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A Tipologia Quádrupla de Ian G. Barbour: Quando a Ciência encontra a Religião



A controvérsia entre Ciência e Religião sempre teve como seu epicentro o debate acerca da origem da vida. Muitas dúvidas e desconfianças pairam sobre o tema, desde os primórdios da disputa até a atualidade. Sabe-se que nem sempre se tem uma resposta definitiva para o amplo espectro dos questionamentos.Todavia, o Teólogo e Físico Nuclear Ian G. Barbour, em sua obra Quando a Ciência Encontra a Religião (Cultrix, 2004) propõe com maestria peculiar uma introdução a tema, discutindo diversos tópicos, como: Porque aconteceu o big-bang? Deus cria por meio da evolução? Somos determinados por nossos genes? Deus pode agir em um Universo regido por leis?

I. O autor


Ian G. Barbour é professor emérito de Física Nuclear e Religião no Charleton College em Northfield, Minesota e ganhador do Prêmio Templeton para o Progresso da Religião em 1999, pelo seu papel pioneiro no avanço dos estudos da Religião e Ciência. Pelo fato de ser além de cientista, também um teólogo, participando assim dos dois lados da questão, ninguém melhor que Barbour para se encarregar do desafio que a obra propõe, que é a de apresentar um panorama atual do debate entre essas duas dimensões do estudo da existência humana relacionado ao tema da figura de Deus.

Embora afirme evitar generalizações, Barbour terá seu foco na tradição cristã, no desenvolvimento de seu estudo. Uma ilusão que vem à mente do leitor é a de que o autor se valerá de imparcialidade na apresentação do tema, o que nem sempre ocorre, de fato. O autor é evo-teísta e isso influenciará em muito diversas de suas afirmações. Embora Barbour aparentemente busque em todo o tempo uma aproximação dos pólos, numa tentativa de diálogo e integração, em diversas vezes se percebe a verve do teólogo se dobrando diante da argumentação da dita Ciência. Um exemplo é quando afirma: “Acredito que a ciência criacionista é uma ameaça tanto à liberdade religiosa quanto à liberdade científica” (pag. 31) ou quando desabona o valor da ortodoxia cristã na leitura do relato das Origens em Gênesis, determinando assim a doutrina do big-bang como definitiva e incontestável, nesse campo.

Todavia destaco a força argumentativa do autor, seu amplo conhecimento de campo, a atualidade de sua farta bibliografia, a seleção bem elaborada dos tópicos e sua tentativa (embora falha) de imparcialidade (o autor sempre pende para o evo-teísmo).

II. A Obra


Duas premissas básicas de sua obra expostas logo na Introdução me chamaram a atenção, as quais destaco a seguir:

1. As pesquisas recentes afirmam a presença da Religião no cenário científico

O primeiro item que destaco é a maneira como Barbour busca deixar claro a força da Religião no debate atual. Em sua introdução, o autor noticia os resultados de pesquisas realizadas pelo Instituto Gallup, em 1991, que já naquele tempo concluía o seguinte:

1.a. Pelo menos 45% dos americanos acreditavam que Deus teria criado o homem exatamente igual à de hoje há não mais que dez mil anos atrás, negando assim a doutrina da evolução e o parentesco humano com os grandes símios;

1.b. Outros 40% acreditavam que o homem teria se desenvolvido durante milhões de anos a partir de formas menos desenvolvidas de vida, embora cressem que todo o processo foi conduzido por Deus, misturando assim os paradigmas criacionista e evolucionista em conflito;

1.c. Apenas 10% afirmavam que Deus não teria participado do processo da geração da vida. Barbour também afirma que em países industrializados, como a Grã-Bretanha, por exemplo, o percentual daqueles que interpretavam a Bíblia ao pé da letra e rejeitavam a doutrina da evolução estava cada vez menor, totalizando apenas uma média de 7%.

O resultado dessa última amostragem revela de forma clara que a maioria dos americanos de fato ainda acreditava que a vida de fato tem sua origem em Deus, descartando a teoria da evolução como um paradigma definitivo.

Outra pesquisa realizada pela American Men and Woman of Science, em 1997 e desta vez com grupos de cientistas, apurou que pelo menos 39% do grupo de fato acreditava em um Deus para o qual se poderia rezar na expectativa de se obter alguma resposta. De acordo com Barbour, esses dados eram positivos, tendo em vista que em 1916, outra pesquisa idêntica a essa feita com o mesmo grupo teve praticamente o mesmo resultado: destes, 42% também confirmava sua fé em um Deus presente e ativo na história humana.

Para Barbour, a comparação dessas amostragens têm seu ponto positivo para a Religião, uma vez que elas contrariam de modo claro a uma real manipulação de dados presente na mídia, que busca a todo custo afirmar que as crenças religiosas tinham sofrido uma grande queda entre os cientistas no século XX.

