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O Dia do Senhor em Apocalipse 1.10: Qual o sentido de küriakê heméra no contexto mais amplo?


Sobre as palavras küriakê heméra (=lit. dia do Senhor) contidas em Ap 1:10 foram feitos vários intentos para explicar seu sentido. A dificuldade é que estes termos só aparecem aqui, em todas as Escrituras. Estudiosos se dividem diante do texto e entendem que este poderia se referir a pelo menos cinco idéias, sendo que quatro delas conflitam com a proposta de que o texto faz referencia ao dia do descanso sabatico, sétimo dia dos dez mandamentos: o dia do juízo, o dia domingo, o dia do culto imperial e domingo de Páscoa. Algumas Bíblias chegam a traduzir o texto "no dia do Senhor" como sendo "no domingo" para o tempo da visão, rejeitando a proposta de que se refere ao dia do descanso sabático.


O dia do Juízo

1. Alguns intérpretes a fazem equivaler com "o dia do Jehová", dos profetas do AT (Joel 2: 11, 31; Sof. 1: 14; Mal. 4: 5; cf. Atos 2: 20). Pode conceder-se que estas palavras poderiam ter tal interpretação se forem tomadas isoladamente. Os que assim as explicam, destacam que o Apocalipse centraliza a atenção no grande dia final do Senhor e nos acontecimentos que conduzem a ele (ver Apoc. 1: 1). Estar "no Espírito no dia do Senhor" possivelmente pudesse entender-se como que significa ser arrebatado em visão através do tempo para presenciar acontecimentos relacionados com o dia do Senhor.

Entretanto, há razões para rechaçar esta interpretação. Em primeiro lugar, quando a frase "dia do Senhor" claramente designa o grande dia de Deus, o texto grego sempre diz hêméra tou küríou ou hêméra küriou (1 Cor. 5: 5; 2 Cor. 1: 14; 1 Tessal. 5: 2; 2 Ped. 3: 10). Em segundo lugar, o contexto (Apoc. 1: 9-10) sugere que o "dia do Senhor" refere-se ao tempo quando João contemplou a visão e não ao tema da visão. De modo que João dá: a) sua localização: "a ilha chamada Patmos" (v. 9); b) a razão pela qual está ali: "por causa das palavras de Deus" (vers. 9), e c) seu estado durante a visão: "no Espírito". Todas estas frases têm que ver com as circunstâncias em as quais foi dada a visão, e é lógico concluir que a quarta também coincide ao dar d) o tempo específico da revelação: “no dia do Senhor”. Um grande número de expositores apóiam esta conclusão.

O dia Domingo

2. Embora a expressão kuriakê heméra seja única na Escritura, tem uma larga historia no grego pós-bíblico. Como forma abreviada, kuriakê é um termo comum nos escritos dos pais da igreja para designar ao primeiro dia da semana, e no grego moderno kuriaké é o nome do domingo. Seu equivalente latino a Dominica dies designa o mesmo dia, e passou a vários idiomas modernos como domingo, e em francês como dimanche. Por isso muitos eruditos sustentam que kuriakê hêméra nesta passagem também se refere ao domingo, e que João não só recebeu sua visão neste dia, mas também também o reconheceu como "o dia do Senhor" possivelmente porque nesse dia Cristo ressuscitou dos mortos.

Há razões negativas e positivas para rechaçar esta interpretação. Primeiro, tratemos do aspecto negativo, ou seja, o que ele não poderia significar. Em primeiro lugar está o reconhecido princípio do método histórico. Quer dizer que uma alusão deve ser interpretada somente por meio de evidências anteriores a ela ou contemporâneas a ela, e não por dados históricos de um período posterior. Este princípio tem muita importância no problema do significado da expressão "dia do Senhor" tal como aparece nesta passagem.

Embora este termo seja freqüente nos Pais da igreja para indicar o domingo, a primeira evidência decisiva de tal uso não aparece a não ser até fins do século II no livro apócrifo Evangelho Segundo Pedro (9, 12), onde o dia da ressurreição de Cristo se denomina "dia do Senhor". Como este documento foi escrito pelo menos três quartos de século depois que João escreveu o Apocalipse, não pode apresentar-se como uma prova de que a frase "dia do Senhor" no tempo de João se referia ao domingo. Poderiam citar-se numerosos exemplos para mostrar a rapidez com que as palavras podem trocar de significado. Portanto, o significado de "dia do Senhor" determina-se melhor neste caso recorrendo às Escrituras antes que à literatura posterior.

