Acabo
de ler mais um livro do grande historiador George Knight (n.1). Ele é
mais um daqueles grandes homens de Deus, na mesma linha dos teólogos
David Cox e Russel Burril, cuja preocupação é entender a práxis cristã
para este contexto histórico-profético da Igreja. Em sua obra mais
recente, Knight aborda a problemática da maneira em que a igreja pode se
anular. Uma delas é a supervalorização de nossa mensagem com a perda da
visão evangelística de Jesus e sua mensagem de amor. Um afastamento
dessa verdade nos levaria para a distância de Jesus, mesmo na guarda dos
mandamentos. A excelência da vida cristã segundo Knight é uma vida
mergulhada no amor. Viver fora dessa grandeza divina é fracassar como
cristãos.
Conhecimento
da verdade sem uma santificação dos motivos sempre conduzirá fatalmente
a atitudes erradas. Quando a Igreja se encontra governada pelo amor de
Deus, as novas coisas podem ocorrer. Porém, quando o orgulho espiritual e
as contendas tomam lugar, a Igreja fracassa em seu papel perante o
mundo e perante Deus, e sinais visíveis de apostasia serão detectados.
Podemos ver isso em 1Coríntios. Porem antes de analisarmos a importância
desta carta, conheçamos primeiro, a história e as dificuldades da
comunidade cristã de Corinto.
I. Corinto
Paulo havia chegado em Corinto por volta do ano 54, por ocasião de sua segunda viagem missionária (Cf. Atos 18). A cidade era uma metrópole comercial da Grécia, sendo uma das maiores, mais ricas e mais importantes do Império Romano. De acordo com Halle (n.2), sua população de mais de 400 mil habitantes só era ultrapassada por Roma, Alexandria e Antioquia. Localizava-se em uma encruzilhada de caminhos leste-oeste do império, e devido a isso, abrigava uma população diversificada. Como um homem que sonhava alcançar o mundo todo, Paulo entendeu que se o evangelho fosse aceito ali, certamente alcançaria os lugares mais ermos do império.
Corinto era uma cidade próspera. O grande
mercado, os portos imensos, as ruas pavimentadas, os templos suntuosos:
tudo declarava sua grandeza econômica. Porém, em contraste, a cidade era
famosa pela idolatria, devassidão e licenciosidade moral. De modo
particular, a sexualidade de Corinto estava tão decadente, que naqueles
dias, korintiazomai era um verbo conjugado com sentido de “fornicar” e o
epíteto “moça coríntia” tornou-se um tratamento bem conhecido para
mulheres de reputação duvidosa. Mesmo a religião, que por um lado era
idólatra, se encontrava ligada de modo estreito à imoralidade sexual.
Sobre isso, afirma F. F. Bruce (n.3) que a cidade era um centro do culto
a Diana, (foto) cujo templo coroava o Acrocorinto. Ali, mil prostitutas
cultuais desenvolviam atividade sexual com os adoradores. No sopé da
fortaleza, havia também o templo de Melicarte, patrono dos navegantes. E
por ocasião dos Jogos do Istmo, celebrados ali a cada dois anos, também
Netuno, deus do mar, era especialmente honrado. Com razão, Paulo podia
dizer que Corinto, decerto, homenageava “muitos deuses e muitos
senhores” (1Coríntios 8:5).
Diante disso, palavras como
depravação, devassidão e promiscuidade bem poderiam definir a vida dos
cidadãos de Corinto. Como disse certo autor: se a mensagem da cruz
pudesse fazer efeito na vida do povo coríntio, ela era de fato poderosa!
Paulo
confessa que quando desembarcou no porto de Corinto, se achava “em
fraqueza, temor e grande tremor” (1Coríntios 2:3). Chegava solitário e
ferido pelas decepções e angústias de seu trabalho em Filipos,
Tessalônica, Beréia e principalmente, em Atenas. Mas tendo sido
encorajado à noite por uma visão do Senhor (Atos 18:9-11), iniciou seus
trabalhos, sonhando com uma igreja próspera naquela cidade. Permaneceu
ali dezoito meses, e como todo bom missionário, partiu desejoso de ouvir
boas notícias da igreja recém-fundada. Era sonho de Paulo que a Igreja
modelasse pelo poder de sua influência, a sociedade na qual se
encontrava inserida.
