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Ellen G. White e as Escrituras na Teologia Adventista: Referências


(Obs: texto atualizado em 12/12/2014)

Os adventistas do sétimo dia crêem que apenas a Bíblia é a “Palavra de Deus” dada à Igreja e que Jesus Cristo, o Filho de Deus é a Sua suprema revelação para o mundo caído. O primeiro parágrafo da  Declaração de Crenças Fundamentais votada pela Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) em Dallas, no ano de 1980 afirma que:
“As Escrituras Sagradas, o Antigo e o Novo Testamento, são a Palavra de Deus escrita, dada por inspiração divina por intermédio de santos homens de Deus que falaram e escreveram ao serem movidos pelo Espírito Santo. Nesta Palavra, Deus transmitiu ao homem o conhecimento necessário para a salvação. As Escrituras Sagradas são a infalível revelação de Sua vontade. Constituem o padrão de caráter, o prova da experiência, o autorizado revelador de doutrinas, e o registro fidedigno dos atos de Deus na História. Encontramos apoio para esta afirmação nas seguintes passagens bíblicas: II Ped. 1:20,21; II Tim. 3:16,17; Sal. 119:105; Prov. 30:5,6; Isa. 8:20; João 17:17; I Tess. 2:13; Heb. 4:12.”
Os adventistas também crêem que Deus deu dons específicos para sua Igreja, incluindo o dom profético, como revelam os textos de 1Co 12:28 e 14:1-3. Sobre a atualidade deste dom, são recorrentes os textos de Ap 12:17 e 19:10, onde se afirma que o Espírito de Profecia será um dos dons presentes na igreja da profecia bíblica. Dessa forma, a IASD crê que esse dom se manifestou na pessoa da jovem Ellen White, uma das pioneiras do movimento.

Todavia, a IASD não crê que os escritos de Ellen White sejam substitutos para a Bíblia ou uma “norma de fé” para a igreja. Eles são autorizados para os seus membros por cumprirem um papel profético e orientador para a igreja, afirmando apenas o papel das Escrituras como o Cânon oficial para medir a experiência dos crentes. O uso do material de Ellen White objetiva conduzir a igreja a uma maior compreensão de temas bíblicos e um aprofundamento na doutrina, o que é possível pela revelação profética. Ela, de fato se torna mais que uma profetisa - acima de tudo, ela é uma “mensageira do Senhor” para o povo remanesceste.

Apesar da possibilidade do mau uso (ou uso equivocado) tanto da Bíblia quanto dos escritos de Ellen White por parte de alguns de seus membros, sempre foi uma busca da IASD demonstrar de forma oficial a maneira equilibrada de ler tanto um quanto o outro. Em Congressos como o de 1919, diante do Liberalismo e Fundamentalismo teológico que se desenvolviam a passos largos ou mesmo em documentos produzidos depois de uma crise interna na década de 1970, a IASD sempre manteve o equilíbrio de não pender para nenhum radicalismo extremo, no que concerne a leitura das Escrituras ou dos escritos de Ellen White. Há documentos e obras sempre atuais sobre estes pontos. Nessa oportunidade gostaria de indicar algumas referências sobre o tema.

Sobre a leitura da Bíblia, de modo específico, recomendo o excelente livro editado por REID, George R. “Compreendendo as Escrituras” (UNASPRESS, 2007). Este livro tem a contribuição de renomados teólogos da IASD, alguns deles, membros do Biblical Research Institute (Instituto de Pesquisa Bíblica). Após um apanhado histórico dos modos de interpretação das Escrituras na história da igreja cristã, avança para a compreensão adventista, definindo uma proposta para cada grupo de escritos, como literatura profética, poesia, evangelhos, etc. A obra tem dezessete capítulos mais dois apêndices, sendo que em sua metade se dedica a discutir as questões envolvendo Revelação/Inspiração. Ao fim do livro (Apêndice B), há um excelente artigo produzido por RODRIGUEZ, Angel M. sobre uma proposta emergente no seio da igreja, que ele denomina leitura histórico-crítica modificada das Escrituras, mas pelo que se apresenta, é ainda uma forma marginal e ainda rejeitada. George Reid era membro do Biblical Research Institute quando organizou a obra citada.


