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A Polêmica em Torno das Convocações para o Jejum


Está claro para nós que estamos em um país dividido, e que nesse tempo em que toda temática tem saído de sua área de competência e migrado para o espaço político, precisamos de discernimento. Neste momento crítico até mesmo a religião está sendo politizada.

Um dos assuntos que estão sendo alvo das disputas e críticas tem sido o chamado feito por pastores e dirigentes da nação para uma união do povo através do jejum e da oração. Gostaria de uma conversa sobre isso.

Ontem recebi de uma irmã de minha comunidade um vídeo que apresenta grandes autoridades políticas do mundo que estão enfrentando sua luta diante da crise recente por meio de jejum e oração. Alguns pedem oração, outros agradecem por elas. Mas ocorre que no Brasil, de um povo dito "cristão" em sua maioria, temos até por meio de evangélicos inseridos no contexto de conflito político, uma campanha midiática para confrontar essa iniciativa de pastores e lideres da nação em favor de um dia de jejum e oração.

Alguns chegaram a dizer, de forma equivocada, que o jejum é coisa do passado,e que entra no elenco de todos os sacrifícios e ritos que foram abolidos com a chegada de Jesus e sua morte na cruz. Outros, afirmam que para o jejum não se convoca, é algo particular, assim como a oração. Essas ideias têm sido replicadas de forma irrefletida por outros, motivados seja pela simplicidade ou pela ideologia política, promovendo a desinformação. A essa turma eu digo que precisamos ler mais a Bíblia.

Mas ficam as perguntas: Podem as autoridades civis e religiosas convocarem um dia de jejum? Ele ainda é válido para os crentes da nova aliança, nos tempos depois de Jesus e da cruz?

1) Bom, comecemos pela questão da validade da pratica do jejum para os dias da nova aliança. E para auxiliar na compreensão do assunto deixo alguns textos:

Em Marcos 2:18-20, durante uma controvérsia, quando Jesus foi questionado sobre o porquê seus discípulos não jejuavam, enquanto os fariseus jejuavam, ele simplesmente disse que naquela ocasião de sua presença com eles, não havia necessidade do jejum. O jejum teria lugar, sim, no futuro, quando experimentassem a dor de sua ausência. "Nesse dia jejuarão", disse Jesus.

A partir desse texto, Jesus deixou claro que o jejum é sim, uma disciplina cristã necessária para os dias que sucederam a sua morte na cruz. E ele deve ser praticado em momentos de crise, quando se experimenta a ausência de Deus. Deve ser praticado nas ocasiões de tristeza e busca espiritual intensa, marcada por um anelo pela presença de Deus.

Aliás, Jesus mesmo deu o exemplo, na narrativa de Mateus 4, que descreve a ocasião em que ele jejuou no deserto por quarenta dias, no começo de seu ministério. Ali foi ele tentado e saiu vitorioso em razão de sua busca intensa pelo Pai e pela guia do Espírito Santo. Ele sempre se declarou dependente do Pai em todo o seu ministério. Ele venceu o diabo no deserto numa ocasião de jejum e oração. E o evangelho deixa claro que ele deixou esse modelo para nós.

Isso está claro noutra ocasião, relatada em Mateus 17, quando após uma batalha fracassada contra o diabo, que possuía a mente de um garoto, os discípulos viram Jesus se achegar e com uma ordem apenas, expulsar o maligno. Então perguntaram surpresos, porque ele, Jesus, conseguiu realizar o exorcismo, e eles, não. O evangelho afirma a resposta de Jesus: "A essa casta só se expulsa por meio de jejum e oração" (v 21).

Então, concluindo esse primeiro ponto, considerando os textos acima, afirmo que Jesus e a Bíblia autorizam sim, o jejum como necessário nas lutas espirituais e na busca da presença de Deus pelos cristãos.

2) E sobre a validade de uma "convocação"? Podemos convocar pessoas para jejuar e orar? Vamos trazer clareza sobre isso na leitura das Escrituras.

A primeira fonte é o livro do profeta Joel. Numa ocasião de ausência de piedade na nação em seus dias, Joel fez um fervoroso discurso aos governantes e guias espirituais, orientando que se voltassem para Deus. A prática do pecado e da injustiça social haviam afastado a bênção divina de sobre a nação. Então Joel vem e denuncia o pecado do povo e os exorta a se voltarem para Deus.

O curioso é que em seus oráculos ele solicita aos líderes que convoquem a nação para um jejum e para um quebrantamento. O texto em referência se encontra em Joel 2:15,16: "Tocai a trombeta em Sião, promulgai um santo jejum, proclamai uma assembleia solene. Congregai o povo, santificai a congregação, ajuntai os anciãos, reuni os filhinhos e os que mamam; saia o noivo da sua recâmara, e a noiva, do seu aposento."