E
aqui está a primeira lição que precisamos aprender: a Igreja só tem sua
relevância quando ela pode de fato operar uma transformação da
sociedade. Quando o mundo não é transformado pela influencia da Igreja,
ela mesma será transformada pela influência do mundo. Devagar, os
modismos, costumes e pecados do mundo se infiltram no Corpo de Jesus. E
foi isso que ocorreu em Corinto. Em lugar da influencia da Igreja
modificar a sociedade depravada de Corinto, essa mesma sociedade começou
a modificar o comportamento da Igreja.
E isso era o
que chegou aos ouvidos de Paulo. Enquanto se encontrava em Éfeso (cf.
1Corintios 16:8-9), necessitou enviar uma carta através de Timóteo aos
fiéis a fim de preveni-los sobre a comunhão com idólatras (1Coríntios
4.17; 5.9). Com o retorno de Timóteo e de um encontro com “os da casa de
Cloe” (1Coríntios 1:11), Paulo teria sido informado dos diversos
problemas que abalavam a comunidade Coríntia. E quando olhamos para os
desvios da igreja de Corinto, percebemos que em verdade a igreja se
encontrava bem longe do ideal de Deus para ela. Isso, por vários
motivos, como Paulo mesmo enumera.
II. Problemas em Corinto
Segundo lemos, havia deploráveis divisões e hostilidades entre os
membros. Alguns se diziam seguidores de Pedro, outros de Apolo, outros
de Paulo e havia ainda os de Cristo. Mas Paulo questiona: estaria Cristo
dividido? Mesmo aqueles que se diziam de Cristo, se acaso se
encontravam divididos, de fato não pertenciam a Ele, pois de modo algum
estaria Cristo dividido (cf. 1Coríntios 1:10-17). Havia também a
presença de imoralidade e incesto. Um membro da igreja se deitava com a
mulher de seu pai, cometendo uma imoralidade detestada até mesmo pelos
descrentes (1Coríntios 5:1ss). No judaísmo, este era um pecado sério, e
mesmo a lei romana, proibia o incesto. Além disso, os membros da igreja
estavam envolvidos em contendas e disputas em tribunais. Esse erro não
era um sinal de evidente desunião, como também de desrespeito para com a
liderança espiritual instituída na igreja (1Coríntios 6:1ss). Paulo
também denuncia que alguns fiéis pareciam não haver compreendido bem a
doutrina cristã acerca da vida de pureza sexual e estavam se envolvendo
com a prática da prostituição (1Coríntios 6:12ss). Não bastasse, havia
glutonaria e exclusivismo na Ceia do Senhor (1Coríntios 11:13ss).
Banquetes nos quais alguns eram honrados e outros, desprezados, chamaram
a atenção de Paulo, que busca reestabelecer as orientações originais
relacionadas ao rito. E finalmente, as reuniões de culto estavam
marcadas por exibicionismo, desordem e irreverência. Alguns dons
espirituais eram superestimados em detrimento de outros, causando o
risco de descrédito na obra da igreja perante os incrédulos (1Coríntios
14:1ss).
Constantemente nos vemos com os mesmos
problemas. Desuniões, críticas e intrigas por vezes abalam a vida da
igreja. Ainda hoje, o espírito de orgulho e disputas parece querer
surgir em nosso meio. Diante disso, o que deveríamos fazer? O que
deveria Paulo fazer? Talvez um duro sermão acerca da moralidade? Talvez
uma reunião para disciplina coletiva? Segundo Thielmam, ao escrever sua
Primeira Carta aos Coríntios, Paulo focaliza três questões críticas: paz
na igreja, santidade no mundo e fidelidade ao evangelho. Contudo, “em
primeiro e mais importante lugar, estava a resolução pacífica a respeito
da desunião na igreja” (n.4). Nessa carta, “Paulo convoca os coríntios a
voltar aos elementos fundamentais do evangelho como meio de
incentivá-los a viver em harmonia” (n.5)
Como disse
certo pregador, às vezes será preciso que a espada corte bem fundo. E
ela às vezes dividirá as juntas e medulas e revelará os intentos
secretos do coração (Hebreus 4.12). A Palavra será em algum momento,
útil para a correção e repreensão (1Timóteo 3.16ss). E nisso devemos
imitar a Paulo. Ele separou os problemas e respondeu a cada um deles de
forma vigorosa e firme, com a Palavra do ensino, da correção e da
repreensão. Como ele, devemos também ser firmes em defesa do que é
correto, ainda que caiam os céus.