Outro material pode ser aquele publicado por CANALE, Fernando, “O Princípio Cognitivo da Teologia Cristã”(UNASPRESS, 2011), no qual o autor aborda a problemática envolvendo as tentativas Clássicas, Liberais e Evangélicas de ler as Escrituras, denunciando ao mesmo tempo, seu fracasso, em decorrência da influência grega sobre sua visão de mundo (dualismo) e da atemporalidade de Deus. Com base na hermenêutica pós-moderna especificamente de Hans G. Gadamar, Canale desenvolve uma desconstrução das propostas clássicas, liberais e evangélicas e propõe um principio hermenêutico definido como "cognitivo" para a leitura das Escrituras, o que se adequaria bem ao modo sustentado pela IASD, que sempre buscou um meio-termo entre o Fundamentalismo e Liberalismo teológicos, sem pender para nenhum dos dois lados. Fernando Canale é teólogo argentino e renomado Professor de Andrews e traz uma visão não apenas atual, mas revolucionária que tem causado impacto no meio acadêmico de forma geral.

Sobre Ellen White, vale a pena conferir o livro de FAGAL, William, “101 Questões Sobre Ellen White e Seus Escritos” (CASA, 2013), no qual lista diversas questões em relação à visão de Ellen White sobre diversos temas bíblicos e eclesiásticos. As perguntas são originalmente retiradas do site do White State, e não foram, de início, escritas com finalidade de livro. Resultaram nisso pela praticidade da abordagem e por fornecer um modelo equilibrado de como ler Ellen White. A obra se divide em oito partes e logo no começo, se propõe a responder questões que envolvem o tema Ellen White e sua inspiração, demonstrando a forma equilibrada de Ellen White ver não apenas seus escritos, como também seu ministério profético. Na ocasião em que escreveu o livro, o autor era um dos componentes do Ellen White State, após servir como diretor da filial do White State na Universidade Andrews.



Outro excelente material é aquele publicado por STENCEL, Renato (Organizador), “Espírito de Profecia”: Orientações para a igreja remanescente (UNASPRESS, 2012). Nele, há uma série de materiais publicados por teólogos respeitados e especialistas da área, como Alberto Timm, Roger Coon, Jerry Moon e outros, que abordam desde a visão adventista acerca da Inspiração, passando pela relação entre Ellen White e os autores bíblicos até as provas de autenticidade de seu dom profético. Pela variedade de autores, a obra é bem recomendada, pois oferece visões diversificadas sob muitos olhares e não apenas de um erudito apenas. O Organizador da obra, Renato Stencel é Professor de Teologia no Seminário Adventista Latino-americano de Teologia (SALT) Campus Engenheiro Coelho, São Paulo, e diretor do Centro White nesta instituição.

A obra de Stencel parece ter sido inspirada no acervo compilado por COON, Roger, “Assuntos Contemporâneos em Orientação Profética” (Centro de Pesquisa Ellen G. White, 1988). Esse material foi por muitos anos, a melhor obra de referência no Brasil sobre a temática da Inspiração relacionada à pessoa e obra de Ellen White. A coletânea trazia uma antologia de quarenta e quatro artigos e monografias publicadas na Adventist Review e na Ministry, sendo que alguns materiais ocuparam diversos números dos periódicos, dada a sua extensão. Há uma busca de “ver” Ellen White em uma perspectiva abrangente, desde o contexto bíblico, literário até seu contexto histórico, as dificuldades de sua leitura, sua relação com seu tempo e outros, o que tornou essa obra uma poderosa ferramenta de pesquisas para estudantes e líderes de Igreja de forma geral. Teve edição limitada e é uma obra rara, atualmente. Coon era respeitado no meio acadêmico. Foi Diretor associado do Biblical Research Institute entre 1981 a 1993 e teve artigos publicados em 12 línguas. Na ocasião de sua publicação, o Reitor do SALT era o Pr. Enrique Becerra, que percebia uma carência de materiais adequados para a preparação de aulas nos Seminários.



