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Salmo 69: A Cristologia do Justo que Sofre e Espera o Socorro de Deus


Chego a este salmo com reverência, pois tem sido reconhecido desde bem cedo, pela tradição cristã como sendo um salmo messiânico, um salmo de conteúdo profético a respeito do Messias. No entendimento de E. Schweizer, bem cedo, na busca de interpretar o caminho de Jesus, os discípulos refletiram no caminho do justo sofredor, que sofre injustamente e espera pacientemente pelo socorro de Deus. Este é um tema recorrente nos Salmos bíblicos,  e os evangelistas deles fazem uso em diversos momentos, dentro da narrativa da história de Cristo. 

Seguindo a proposta de Schweizer, na figura do justo que sofre e clama pelo socorro divino, neste salmo encontramos o símbolo perfeito de Cristo que encarnou a sorte de todos os justos oprimidos, mas pela sua fidelidade e confiança teve a vindicação de Deus. O justo inicia sua busca pelo livramento de Deus como se estivesse se afogando em águas profundas, e com gritos angustiados embebidos de lágrimas, clama pelo socorro divino (v 1-3). Ele se vê cercado de pessoas que o odeiam sem causa e que o atacam com mentiras, mas ele se confessa seguro de que Deus conhece a sua vida, e por isso, aqueles que esperam em Deus que ele seja socorrido não serão abalados (v 4-6). O justo confessa - e assim vemos essa realidade em Cristo - que sofre por amor a Deus, e que por isso se vê desprezado pelos de sua própria casa por não  compreenderem o seu zelo pela Casa de Deus, debochando até mesmo de suas práticas piedosas (v 10-12). Mas ainda assim, ele não se esmorece e prossegue esperando no amor e na fidelidade do seu Deus, fazendo sua prece de forma tocante: - Ó, Deus, "me tire da lama", "não deixe que eu seja levado pela correnteza", "olha para mim com misericórdia", "não se esconda de mim, estou angustiado", "vem para junto de mim e me resgate" (v 13-18). Ele reconhece que Deus não apenas sabe de suas afrontas sofridas, mas também de suas angústias interiores, de como ele se viu abandonado sem ter quem o ajudasse, antes, sendo ainda mais amargurado. Em linguagem simbólica, ele afirma que quando sentiu sede, ao invés de água, lhe deram vinagre para beber (v 19-21). Na sequência, o salmo dirige imprecações contra os seus adversários, rogando que caia sobre eles terríveis condenações, pois assim se espera de um juiz justo: Que ao vir fazer justiça em defesa do oprimido, confronte os seus opressores. E este é o motivo de seu pedido, exposto no v 26. A parte final do salmo prossegue com um preito de louvor, pois mesmo se vendo aflito e triste, o justo que sofre sabe que será vindicado, o que trará alegria para os pobres e necessitados, pois isso será para eles a evidência de que Deus ouve a todos os angustiados (v 29-33). Eles serão felicitados pela bondade de Deus que reedificará a cidade para a habitação dos justos, remetendo às promessas de restauração por meio do Messias (v 34-36).

Em sua busca de fontes para interpretar o caminho de Jesus, os discípulos fizeram uso de uma boa quantidade de versos oriundos deste salmo. A exemplo, o verso 09 foi usado por João como uma explicação da razão do ódio dos judeus contra Jesus, ao demonstrar Seu zelo pelo Templo, na expulsão dos mercadores e cambistas (Jo 2:17); ou ainda o verso 21, que remete ao momento em que recebeu vinagre ao invés de água quando declarou sua sede, na crucifixão (Mc15:23; Jo 19:30). 


O salmo possui uma rica dimensão cristológica. Em primeiro lugar nos ensina que as aflições que cercam o justo foram todas elas experimentadas pelo nosso Salvador. Na perspectiva dos escritores bíblicos, Jesus conhece nossas aflições como ninguém. Por isso, as orações desse salmo nos aproximam mais de nosso Cristo, sempre quando nos vemos feridos pela dores desse mundo. Ensina também que poderá haver momentos em que nossa alma se verá sufocada, e nessas horas, perceberemos que somente pela força de Deus escaparemos da correnteza. Haverá instantes em que seremos desprezados e até debochados em nossa busca de Deus. E assim Jesus o foi, em nosso lugar. Esbofeteado e acusado injustamente, houve momentos em que se sentiu desamparado de Seu Pai. Mas Seu clamor varou as trevas da angústia e da morte como um grito de socorro que atingiu o coração dAquele que julga com justiça. Jesus foi condenado injustamente, mas ao terceiro dia, ressurgiu vitorioso, para anunciar a todos os crentes que assim como Ele foi ouvido, todos os justos que esperam em Deus nessa vida, enquanto sofrem em favor do Reino de Deus, serão também vindicados por Ele. Em nossas dores, podemos esperar que a redenção prometida nos chegará da mão poderosa de Deus. Ele conhece e salva os necessitados e aflitos. 

Penso que o principal ensino deste salmo é que se seguimos a Cristo, quando todos nos virarem o rosto, não estaremos sozinhos: Teremos Deus por nós. Se hoje, ao precisarmos de ajuda, ou mesmo sedentos, nos derem vinagre a beber ou nos virarem o rosto, lembremo-nos de Jesus. E se nos vermos desamparados, ou mesmo debochados em nossa esperança em Deus, aguardemos com paciência, pois breve nos chegará o amparo do Pai Celestial. Pois assim como se deu com o justo Jesus, e assim também se dará conosco. [Claudio Sampaio].

http://pastorclaudiosampaio.blogspot.com 
diponível para compilação, desde que a fonte seja citada

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