O autor também declara que tem havido também um crescimento nos estudos nessa área. Dados atuais revelam que a média de livros publicados sob o tópico “Ciência e Religião” da Biblioteca do Congresso triplicou de 71 para 211, entre os anos de 1950 e 1990.

Na verdade, o que tudo isso demonstra é que a Religião ainda tem sua presença nos estudos científicos como vigor cada vez mais destacado, contrariando a pichação feita pela mídia secular em torno do tema, quando se refere ao paradigma criacionista.

2. Há pelo menos quatro tipos de estudos no campo da Ciência e Religião

Outro ponto apresentado por Barbour, que merece destaque é sua “tipologia quádrupla”, um esboço taxonômico criado por ele mesmo, mediante o qual busca auxiliar aqueles que procuram uma técnica para a classificação dos diferentes grupos que se dedicam ao estudo da interação entre Ciência e Religião. Embora apresente algumas discordâncias da parte de outros estudiosos como Wentzel van Huyssteen para com sua taxonomia, considerando-a “demasiado genérico e universal”, Barbour se diz confiante de que é possível encontrar exemplos dentro das quatro categorias que ele mesmo propõe. Para ele, essa estrutura tipológica dos que se empenham no debate seria a seguinte:

1. A de conflito: Geralmente essa postura ocorrerá entre os literalistas bíblicos e os ateus. A base do discurso é afirmar que uma pessoa não pode acreditar em Deus e na evolução ao mesmo tempo, embora aja no mesmo grupo, discordância no princípio que admitem. De acordo com Barbour, estes são os mais presentes na mídia e tratam os dois pólos como inimigos.

2. A de Independência: Esse grupo admite que Ciência e Religião, são, de fato, estranhas uma à outra, podendo coexistir, quando se mantém certa distância uma da outra. Em geral, se entende que elas trabalham dois campos diferentes da existência e cumprem papéis diferentes. Enquanto a Ciência lida com fatos objetivos, a Religião lida com valores e com o sentido último da vida. Elas se complementam, desse modo. O problema surge quando uma busca interferir na área que não lhe compete, como por exemplo, quando teólogos fazem afirmações científicas ou quando cientistas extrapolam sua área de especialização e apenas promovem filosofias naturalistas. Esse grupo busca uma compartimentalização a fim de evitar o conflito, embora na opinião de Barbour, o preço seria o impedimento de qualquer interação construtiva.

3. A de diálogo: As formas de diálogo podem assumir termos de comparação entre os métodos das duas áreas, que podem revelar semelhanças, embora tenham diferenças. Desse modo, o diálogo pode surgir em três maneiras:

3.a. Pelas analogias: a imaginação que ocorre em torno de algo que não se pode observar, como Deus e a partícula de átomo;

3.b. Pelas questões-limites: quando uma pergunta estabelece o limite da eficácia da Ciência, tal qual: “por que o Universo é dotado de ordem e inteligibilidade?”;

3.c. Pelos conceitos comuns: isso ocorre quando se empregam os conceitos da Ciência para falar das relações de Deus com o mundo. Desse modo, nesse grupo, tanto teólogos quanto cientistas se engajam nas reflexões embora cada qual respeite o papel e a integridade do outro.

4. A de integração: Esse gênero busca uma parceria entre as duas disciplinas. Isso ocorre quando teólogos buscam na Natureza uma prova (ou indícios) da existência de Deus. Recentemente, astrônomos têm concluído que uma constante da física do Universo revela um ajustamento em sintonia fina e sugerem um planejamento. Se acaso alguma lei física fosse ajustada um segundo depois da origem do Universo (o big-bang?) em uma taxa menor ou maior, a evolução da vida não poderia haver ocorrido. Isso abre margem para a existência de um Projetista inteligente.

Por outro lado, alguns teólogos também buscam reformular suas crenças (como onipotência divina ou pecado original) à luz da Ciência. Esse gênero é definido por Barbour como “teologia da natureza” (inserida na tradição religiosa) para diferenciá-la da “teologia natural” (que raciocina a partir da Ciência, apenas). Dentro desse grupo, também identifica a chamada “filosofia do processo”, que busca estabelecer a Ciência e a Religião dentro de um quadro conceitual comum.

Barbour se posiciona na defensiva quanto aos dois primeiros tipos, e se diz mais simpático para com os itens 3 e 4, posição que doravante, adotará no restante da obra.

III. Conclusão


Embora não concorde com a perspectiva do autor, que busca de modo destacado a busca de integração entre as duas realidades, no que tange à origem da vida, destaco sua obra como indispensável para quem busca um conhecimento geral do amplo espectro do debate atual.

Recomendo. [Claudio Soares Sampaio

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Autor: BARBOUR, Ian G.
Título: Quando a Ciência Encontra a Religião: inimigas, estranhas ou parceiras?
Título original: When Science Meets Religion, 2000.
Traduzido por Paulo Sales.
Editora: Cultrix, 2004.
224 pags.
Preço R$ 31,00

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