Quanto ao aspecto positivo desta questão, ou o que ele poderia de fato significar, está o fato de que embora a Escritura em nenhuma parte indica que no domingo tem alguma relação religiosa com o Senhor, repetidas vezes reconhece que o sétimo dia, o sábado, é o dia especial do Senhor. Nos diz que Deus abençoou e santificou o sétimo dia (Gên. 2: 3); constituiu-o como memorial de sua obra de criação (Exo. 20: 11); chamou-o especificamente "meu dia santo" (Isa. 58: 13); e Jesus proclamou-se como "Senhor também do dia de repouso [sábado]" (Mar. 2: 28), no sentido de que como Senhor dos homens era também Senhor do que foi feito para o homem: o sábado do sétimo dia. De maneira que quando se interpreta a frase "dia do Senhor" de acordo com provas anteriores e contemporâneas   do tempo de João, conclui-se que há só um dia ao qual pode referir-se, e esse é o sábado, o sétimo dia.


Dia do Culto Imperial

3. Os descobrimentos arqueológicos projetaram mais luz sobre a expressão küriakê heméra. Papiros e inscrições do período imperial da história romana, achados no Egito e Ásia Menor, empregam a palavra küriakós (o masculino de küriak') para referir-se à tesouraria e ao serviço imperial. 

Isto é compreensível, pois o imperador romano frequentemente era chamado em grego o kürios, "senhor", e por conseguinte sua tesouraria e serviço eram a "tesouraria do senhor" e "o serviço do senhor". Portanto kuriakós era uma palavra familiar no idioma oficial romano para as coisas relacionadas com o imperador. Uma dessas inscrições procede de uma época tão antiga como o é o ano 68 d. C. De maneira que é claro que este uso de kuriakós era corrente no tempo de João (ver Adolf Deissmann, Light From the Ancient East, pp. 357-361). Nesta mesma inscrição mencionada, aparece uma referência a um dia ao que lhe deu o nome da imperatriz Julia, ou Livia como é melhor conhecida.

Em outras inscrições do Egito e da Ásia Menor aparece com freqüência o termo sebast', o equivalente grego do Augustus, como nome de um dia. Sem estas dúvida são referências a dias especiais em honra do imperador (ver Deissmann, opt. cit.). Alguns sugeriram que a expressão küriakê heméra, como a usa Juan, também se refere a um dia imperial; mas isto parece duvidoso por duas razões. Primeiro: embora havia dias imperiais e o termo küriakós usava-se para outras coisas relativas ao imperador, ainda não se encontrou nenhum caso em que küriakê aplicou-se a um dia imperial. Isto, por suposto, não é uma prova final, porque é um argumento apoiado no silêncio.

Mas o segundo argumento que pode esgrimir-se contra a identificação de küriakê heméra do João com um dia imperial, parece ser conclusivo: sabe-se que tanto os judeus do século I (ver Josefo, Guerra vII. 101), como os cristãos, pelo menos no século II (ver Martírio do Policarpo 8), se negaram a chamar o César kürios, "senhor". Portanto, chega a ser extremamente difícil pensar que João se referiu a um dia imperial como o "dia do Senhor", especialmente em um tempo quando ele e seus irmãos cristãos eram terrivelmente perseguidos por negar-se a adorar ao imperador. É mais provável que Juan escolhesse a expressão küriakê hêméra para referir-se ao sábado, como um meio sutil de proclamar o fato de que assim como o imperador tinha dias especiais dedicados em sua honra, assim também o Senhor de João, por amor de quem agora sofria, também tinha seu dia especial.


Domingo de Páscoa 

4. Alguns estudiosos sugeriram que küriakê heméra deve entender-se como "domingo de páscoa". Esta frase se usou posteriormente para designar à festa anual que recordava a ressurreição de Jesus. Entretanto, esta explicação não necessariamente se aplica ao século I. Portanto, não serve para esclarecer esta passagem. 


Conclusão Possível 

À luz do exposto, e voltando ao ponto inicial, a conclusão mais acertada então parece ser a de que este termo se aplica ao sábado do sétimo dia.

Fonte: Este texto é uma adaptação livre do Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia em espanhol, editado por Franck D. Nicholl, Tomo 9, pp. 752-753.

http://pastorclaudiosampaio.blogspot.com

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