Porém, quase sempre,
nosso problema na resolução dos problemas eclesiásticos é que às vezes
somos tão presos ao moralismo que esquecemos de exaltar o princípio. No
entanto, notamos que Paulo deu sérias instruções, mas lembrou-lhes de
sua maior necessidade, que não era outra senão a conquista da unidade; e
para isso, ofereceu-lhes um caminho “sobremodo excelente” (1Corintios
12:31b), que, se seguido, os levaria a superar os diversos erros
presentes no seio da comunidade. Nessa busca de estabelecer um padrão
divino para a conduta dos crentes coríntios, Paulo lhes propôs o caminho
do amor.
III. O Hino do Amor
Embora João seja o discípulo do amor, foi Paulo aquele que compôs
o mais belo poema de amor presente nas Escrituras. Paulo diz: eu
passarei a mostrar-vos um caminho “sobremodo excelente” (1Coríntios
12:31b). Paulo não está aqui afirmando um modo de usar os dons citados
no capítulo 12. Como observa S. Lewis Johnson (n.6), em lugar de caminho
(tropos), no sentido de maneira ou modo, ele se vale de caminho
(hodos), no sentido de estrada a percorrer: “Paulo está, antes,
apontando para um tipo de vida superior à vida gasta na procura e
exibição dos dons espirituais” (n.7).
Quando lemos o
belo poema a seguir (1Coríntios 13), percebemos de fato, a excelência
desse caminho. É excelente não porque era o caminho de Paulo, e sim
porque para todos os efeitos, é o verdadeiro caminho de Cristo. E esse
caminho se fosse seguido pelos crentes no Senhor, seria a resposta
definitiva para todos os problemas das igrejas em todos os tempos e
lugares. A igreja de Corinto especialmente, seria redimida de seus
pecados, na medida em que desenvolvesse a caminhada no caminho do amor.
Quando
lemos 1Coríntios 13, é como se ouvíssemos Paulo dizendo: “há entre
vocês pessoas impacientes? Há homens e mulheres de coração maligno? Há
crentes ciumentos? Há alguém preso ao ufanismo ou orgulho? Há soberbos?
Se há entre vocês essas espécies de intrigas e práticas carnais, então é
porque ainda não aprenderam a andar no caminho da excelência. Não
descobriram o caminho do amor. Porque aquele que ama não é impaciente,
não se conduzirá em ciúme, não será orgulhoso, não se conduzirá de modo
inconveniente, nem será tomado pelo veneno da soberba”.
Paulo
parece dizer que quando nos encontramos em falta diante de Deus e dos
homens, desviando-se de seu caminho de pureza e unidade, há mais que a
quebra de um estatuto legal. De algum modo, o que acontece é a quebra de
um princípio eterno, o princípio que sustenta e mantém em equilíbrio
todas as leis do vasto Universo: o princípio do amor. Segundo ele,
podemos até mesmo ter sabedoria, mas isso não é o princípio fundamental.
Podemos entender as profecias e conhecer todos os mistérios de toda
ciência. Mas também esse não é ponto determinante. Tudo passará. Mas o
fundamento do amor, esse jamais passará: será eterno como o próprio
Deus: “O amor jamais acaba” (1Coríntios 13:8).
