Há músicas que tocam. Outras, nos atravessam. Hoje, senti-me movido a escrever sobre Ennio Morricone — o maestro que não apenas compôs, mas esculpiu sentimentos no ar. Um gênio italiano que revolucionou a música de cinema e deixou sua marca gravada entre os imortais da arte. Não é exagero dizer que seu nome será lembrado ao lado de Beethoven, Mozart, Bach — e outros que, como ele, conversavam com o Eterno.
A arte, em todas as suas formas — como os desenhos e pinturas que tanto admiro — é uma expressão da alma. Um modo de embelezar o mundo e tornar a existência mais suportável. E se falamos de música, é impossível não evocar o nome de Ennio Morricone.
Uma revolução sonora sob o sol do faroeste
Dificilmente alguém que tenha vivido os anos 70 e 80 poderá afirmar que nunca escutou uma trilha composta por Morricone. Seu trabalho foi essencial, principalmente nos Spaghetti Westerns — filmes que, entre tiros e silêncios, carregavam melodias que hoje soam como hinos.
Lembro com ternura: eu tinha cerca de dez anos quando fui com meu irmão a uma matinê no velho Cine Sanguinetti. Antes do filme começar, tocava um disco com trilhas de bangue-bangues italianos. Fiquei fascinado. Encantado com aquilo que não sabia nomear, mas que já me marcava profundamente.
Hoje, décadas depois, ainda escuto essas músicas em minhas viagens. E com alegria descubro que minha filha, também com seus dez anos, se encanta com essas melodias como eu me encantei no passado. Eis aí o verdadeiro poder da arte: atravessar o tempo e continuar dizendo coisas novas ao coração.
O compositor que pintava com sons
Morricone não criava trilhas sonoras — ele compunha paisagens emocionais. Sua música não acompanhava as cenas: ela era parte delas. Quem assistiu Once Upon a Time in the West sabe disso. Aquela melodia triste, quase litúrgica, ao fundo dos olhos grandes e úmidos de Claudia Cardinale sob o sol escaldante do deserto — aquilo é arte pura.
Mas a trilha que jamais me abandonou foi a da Trilogia dos Dólares, especialmente em The Good, The Bad and The Ugly (Três Homens em Conflito). Vi esse filme ainda adolescente, no interior de Minas Gerais. Nunca me esqueci daquele tema inconfundível, que se tornou uma das trilhas mais aclamadas de todos os tempos.
Se você nunca escutou Morricone, comece por aí. Ouça o tema de Once Upon a Time. Seus acordes parecem brotar de corais barrocos de igrejas antigas da Europa. É uma melancolia bela, quase sagrada.
A partida de um velho amigo invisível
Recentemente, o mundo se despediu de Ennio Morricone. Faleceu aos 92 anos — lúcido, criativo, ainda compondo. Seus colegas o viam como alguém afetuoso, querido e fiel à sua vocação.
Nunca o conheci pessoalmente. Nunca o admirei fora de sua arte. Mas ao saber de sua morte, senti como se tivesse perdido um daqueles tios antigos que apareciam às vezes na casa dos meus pais, nas tardes preguiçosas da infância. Morricone sempre esteve ali, comigo — nas estradas, nos silêncios, nos pensamentos.
Ele me inspirou a escrever este texto. Porque me fez pensar: quantos terão a graça de alcançar tamanha excelência em sua vocação? Quantos deixarão uma marca que sobreviva à própria ausência?
Poucos. Muito poucos. Morricone foi um deles. Sua obra hoje respira sozinha — maior até que o nome que a assinou. E isso, meus amigos, é o que chamamos de imortalidade.
Gostou dessa homenagem?
Se Ennio Morricone também marcou a sua vida, compartilhe este texto ou deixe seu comentário abaixo. E se nunca o ouviu, permita-se essa experiência. Basta um tema, uma cena, um acorde — e você entenderá por que o mundo inteiro se calou por um instante quando ele partiu.
Olá amigo Claudio, que belo texto! Como eu era pobre e não tinha tv em casa, os filmes do Velho Oeste eu conheci na casa de pessoas. Da adolescência para a juventude, quando a tv chegou em minha casa, até vi alguns mais. Semelhante a você, tenho o hábito de ouvir um Bang Bang enquanto dirijo. Os meus filhos também se amarram. Especialmente quando viajo para o Espírito Santo, atravessando as paisagens de Minas. Um grande abraço!
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