Valores Perdidos e o Impacto nas Novas Gerações - um ensaio

A grande questão atual e diante da qual os cristãos se debatem, no fundo, não é acerca de ideias, mas sim, sobre valores. Neste pequeno ensaio, de maneira bem simples e objetiva, buscarei dar exemplos claros sobre isso.

Valores são princípios normativos que motivam e regulamentam as ações. Assim, se você perguntar porque uma pessoa acha ser errado roubar, ele dirá porque isso é ser honesto. A honestidade, então, será o valor que norteará sua relação social. Se você perguntar porque uma menina cristã se recusa a ir para o motel com namorado antes do casamento, ela dirá que ela quer viver a pureza sexual diante de Deus. Então, o valor dessa garota será a pureza. Ainda: se um pai se dispõe a se levantar às 04h00 da madrugada para pegar dois ônibus para ir ao trabalho, ele dirá que a luta vale a pena, pela esposa e pelos filhos que ficaram em casa. Esse ato que faz esquecer-se de si mesmo para se desgastar em favor de outro é motivado pelo valor que ele dá à sua família. Os valores dão sentido às nossas ações. Se nossos valores forem bons, as nossas ações serão boas.

Mas o problema fundamental é que na atualidade, os valores têm sido apresentados como subjetivos. Não existem valores definitivos. Todas as verdades dependem do contexto de cada um. Nada é definitivo. Por isso, muitos valores tradicionais têm sido descartados na atualidade porque se entende que vieram de uma cultura judaico-cristã e foram impostas à sociedade. Dessa maneira, a proposta atual é uma inversão desses valores. E isso reflete em tudo, especialmente sobre nossos conceitos sobre família, sexualidade e espiritualidade. Mas como um cristão deveria reagir diante disso?

Os cristãos tradicionais, em tese, deveriam aceitar que Deus é um ser pessoal que se revelou num tempo e espaço, através de uma pessoa para diversas pessoas, que transmitiram essa revelação. Por isso, seus valores serão medidos e regidos pela revelação que lhes chega, desse Deus. Essa revelação é vista através da pessoa de Jesus e de sua Palavra escrita, a Bíblia Sagrada. Por isso, os cristãos tradicionais geralmente compreendem que todos os seus valores, sejam respeito ao bem alheio, sexualidade, espiritualidade e relação familiar deverão definidos pela sua compreensão que têm de Deus. 

Esses são apenas alguns exemplos sobre a complexidade de toda a confusão moral que impera no mundo. O que tem acontecido atualmente (e isso é detectado em diversos estudos e como denunciado por Fernando Canale, em uma de suas obras), é que desde muito tempo, pela falta de uma correta visão de Deus, como revelado por Ele mesmo, acabamos criando diversas compreensões humanistas da Divindade e assim, os valores basilares da sociedade, que deveriam ser repassados às novas gerações vão paulatinamente se desgastando. Isso teve várias influências. 

Uma das causas talvez venha do Iluminismo, na era da revolução industrial, no século 18, quando a educação moderna relegou a religião para o campo das superstições e estabeleceu a ciência como a mãe de todos os conhecimentos. Desde aí, a preparação do homem tem sido apenas para o mercado e não mais se atentava para o ensino ético e tradicional. O ensino se tornou meramente técnico. Isso avançou até o tempo atual, no pós-modernismo, quando o que se entende como “conhecimento” ou “verdade” não é mais algo concreto, mas deve ser questionado, desconstruído, ressignificado e reconstruído. Isso é até certo ponto é positivo. Porém no campo dos valores, isso tem tido um impacto tremendo no mundo. E a vítima maior são os nossos adolescentes e jovens. 

Um artigo que li recentemente afirma que nunca houve tantos casos de depressão e suicídio entre adolescentes como na atualidade. Uma das razões detectadas nesse grupo é a crise de identidade. Eles não sabem mais o quem são, e não conseguem se situar dentro da realidade mais íntima, que é a familiar. Nos tempos em que se ensina que união da família não é algo sólido, e que nem mesmo a identidade sexual de cada um ou seus respectivos papéis dentro de um relacionamento estejam claramente definidos, gera o vazio existencial que tem gerado a desmotivação para a vida. Atualmente, a prática da sexualidade desenfreada, descartando a moralidade dita conservadora, por exemplo, é pregado como algo positivo e até necessário, para a construção de uma sociedade sadia. Atualmente, não é o casamento, mas sim divórcio que é posto como uma necessidade para uma resposta aos relacionamentos que, segundo o poeta, são eternos enquanto dura o suposto "amor" que os sustém. Isso gera uma ambivalência de discursos e comportamentos. Como a juventude lidará com tudo isso?

Me preocupo com tudo isso. A sociedade se vê literalmente, de cabeça para baixo. O que antes era erro hoje é aplaudido como certo. E certas coisas que fariam nossos pais corar se vergonha hoje são aplaudidas na TV ou em redes sociais. Tudo isso pede uma reflexão nossa e uma movimentação unificada da sociedade, a saber, de lideranças religiosas, diretorias de escolas e pais de família, no resgate dos valores éticos em jogo. 

Resgatemos nossos valores. E o maior valor, que deveria estar presente em cada lar cristão é a figura de Deus. Sua revelação deve ser valorizada. Sua palavra deve ser lida e praticada. Só assim Ele será o princípio maior que dará sustento a todos os outros, e evitará que nossos valores se corrompam. E é a visão equilibrada de Deus que nos dará sabedoria para que o amor divino seja um valor em tudo que fizermos. Ou faremos isso ou apenas nos assentaremos para ver a degeneração cada vez maior das gerações que virão, até a sua derrocada final. Pois ao contrário do que diz Tiririca, pior do que tá, pode ficar.  - Sampaio, 2018.