IV. Amor versus Conhecimento
Talvez
um dos grandes dramas do cristianismo seja que nos colocamos todos os
dias nos bancos das igrejas como pessoas que são fartas de conhecimento:
entendemos toda a doutrina, sabemos de memória todos os preceitos da
Escritura, mas não somos capazes de dedicar um pouco de nosso tempo para
comunicar um pouco do conhecimento que salva. Não nos movemos ao
encontro dos perdidos. Por outro lado, penso que a maioria das contendas
em nosso meio se deve ao orgulho e independência dos crentes. Às vezes
pensamos que Cristianismo implica em uniformismo e que adventismo
implica em perfeccionismo. Desse modo, não há lugar para os pecadores.
As contendas quase sempre surgem quando colocamos o saber acima do amor,
o fideísmo em lugar da fidelidade e da unidade. De fato, muitos
crentes, após adquirirem muito saber, se tornam mais semelhantes ao
Diabo, tornando-se mais acusadores que auxiliadores de seus irmãos.
Na
verdade, o farisaísmo nunca deu bons frutos. É apenas uma máscara de
santidade para encobrir os mais negros motivos de uma vida interior. Ele
se manifesta de modos diversos. Às vezes, em pais fiéis aos estatutos e
normas que regem a vida de nossa comunidade, mas que ainda não
aprenderam a amar sua família. Por isso, temos famílias feridas, temos
maridos ou esposas mal-amadas, filhos carentes, que ainda sonham com uma
demonstração de amor genuíno da parte dos pais.
Ele
também se manifesta nos crentes eruditos que ocupam os púlpitos de
nossas igrejas, mas que ainda não aprenderam a perdoar e desenvolver a
paciência. Em líderes com corações manchados pela mágoa, pelo ódio e
pelo ciúme. Eu mesmo já li na Bíblia a respeito de um grupo que conhecia
todas as exigências das Escrituras. Aprenderam tudo acerca da Lei, mas
eram fracassados na arte de amar. Apesar de uma busca terrível de
santidade, foram capazes de planejar a morte de Jesus simplesmente
porque o coração estava envenenado pelo mal do ciúme e da inveja. Há por
trás de todo fariseu, um coração orgulhoso e soberbo. Contudo, como
diria Paulo: “Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não
tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não
tiveras recebido?” (1Coríntios 4.7). De fato, o saber jamais foi algo
definitivo para demonstrar a essência de uma vida eclesiástica
equilibrada. “Havendo ciência, passará” (1Coríntios 13.8b).
Paulo
estabelece o caminho da excelência de uma Igreja, como uma caminhada na
longa estrada do amor. Mas como definir o amor? Como realmente
saberemos que o experimentamos?
V. Algumas Verdades Sobre o Amor
Antes de mais nada, devemos entender o pensamento bíblico acerca
do amor. Um engano no qual podemos cair é aquele que estabelece o amor
como apenas um sentimentalismo barato, o romantismo carnal da
modernidade, com sua ênfase na sensualidade e na permissividade. Segundo
Ellen White, é o verdadeiro amor um princípio. Não é sentimentalismo. É
uma decisão de amar que afeta nosso modo de ser e conviver. E esse
princípio, segundo ela, promove o bem, apenas o bem.
“Se
esse amor de origem divina, é princípio permanente no coração, far-se-á
conhecido, não somente aos que consideramos os mais queridos no
relacionamento sagrado, mas a todos aqueles com quem entramos em
contato. Levar-nos-á a prestar pequenos atos de atenção, a fazer
concessões, a praticar atos de bondade, a pronunciar palavras ternas,
verazes e animadoras. Levar-nos-á a simpatizar com aqueles cujo coração
tem fome de simpatia” (n.8).
Na verdade, se no
verdadeiro amor possa incluir sentimentos, de acordo com Paulo, ele
sempre irá para além disso. Segundo Paulo, o amor não é apenas algo
informal, mas performático. Ele não apenas é um conceito que da parte de
Deus se revela a nós, mas uma influência que nos transforma. Se não
transforma, é porque não o encontramos ainda. E se não o encontramos,
não alcançamos o ideal de Deus para Sua Igreja, não somos verdadeiros
discípulos, não experimentamos a redenção de filhos e filhas de Deus,
nem experimentamos o Espírito: “porque o amor de Deus é derramado em
nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado” (Romanos 5.5).
