol e a brisa dos verões.
É o galo que servido na tigela
Traz um gosto de silencio tão estranho
Entre rodelas de tomate e pimentões.
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http://pastorclaudiosampaio.blogspot.com
diponível para compilação, desde que não sofra alteração e a fonte seja citada
Otima cronica. Adorei. Parabens.
ResponderExcluirLúcia