Talvez a obra de Coon tenha sido superada apenas pela de DOUGLASS, Herbert E., “Mensageira do Senhor” (CASA, 2001). Esta obra possui oito seções, e como devia de ser, se inicia com uma avaliação do sistema divino de comunicação, esboçando a relação entre a revelação profética nas Escrituras e o ministério profético de Ellen White. Alem disso, há uma busca de resgatar mais que a profetisa, mas a pessoa de Ellen White, que pode muito bem ter se perdido no mito. E nisso a obra de Douglass se torna insuperável. Pois penso que uma de suas premissas é que para se entender a profetisa é preciso compreender a mulher Ellen White retratada de forma surpreendentemente humana em diverssos momentos da obra. Na ótica de Douglass, Ellen White é uma mulher tipicamente americana que viveu dentro de um contexto específico e experienciou conflitos e situações diversas que moldaram sua personalidade e ministério e que serão influenciadores de toda a sua obra. Destaca-se a seção VI, na qual o autor apresenta diversas regras de como ler os escritos de Ellen White, abordando inclusive as diretrizes do Congresso Bíblico de 1919.

Sobre regras e princípios hermenêuticos, também consta a publicação de um dos maiores eruditos adventistas, KNIGHT, Georg, "Reading Ellen White: How to Understand and Apply her Writings" (Review and Herald, 1997). Essa obra não foi publicada no Brasil, porém há uma tradução em português a partir de uma edição em francês disponível em Ebook (aqui). Neste volume, depois de introduzir o tema com um apanhado de como a autora se relacionava com a Bíblia, Knight aborda quatorze princípios hermenêuticos sobre a maneira de ler os escritos de Ellen White. Apesar de ser bem específico, Knight afirma que o livro é apenas uma introdução, sendo parte de uma série de outros volumes publicados anteriormente sobre o tema. Na ocasião de sua escrita, o autor era um catedrático de Andrews, lecionando História da Igreja.

Além dessas obras, gostaria de indicar as declarações da IASD para a leitura da Bíblia e dos Escritos de Ellen White. Essas declarações surgem depois da crise interna levantada por Desmond Ford, que além de levantar certas dificuldades doutrinárias envolvendo temas proféticos, acusava Ellen White de ser um empecilho na teologia da Igreja, afirmando que sua utilidade final era apenas pastoral. Um Comitê had hoc de investigação bíblica foi organizado (o DARCOM), que publicou o resultado de suas pesquisas exegéticas em uma série de sete volumes, editada por HOLBROOK, Frank B. Desse Comitê e de outros estudos uma declaração foi publicada, depois foi aperfeiçoada logo após a declaração de Crenças Fundamentais da IASD em Dallas, 1980, tudo isso depois da resolução do caso Ford.