Mas
sendo algo performático, como definir o amor? Penso que além do belo
poema de Paulo, há nas Escrituras excelentes demonstrações daquilo que
de fato é o verdadeiro amor.
1. Em primeiro lugar,
notamos que o amor verdadeiro é um mandamento. Jesus mesmo disse: “isso
vos mando: que vos ameis uns aos outros” (João 15:17). Certa vez
perguntaram a Jesus qual seria o maior mandamento da Lei e Ele deixou
estabelecido que este era o amor: “amarás ao Senhor teu Deus...e a teu
próximo como a ti mesmo” (Mt 22:42). Sendo ordem de Jesus, amar é um
dever e deveria ser praticado como uma obediência ao querer de Deus. Não
é uma questão optativa.
2. Em segundo lugar, notamos
que o amor verdadeiro se revela em atitudes concretas, não
sentimentalismo barato. Em 1Coríntios 13, Paulo enumera ações
específicas para aquele que anda verdadeiramente no amor: é benigno,
paciente, não se ufana, regozija-se com a verdade, etc... E mesmo Deus,
sendo Aquele que mais amou, não ficou apenas em palavras. Sua promessa
se fez carne, sangue e sofrimento. Ele demonstrou que ama ao mundo de
modo prático e foi até as últimas conseqüências. João diz: “porque Deus
amou ao mundo de tal maneira que deu Seu Filho Único” (Jo 3:16). Quando
amarmos de verdade, não apenas diremos “te amo”, mas de fato
demonstraremos isso através de atitudes de sacrifício em favor de quem
amamos. Por isso, às vezes diremos como o personagem Francesco (n.9), do
filme baseado na vida de Francisco de Assis, que às portas da morte,
balbuciava: “meu Deus, como é difícil amar!”. É verdade que nem sempre
será agradável amar. Às vezes o caminho do amor nos pedirá sacrifícios.
Às vezes teremos de amar até mesmo aos nossos inimigos, como ordenou
Jesus (Mateus 5:44). Talvez por isso Jesus nos deixou o amor como um
mandamento: “isso vos mando” (João 15.17). Pois se é verdadeiro, em
favor dEle, Cristo, ofertaremos até mesmo nossa vida. Assim foi com
Jesus, que provou Seu amor amando-nos quando éramos ainda pecadores
(Romanos 5.8). Mas podemos questionar: como poderemos amar com base em
uma ordem, uma injunção? Amor não seria algo marcado pela espontaneidade
e liberdade? Isso nos leva ao próximo ponto.
3. Em
terceiro lugar, o amor verdadeiro é divino, nasce de Deus. Na verdade
não sabemos amar. Nascemos egoístas e maus: “vós, que sois maus” (Lucas
11:13). Porém, Paulo diz em Romanos 5:5 que quando restabelecemos nossa
comunhão com Deus através de Cristo, Seu amor é derramado em nosso
coração pelo Seu Espírito. O que devemos fazer é apenas não impedir sua
força de atuação em nós. Devemos apenas imitar a Deus em Seu trato
conosco: “andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou por
nós”. Isso envolve perdoar como fomos perdoados, servir como fomos
servidos. Isso porque o amor é a própria natureza de Deus. O modelo
sempre será a Divindade: “aquele que não ama não conhece a Deus, pois
Deus é amor” (1Jo 4:8). Não temos nenhuma estrutura para amar. Somente
numa imitação de Cristo e Seu amor, aprendemos aos poucos acerca do amor
e como vivenciá-lo em nossa esfera de relações.
VI. Um Modelo de Igreja
Depois de nossa análise, podemos afirmar que a igreja de Corinto
não era a igreja do sonho de Jesus. Eles estavam longe do ideal de Deus e
fora do caminho da excelência. Talvez nós mesmos nos vejamos longe do
ideal. Mas mesmo eles ainda longe desse ideal, podemos aprender a
desenvolver a vida comunitária baseada no amor.