Alguém pode argumentar que isso era restrito ao povo de Israel em decorrência de sua aliança com Deus. Mas noutra ocasião, a Bíblia abre outra possibilidade ao apresentar a experiência de Jonas, quando foi enviado para pregar em Nínive. Jonas anuncia o juízo iminente de Deus sobre a nação. Ouvindo a pregação de Jonas, o rei promulgou um jejum em sinal de quebrantamento e a ira divina se retirou deles.

A atitude do rei é descrita em Jonas 3:7: "E fez uma proclamação, e a publicou em Nínive, por decreto do rei e dos seus nobres, dizendo: Não provem coisa alguma nem homens, nem animais, nem bois, nem ovelhas; não comam, nem bebam água, mas sejam cobertos de saco, tanto os homens como os animais, e clamem fortemente a Deus; e convertam-se, cada um do seu mau caminho, e da violência que há nas suas mãos." Na sequência, o texto diz que Deus aprovou este ato e abençoou aquele povo. Deus faria diferente hoje? Penso que não.

Então, sobre a segunda questão, a resposta é sim. Pelo que percebemos, há uma abertura para que líderes eclesiásticos e até lideranças políticas seculares convoquem o povo para o jejum e a oração.

3) Mas uma coisa, sobre a qual poucos têm questionado é: Quais as características de um jejum aceitável a fim de que não seja um sacrifício de tolos? Isso precisa ficar claro. E mais uma vez a bíblia responde.

Em primeiro lugar, o jejum não pode ser uma prática a serviço de pretensa santidade. Jesus disse que sua pratica não deveria se tornar uma exibição de sacrifício e ostentação espiritual.

Mateus 6:17 e 18 afirma: "Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto, 18 para não mostrar aos homens que estás jejuando, mas a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará". Assim, na perspectiva de Jesus, o jejum deve ser marcado por humildade, e não por exibicionismo espiritual.

Em segundo lugar o jejum não pode ser um ato de "sacrifício" para aplacar a "ira" de Deus, e sim um ato visível de quebrantamento espiritual diante dele e das potestades do mal para evidenciar um real despojamento da carne e uma sujeição de todas as nossas vontades a Deus para receber dele a benção do discernimento de sua vontade e para obter o seu direcionamento espiritual. É quando a busca física é substituído pela busca espiritual.

Finalmente, o jejum por si só de nada vale se não for acompanhado de conversão. Veja o discernimento do rei de Nínive no texto mencionado. Ele conclamou o povo a jejuar, mas aliado a isso, os desafiou a se converter de suas práticas pecaminosas e de sua violência.

E o texto bíblico diz que Deus viu isso: "Deus viu o que eles fizeram e como abandonaram os seus maus caminhos. Então Deus se arrependeu e não os destruiu como tinha ameaçado" (Jonas 3:10). Ou seja, o jejum não pode ser desacompanhado de uma busca de submissão da vida ao Senhor, de uma mudança de comportamento e de uma abstenção das maldades que nos afastam das bençãos divinas.

Um dos textos que melhor apresentam o assunto é Isaías 58, quando há uma crítica do profeta a um jejum que não era acompanhado de conversão. O povo questionava: "Por que jejuamos’, dizem, ‘e não o viste? Por que nos humilhamos, e não reparaste?" A resposta de Deus foi direta: "Contudo, no dia do seu jejum vocês fazem o que é do agrado de vocês, e exploram os seus empregados [...] Seu jejum termina em discussão e rixa, e em brigas de socos brutais. Vocês não podem jejuar como fazem hoje e esperar que a sua voz seja ouvida no alto" (Isaías 58:3,4).

O texto de Isaías 58:3 é a chamada de Deus para nós tanto como nação quanto como povo da aliança. É para todo aquele que deseja o seu olhar de benção e misericórdia. De que adianta o jejum se os pecados que nos afastam da presença do Deus eterno não são abandonados?

Até mesmo a promessa sempre mencionada de 2Cronicas 7:14 é condicional. Deus diz que apenas quando o seu povo orar e buscar a sua face e se converter dos seus maus caminhos, "então" ele ouvirá dos céus e virá e sarará a terra. A condição divina principal para obtenção de cura para a nação é a conversão dos maus caminhos.

Então concluindo, Deus espera a conversão de nosso coração a ele para que as bênçãos nos alcancem como um povo ou em nossa individualidade. Até que isso aconteça, de nada adiantará o jejum ou o mero ato formal da oração.

Finalizo declarando que o jejum é uma disciplina para nossos dias e que pode ser realizado em resposta a uma convocação. Porém, mais do que para o jejum, o chamado ao arrependimento e para uma vida piedosa é o principal interesse de Deus para nós. Isso sim, é o que nos garantirá a benção e o refrigério da presença do Eterno.

Então, como João no deserto, eu deixo o desafio: Arrependam-se, porque o Reino dos céus está próximo". (Mateus 3:2).

#PensandoNisso, bom dia! Quebrantado, mas com alegria!

Pr Sampaio
DISTRITO DA GRAMA
05/04/2020

Cite a fonte = http://pastorclaudiosampaio.blogspot.com

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