O parágrafo dezessete da Declaração de Crenças Fundamentais, votada em Dallas, em 1980, sob o título "O Espírito de Profecia" se encontra transcrito abaixo:
Um dos dons do Espírito Santo é a profecia. Este dom é uma característica da Igreja remanescente e foi manifestado no ministério de Ellen G. White. Como a mensageira do Senhor, seus escritos são uma contínua e autorizada fonte de verdade e proporcionam conforto, orientação, instrução e correção à Igreja. Eles também tornam claro que a Bíblia é a norma pela qual deve ser aprovado todo ensino e experiência. Encontramos apoio para esta afirmação nas seguintes passagens bíblicas: Joel 2:28,29; Atos 2:14-21; Hebreus 1:1-3; Apocalipse 12:17; Apocalipse 19:10.
Como citado acima, também há o material abaixo, que se encontra publicado no Biblical Research Institute, após a série de modificações sugeridas de um material original publicado em 1982. O material pode ser acessado no site do Centro de Pesquisas White. Trata-se do resultado da declaração do Comitê designado para este fim, e é composto de afirmações e negações. Estas afirmações e negações visam trazer maior esclarecimento sobre as questões que têm sido levantadas a respeito da inspiração e autoridade dos escritos de Ellen White e sua relação com a Bíblia. Porém, estes esclarecimentos devem ser vistos como um todo, e não de forma parcial. Eles são uma tentativa de expressar o entendimento atual dos adventistas do sétimo dia sobre o dom profético em Ellen White. Outro ponto, é que eles não devem ser interpretados como um substituto das duas declarações doutrinárias citadas acima, nem como sendo parte delas.
Afirmações
01. Acreditamos que a Escritura é a palavra divinamente revelada de Deus e é inspirada pelo Espírito Santo.
02. Acreditamos que o cânon da Escritura é composto somente dos sessenta e seis livros do Antigo e Novo Testamentos.
03. Acreditamos que a Escritura é a base da fé e a autoridade final em todos os assuntos de doutrina e prática.
04. Acreditamos que a Escritura é a Palavra de Deus em linguagem humana.
05. Acreditamos que a Escritura revela que o dom de profecia será manifestado na igreja cristã após o período do Novo Testamento.
06. Acreditamos que o ministério e os escritos de Ellen White foram uma manifestação do dom de profecia.
07. Acreditamos que Ellen White foi inspirada pelo Espírito Santo e que seus escritos, frutos dessa inspiração, são aplicáveis e autoritativos, especialmente para os adventistas do sétimo dia.
08. Acreditamos que os propósitos dos escritos de Ellen White incluem orientação na compreensão dos ensinos das Escrituras e na aplicação destes ensinos, com urgência profética, para a vida espiritual e moral.
09. Acreditamos que a aceitação do dom profético de Ellen White é importante para a nutrição espiritual e a unidade da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
10. Acreditamos que o uso que Ellen White fez de fontes e assistentes literários encontra paralelo em alguns dos escritos da Bíblia.
Negações
01. Não acreditamos que a qualidade ou grau de inspiração nos escritos de Ellen White seja diferente do da Escritura.
02. Não acreditamos que os escritos de Ellen White sejam um acréscimo ao cânon da Escritura Sagrada.
03. Não acreditamos que os escritos de Ellen White funcionem como o fundamento e a autoridade final da fé cristã, como a Bíblia funciona.
04. Não acreditamos que os escritos de Ellen White possam ser usados como a base da doutrina.
05. Não acreditamos que o estudo dos escritos de Ellen White possa ser usado para substituir o estudo das Escrituras Sagradas.
06. Não acreditamos que a Escritura possa ser compreendida somente através dos escritos de Ellen White.
07. Não acreditamos que os escritos de Ellen White esgotem o significado das Escrituras.
08. Não acreditamos que os escritos de Ellen White sejam essenciais para a proclamação das verdades das Escrituras para a sociedade como um todo.
09. Não acreditamos que os escritos de Ellen White sejam o produto de mera piedade cristã.
10. Não acreditamos que o uso de fontes e assistentes literários por parte de Ellen White negue a inspiração de seus escritos.
Portanto, concluímos que o correto entendimento da inspiração e autoridade dos escritos de Ellen White evitará dois extremos: (1) considerar que estes escritos funcionem no mesmo nível canônico das Escrituras, ou (2) considerá-los como uma literatura cristã comum.
Fonte: Extraído da Adventist Review, de 23 de dezembro de 1982. “A inspiração e autoridade dos escritos de Ellen G. White” Publicado pelo Biblical Research Institute da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia.
Com base no acima, e nas obras indicadas, a IASD tem buscado demonstrar de forma cada vez mais clara a sua compreensão de que apenas a Bíblia e a "Bíblia só" é a norma da igreja, e por outro lado, respeitar o valor espiritual e profético dos escritos de Ellen White. Tomados em seu devido lugar, estes escritos são fonte de luz e aprendizado para a Igreja, fortalecendo a sua fé nas Escrituras. - [Claudio Soares Sampaio].

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