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Juan Gelman: A Oração de Um Desocupado




Sou amante da boa poesia, especialmente daquela que transmite os valores do Reino. Nessa manhã, me deparei com a riqueza espiritual de um poeta que ainda não havia lido, mas me foi graciosamente apresentado pelo grande Leonardo Boff, que traduziu um de seus poemas. O poema se intitula  "A Oração de Um Desocupado"  e vem da lavra do poeta argentino Juan Gelman. Boff o transcreveu primeiramente em seu livro "O Pai Nosso: A Oração da Libertação Integral", e por ocasião da morte de Gelman, 14 de janeiro de 2014, publicou também em seu site. 

Boff conta em sua home page sobre a experiência de Gelman, que teria influenciado sua verve: 


"Juan Gelman (...) vivia há muitos anos no México. Sofreu todas as tribulações de tantos  sob a terrível ditadura militar argentina. Sequestraram-lhe os filhos Nora Eva e Marcelo Ariel junto com sua nora María Claudia que estava grávida de sete meses. O filho e a noiva desapareceram. Durante anos esteve à procura da neta Maria Macarena e no ano 2000 finalmente a identificou no Uruguai."

O site G1 teceu louvações a Gelman, qualificando-o como o mais destacado poeta latino de seu tempo, afirmando ainda que sua poesia trazia a memória das ruas. 

O poema que transcrevo abaixo fala da dor de uma pessoa que desafia a Deus para que desça dos céus e contemple o que ocorre com sua criatura. O "desocupado" da oração de Gelman encarna a sorte dos pobres oprimidos e muito nos lembra os salmos do justo que sofre, nas Escrituras. 

Para deleite e reflexão, deixo-o abaixo. - (Cláudio Sampaio)


A Oração de Um Desocupado




“Pai,

desce dos céus, esqueci

as orações que me ensinou minha avó,

pobrezinha, ela agora repousa,

não tem mais que lavar, limpar, não tem mais que preocupar-se,

andando o dia todo atrás de roupa.

Não tem mais que velar de noite,

penosamente,

rezar, pedir -te coisas, resmungando docemente.

Desce dos céus, se estás, desce então

pois morro de fome nesta esquina,

não sei para que serve haver nascido

olho as mãos inchadas,

não tem trabalho, não tem.

Desce um pouco, contempla isto que sou, este sapato roto

essa angústia, este estômago vazio,

esta cidade sem pão para meus dentes,

a febre, cavando-me a carne

este dormir assim,

sob a chuva, castigado pelo frio, perseguido.

Te digo que não entendo, Pai, desce!

Toca-me a alma, olha-me o coração,

eu não roubei, nem assassinei, fui criança

e em troca me golpeiam e golpeiam.

Te digo que não entendo, Pai, desce,

se estás, pois busco

resignação em mim e não tenho

e vou esconder-me de raiva e afilar-me

para brigar e vou girtar

até estourar o pescoço de sangue,

porque não posso mais, tenho rins

eu sou um homem,

desce! Que fizeram de tua criatura, Pai?

Um animal furioso

que mastiga a pedra da rua?”

.....

Transcrição e tradução de Leonardo Boff, em seu blog.


Mais detalhes de Juan Gelman: 

http://lahistoriadeldia.wordpress.com/2014/01/15/murio-juan-gelman/


Cite a fonte = http://pastorclaudiosampaio.blogspot.com

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