Surge
para nós um desafio: tornar pela nossa influência, a nossa igreja uma
comunidade do sonho de Cristo. Contribuir para que de fato sejamos uma
comunidade unida e marcada pelo sacrifício pelo bem comum. Porém, um
detalhe é que jamais nenhum amor mundano poderá ser verdadeiro se ele se
coloca acima de nosso amor a Deus. Sem amá-Lo, nosso amor será falho,
mentiroso e doentio. Apenas o amor a Deus trará o equilíbrio à nossa
maneira tosca de amar. Quando amamos a Deus verdadeiramente, podemos
então cumprir o segundo mandamento, que semelhante a este é: ama a teu
próximo como a ti mesmo.
Diante disso, vem a pergunta:
podemos encontrar um exemplo de uma Igreja dos sonhos de Deus? Sim: este
modelo é a comunidade primitiva, a Igreja dos Apóstolos. Em At 2:42-47,
Lucas nos demonstra isso. Os fiéis eram unidos na mesma fé e doutrina
apostólica, no partir do pão e nas orações (v. 42); eles viviam em
reverencia diante de Deus (v. 43); viviam em fraternidade: “todos os que
creram estavam juntos e tinham tudo em comum” (v. 44). E o Senhor dava o
sêlo da aprovação, aumentando-lhes o número: “dia-a-dia
acrescentava-lhes o Senhor dia-a-dia os que iam sendo salvos” (Atos
2:47). Eles possuíam doutrina e unidade. Eles tinham santidade, mas
também, fraternidade. E por isso, Deus agia por meio deles e
acrescentava-lhes mais e mais.
Conclusão
Anos
se passaram e sonhamos uma igreja como Cristo sonhou. Queremos
descobrir a verdadeira essência de nossa vida cristã comunitária. Isso é
possível através de uma vida de amor abnegado, que se traduza em
atitudes, que seja um dever realizado, que nasça de Deus e nos
transforme, que comece com o nosso amor a Deus, primeiramente.
Como
começa? Quero sugerir uma atitude e um modelo. Penso que um exemplo
seria a oração de Gerônimo, um pioneiros da obra adventista no Brasil.
Após sua morte, encontraram uma anotação em sua Bíblia que dizia mais ou
menos assim: “Senhor, reaviva Tua Igreja, a começar, em mim”. E de
fato, quando começar conosco, em nossa casa, essa humilde oração, o
Senhor fará de nossa comunidade uma Igreja conforme seus sonhos. Quando
pedirmos que Deus mude meu cônjuge, mas que comece em mim; que mude meu
filho, mas comece em mim; que mude meu irmão, mas que comece em mim; que
mude minha igreja, mas que comece em mim. Essa deveria ser a oração de
um crente redimido pelo amor de Cristo.
E na busca de um modelo, imitemos a Cristo e à Igreja dos Apóstolos.
________________________________________
Notas de referência
1.
KNIGHT, George. A Visao Apocaliptica e a Neutralização do Adventismo:
estamos apagando a nossa relevancia? São Paulo. Casa, 2010.
2. HALLEY, Henry H. Manual Bíblico: um comentário abreviado da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1986, p. 523.
3. BRUCE, F. F. Paulo, o apóstolo da graça: sua vida, cartas e teologia. São Paulo: Shedd, 2008, p. 242.
4. THIELMAM, Frank. Teologia do Novo Testamento: uma abordagem canônica sintética. São Paulo: Shedd, 2007, p. 330.
5. IBID, p. 332.
6.
JOHNSON, S. Lewis, Jr. 1Coríntios: comentário bíblico Moody do Novo
Testamento. Editado por Everett F. Harrison. São Paulo: Imprensa Batista
Regular, 2001, p. 60-61. In: Biblioteca Teológica vol. 3. 01 CD Room.
7. IBID, p. 61.
8. WHITE, Ellen G. Mente, Caráter e Personalidade, vol. I. Tatuí, SP: Casa, 1989, pp. 160, 161.
9. Francesco: a história de São Francisco de Assis. Itália. Distribuído no Brasil por Versátil, 1989. 01 DVD.
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